Na defesa do egoísmo da família brasileira

Com as pernas bambas, um certo ar desconfiado e temeroso por não saber como eu me sentiria ao cobrir uma manifestação com pautas antidemocráticas e fascistas, fui para a Paulista
Por: Zarella Neto/Jornalistas Livres


Por Zarella Neto*

Com as pernas bambas, um certo ar desconfiado e temeroso por não saber como eu me sentiria ao cobrir uma manifestação com pautas antidemocráticas e fascistas, fui para a Paulista, coração financeiro do Brasil e palco de diferentes manifestações populares, acompanhar ao vivo o ato dos bolsonaristas.

Caminhei com receio. Máquina fotográfica pendurada nos ombros, entrei na avenida. Homens, mulheres, crianças. Mas, principalmente, muitos machinhos. Machinhos alfas, machinhos baixinhos, machinhos evangélicos. Até machinhos fêmeas estavam por lá.

Sim, existe a machinho fêmea, aquela mulher que defende a pauta do machão. Lá tinha de todos os tipos. Tinha os branquelos quase ruivos, que trabalham de sol a sol e acham até hoje que não são brasileiros. Se acham italianos. Só não sabem de que lugar da Itália vieram e para não perderem a tradição, adoram cortar o espaguete com faca e chamar a vó (que talvez seja até nordestina) de nonna. Sim, eles estavam lá e isso dói, porque é tão bom ser brasileiro e eles não sabem.

Mas o pior de todos é o machinho miliciano. Todo fortinho, barriguinha proeminente, camiseta com um 38 estilizado no peito. O tipo anda sempre por trás da mulher, com a mão na cintura dela para que nenhum outro machinho (miliciano espertinho, talvez?) possa ver a bunda da sua esposa.

Afinal, todo machinho de ultra-direita defende a propriedade privada, e nesse caso, a mulher dele é um bem privado. Como um cão no cio, fica sempre de olho no macho. Vai que ela se apaixone, ou ele próprio….Afinal, preocupação com o cu alheio faz parte da retórica bolsonarista.

Tinha também o macho velho alfa corno. Esse foi fácil de sacar. Típico pau mole que não tem argumento, cultura e nem experiência, mesmo tendo vivido bem mais da metade da vida, só aprendeu a disputar, somar e engordar. Fazendo do símbolo do acúmulo a sua própria barriga.

E tinha o machinho de Jesus! Meu Deus! Como tinha machinho de Jesus! Ele é daqueles tipos que se masturba pensando no pastor. Sabendo de seus desejos íntimos, segue o seu ignorante mestre, e o seu desejo mais profundo é um dia ser a primeira-dama da igreja, mesmo que for entre quatro paredes.

De resto, também tinha um bando de imbecis pedindo intervenção militar e o fim da democracia. Para esses idiotas, nem dei bola, porque esses são os machinhos xucros.

Em tempo: 90% dos que estavam na Paulista eram brancos. As pautas eram uma somatória de nãos e nada propositivas ou com propósitos escusos, com destaque para Intervenção militar, população armada, ódio contra a comunidade LGBTQIA+, destituição de ministros do STF, controle sobre a imprensa, Lula na cadeia e apoio total contra todas as instituições democráticas que se coloquem contra pautas antidemocráticas. Como tem necessidade de destilar e se alimentar de ódio, a bola da vez é o ministro Alexandre de Moraes. Todos o odeiam. E o anticristo para eles agora é careca e juiz. Mal sabem que o diabo tem um lado bom também.

*Zarella Neto é fotógrafo, homem branco, loiro. O autor diz que é só um ponto de vista e colocou tudo numa panela masculina com todos os contras do macho

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