Por Rayo Machado para o IMENA
No estado do Amapá, extremo norte do Brasil, cerca de 66 comunidades Quilombolas estão vivendo uma crise relacionada ao abastecimento de energia elétrica, água, alimentos e remédios em plena Pandemia.
Segundo relatos de Moradores dessas comunidades afetadas cedidos ao Instituto de Mulheres Negras do Amapá – IMENA, ao contrário do que dizem os governos estadual e federal a situação está longe de ser estabilizada pois o sistema de “rodízio” que está sendo implementado depois de 3 dias de apagão total não distribui energia de forma igualitária, privilegiado às regiões nobres das cidades em detrimento das periferias e zonas rurais, onde localizam-se a maioria dos Quilombos.
Denuncia dos quilombolas:
Ana Rita picanço da Silva, quilombola do Quilombo Conceição do Macacoari, denuncia: “Meu Quilombo Conceição do Macacoari está localizado na Rodovia AP 70, no quilômetro 78. Com o apagão ficamos totalmente isolados , alguns moradores se uniram para verificação e dar manutenção a rede elétrica pois muitos ELOS das chaves queimados, transformadores estourados e fiação arrebentada. O pior dano foi na caixa do abastecimento de água, moradores racionando água, guardando comida nas casas dos moradores mais próximo e carregando água. O poder público NÃO pode olhar só pra cidade, também somos CIDADÃOS dignos de ter políticas públicas para nosso bem viver”
Joelma Menezes, da Comunidade Quilombo do Rosa, denúncia:
“Me chamo Joelma Menezes, meu quilombo fica localizado na BR 156 km 25, onde atualmente mora aproximadamente 40 famílias, com o apagão ficamos totalmente isolados e caos que estamos vivendo com a falta de energia elétrica. O impacto foi maior no abastecimento de água da comunidade, fazendo que muitos percorrer quilômetro até às beiras dos igarapes em busca de água. Sem contar a comida que estragou. A falta de energia está causando grandes impacto na vida da mulher negra quilombo, 7ma grande sobre carga. E até o momento não recebemos apoio, nem ajuda, nada ninguém. Para o poder publico nós não existimos ninguém se comove, ninguém falada nada e ninguém quer ajudar, o que mas importa para eles nesse momento e fazer de tudo para eleger seus sucessores aliado a eles.
Denilson, do Quilombo Casa grande, denuncia:
“Bom dia eu sou Denison da comunidade de casa grande, aqui a energia chegou na segunda-feira, e ela vêm duas horas de tempo depois vai embora, uma tremenda sacanagem com as comunidades depois do Curiau, Casa Grande, Mata Fome, Ressaca, Canaã, Abacate, Lontra , Santo Antônio enfim muitas comunidades no mesmo problema”
Nota do Instituto de Mulheres Negras do Amapá – IMENA
O IMENA, que luta pela garantia de direitos aos Quilombos amapaenses há 20 anos, denuncia não só a gravidade material do que está acontecendo, mas também o racismo institucional em relação às comunidades quilombolas traduzido na morosidade e silêncio. Diante da situação, e a invisibilidade a nível nacional que acomete o Amapá e opera sobre uma lógica que privilegia fatos internacionais em detrimento de uma crise que impacta violentamente uma população de 861,7 mil habitantes e agrava ainda mais os efeitos da Pandemia no território Amazônico.
“O IMENA vem acompanhando o impacto deste empreendimento energético do Amapá no dia a dia das comunidades Quilombolas e rurais já que estas sofrem o racionamento espontâneo do fornecimento de energia elétrica. E pior que assim como as áreas rurais, elas pagam uma das taxas mais caras do país. Mas tem um diferencial, que as suas terras são impactadas pelas torres e no momento de caos como este que estamos vivendo no Amapá por conta deste sistema energético falido, são comunidades esquecidas, que estão esquecidas do rodízio, ou seja, desde o momento que teve o Apagão elas não foram incluídas nesse processo. O IMENA sempre foi solidário às lutas Quilombolas até porque nós também somos mulheres de territórios tradicionais. E junto com essas mulheres nos também assumimos essa luta para nós. Estamos junto das mulheres quilombolas nesse processo de enfrentamento e de luta”, afirma Maria das Dores Almeida, presidente do IMENA.
VEJA LINKS DE VIDEOS COM AS IMAGENS DA CRISE DO AMAPÁ
https://www.facebook.com/292074710916413/videos/1255489218161183/
Um incêndio ocorreu no dia 03 de novembro na subestação de energia na capital, Macapá, de responsabilidade da ISOLUX CÓRSAN que deixou 13 municípios sem energia. No dia 08 de novembro, o serviço voltou a ser prestado em alguns municípios e em formato de rodízio, que segundo os moradores não funciona da maneira igualitária. LEIA NESTA MATÉRIA
Bolsonaro é denunciado a CIDH pelo descaso aos Quilombolas do Amapá
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e Terra de Direitos denunciaram o governo de Jair Bolsonaro na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), pela falta de resposta à crise de energia que atingiu as comunidades, os grupos pedem que a entidade internacional tome medidas cautelares.
As entidades ainda querem que a Comissão Interamericana cobre do governo brasileiro que envie ajuda humanitária para as populações quilombolas afetadas, incluindo distribuição imediata de água potável e à alimentação.
Além dos 24 óbitos de quilombolas em decorrência da COVID-19 no estado do Amapá, foi registrada também a primeira morte em decorrência do apagão”, apontam. De acordo com as entidades, o presidente da comunidade quilombola de São Francisco do Matapi, Sergio Clei Almeida de 50 anos, morreu eletrocutado ao tentar restabelecer o fornecimento de energia elétrica para a comunidade localizada em Macapá. No documento, as entidades pedem que a CIDH cobre o governo para que “apure as circunstâncias que ocasionaram a morte da liderança quilombola, Sr. Sergio Clei, bem como adote devidas providências para responsabilização dos envolvidos (direta e indiretamente) e para indenização de seus familiares”
Com informações de JAMIL CHADE
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