Na reta final, onda vermelha toma ruas e redes em apoio à candidatura Lula

Artistas, empresários, celebridades, esportistas e ex-ministros aderem ao voto útil e declaram voto em Lula
Onda vermelha toma conta de artistas, empresários, celebridades, e ex-ministro, que aderem ao voto útil e declaram voto em Lula. Foto/Reprodução
Onda vermelha toma conta de artistas, empresários, celebridades, e ex-ministro, que aderem ao voto útil e declaram voto em Lula. Foto/Reprodução

Desde o domingo 25 de setembro, está todo mundo com saudades do tempo de Lula – até mesmo quem fez o possível e até tentou o impossível para dar o golpe na presidenta Dilma, ajudou a criminalizar o PT, contribuiu para que Lula fosse perseguido, preso por 580 dias e poucas semanas atrás ainda rezava para que uma terceira via, qualquer uma, decolasse. Só hoje, quarta-feira (28 de setembro), o ex-ministro do STF Celso de Mello, a apresentadora Angélica Huck e a atriz Paolla de Oliveira entraram na onda vermelha.

Na segunda-feira, dia 16, um grande ato de artistas e influencers Lula ajudou a empurrar a onda vermelha. Antes mesmo de o ato ser transmitido pelas redes sociais, o ator norte-americano Mark Ruffalo publicou um tuíte em que convoca seus 8,2 milhões de seguidores a assistir à live: “Hoje, humildemente acrescento minha voz para alertar para as consequências globais da eleição brasileira. Você pode assistir minha mensagem e, mais importante, as palavras de muitos bravos defensores brasileiros da democracia e do planeta na transmissão ao vivo de hoje. Lula falará em breve!” Conhecido por personificar o super-herói Hulk nos filmes da franquia Marvel, Ruffalo mandou um vídeo de apoio que foi exibido no ato.

O cantor Roger Waters e o ator Danny Glover também enviaram vídeos de apoio exibidos na segunda-feira. No front nacional, os vídeos de apoio de artistas como o ex-cirista Caetano Veloso e o rapper Emicida e os cantores Gilberto Gil e Chico César animaram o ato, que ainda teve apresentações ao vivo de Daniela Mercury. Desde que Anitta declarou voto em Lula, artistas dos mais variados estilos e linguagens tem vindo à público em seus shows, peças de teatro ou estréias de filmes para aderir à campanha do candidatos do PT, inclusive ex-ciristas como Caetano Veloso e Tico Santa Cruz. Influencers das redes sociais como Felipe Neto e o ator e comediante Fábio Porchat também se manifestaram a favor de Lula.

No encontro com o esporte na terça-feira (dia 27), a chapa Lula e Alckmin recebeu apoios presenciais de atletas como Joanna Maranhão (natação), Ana Moser e Isabel Salgado (vôlei). Por vídeo, manifestaram-se Carol Solberg (vôlei de praia), por vídeo, e ex-atletas do futebol, como Juninho Pernambucano, Raí e Bobô. também mandaram vídeos em apoio a Lula. Representantes das torcidas organizadas de cunho progressista, Camisa 12 e Gaviões da Fiel, do Corinthians, a Porcomunas, do Palmeiras, o coletivo Tricolor Antifa, do São Paulo, estiveram presentes, assim como técnicos e dirigentes: Vanderlei Luxemburgo, André Henning e Luiz Gonzaga Belluzzo.

Na mesma terça-feira, foi lançada uma Carta dos Economistas assinada pelo ex-diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) Otaviano Canuto e a ex-diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP) Joana Monteiro, além de André Lara Resende, um dos idealizadores do Plano Real, e Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central no governo Lula e ex-ministro da Fazenda na gestão de Michel Temer. Também são signtários pesquisadores e professores de institutos e faculdades de economia como Fundação Getúlio Vargas (FGV), Universidade de São Paulo (USP), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), além de instituições estrangeiras como University of Cambridge, Yale e London School of Economics.

Quer mais apoios? Pois teve mais. Evento com nomes da “sociedade civil” reuniu cinco ex-ministros de governos do governo de FHC (PSDB) como Aloysio Nunes Ferreira, José Carlos Dias, Claudia Costin, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Paulo Sérgio Pinheiro e ex-secretário estaduais de governos do PSDB: Fábio Feldmann, Silvio Torres, Floriano Pesaro, Marcos Vinicus Petreluzzi, Gabriel Chalita e Alexandre Schneider, entre outros. Além da presença de Geraldo Alckmin como vice, na semana passada, o sociólogo e diretor do Instituto FHC Sérgio Fausto declarou publicamente seu apoio a Lula. O próprio FHC no dia seguinte divulgou notas em suas redes sociais que não mencionava diretamente o nome de Lula, mas falava da importância de votar em um projeto de reconstrução do país.

Enquanto colunistas dos jornalões especulavam para que lado do muro o sociólogo e ex-presidente cairia, já estava dada a senha para que outros PSDBistas históricos como os advogados José Carlos Dias e José Gregori, ambos ex-ministros da Justiça do governo FHC, também entrarem na campanha do voto útil ainda no primeiro turno.

Nesta última terça, dois irmãos do candidato do PDT Ciro Gomes, Cid Gomes e Ivo Gomes – ambos também do PDT – avisaram que ali no Ceará eles também são 13, depois de entrarem na campanha ao Senado do ex-governador Camilo Santana, do PT. A reação de Ciro Gomes, que anda numa escalada de declarações cada vez mais reacionárias e antipetistas, foi dramática: ele classificou o apoio dos irmãos como uma “facada poderosa nas costas”. Antes, o PSDB de Goiás, em decisão que contraria a orientação do partido no âmbito federal (o PSDB está coligado com MDB), havia também avisado que ia recomendar voto em Lula já no primeiro turno.

Até nas hostes bolsonaristas há defecções – explícitas ou ainda enrustidas. Em jantar com empresários do Grupo Esfera Brasil na casa do fundador do grupo em, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes, o empresário Abílio Diniz, da Península, Benjamin Steinbruch, da CSN, e Flávio Rocha, da Riachuelo, Michael Klein, das Casas Bahia, Marta Cachola, do BTG Pactual, Rubens Ometto, da Raízen e até o dono da plataforma de extrema direita Brasil Paralelo, Henrique Viana. Pragmáticos, mesmo os bolsonaristas ainda não arrependidos, sabem que seu candidato será derrotado nas eleições em outubro e querem abrir um canal de conversa com o provável futuro presidente.

A frente, enfim, ampla

Esse movimento combina uma campanha de voto útil para ajudar a decidir o voto de cerca 22 milhões eleitores considerados “voláteis” pelo Datafolha, estimativa que considera eleitores que declararam intenção de voto nos terceiro e no quarto colocados, mas podem mudar, os ainda indecisos e uma projeção de comparecimento (baseada nos números de 2018) para apressar a decisão para o primeiro turno, mas também plasma todo o trabalho de costura política que Lula e o Partido dos Trabalhadores vem fazendo com método e minúcia desde a pré-campanha.

É também um balde de água fria em muitos analistas políticos da mídia corporativa e da academia que já eram críticos ao governo Bolsonaro e alertavam para a necessidade de uma espécie de frente ampla para recuperar a democracia e derrotar o fascismo, mas em muitos casos não apenas duvidavam da capacidade ou da vontade política de Lula para construir essa frente, como, em muitos casos, rejeitavam até com uma espécie de repugnância a possibilidade de que o candidato do Partido do Trabalhadores de liderar esse movimento. Ora era uma ideia fundada apenas nas vozes em suas cabeças de que o antipetismo seguiria idêntico e quiçá até mais forte do que em 2018, ora fazia-se uma leitura de que o Lula até que conseguiria, mas as tendências mais à esquerda do partido ou “os radicais do PT” não aceitariam a noção de juntar forças diferentes por um objetivo comum. Em comum nessas análises,um desconhecimento profundo, por ignorância ou má-fé, tanto do que se passa nos processo internos do PT como do que o próprio Lula vinha elaborando em lives e entrevistas.

E, aqui vai um palpite pessoal, até havia alguns que, com um misto de admiração e pânico, confiavam tanto em Lula para lograr esse intento que preferiam que ele desistisse para não emergir desse processo ainda mais forte – ainda por cima se, depois de tudo isso, saísse vitorioso nas eleições, como as pesquisas de intenção de voto tem apontado. Em qualquer das três hipóteses, erraram tão redondamente que estão (ou deveriam estar) até agora tentando esquecer essas análises tão peremptórias quanto apressadas.

Pois bem, o nordestino sindicalista que uma vez disse “que ninguém, nunca mais, ouse duvidar da capacidade de luta dos trabalhadores” aceitou mais esse desafio, ouviu as críticas pertinentes, corrigou erros e trabalhou dias, meses, horas a fio para não apenas costurar, cortar, aparar essa frente, a maior frente democrática e antifascista que o Brasil jamais teve. Os atos e eventos de rua, cuidadosamente planejados para garantir a segurança do ex-presidente, se pareciam pequenos e tímidos no começo, foram crescendo em tamanho e entusiasmo.

Comícios massivos em capitais e grande cidades de estados do Nordeste, atos e encontros com movimentos sociais e setores profissionais começaram a criar essa onda de esperança – vermelha e de todas as cores – de que seria possível, enfim, derrotar o fascista, garantir o futuro da democracia no Brasil e reencontrar a trilha de um futuro menos desigual e de reconstrução do país. Enquanto seu adversário prossegue desconfiando do processo eleitoral e incapaz de oferecer soluções para a fome e o desespero que atinge hoje mais de 30 milhões de brasileiras e brasileiros, Lula prosseguiu sem olhar para trás, estendendo a mão, o abraço e a bandeira do um futuro próximo mais humano, arrastando consigo milhares, centenas de milhares e, agora, milhões de mãos bordando as estrelas vermelhas nesse estandarte.

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