Duas mulheres de fibra passam a dirigir uma das mais tradicionais e reconhecidas escolas de comunicação do país, a ECO – Escola de Comunicação – da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sétima no ranking mundial de universidades e oitava no do Ministério da Educação, a UFRJ forma na ECO jornalistas, publicitários, produtores editoriais e profissionais para rádio e televisão – e possui o primeiro Programa de Pós-graduação a ter a nota máxima para a Comunicação no Brasil. A importância de seus pesquisadores e pesquisas é indiscutível na área.
Academicamente, “área” é uma abstração que equivale a “campo”, campos do conhecimento neste caso. São microcosmos sociais com autonomia relativa, leis e regras específicas, que influenciam e sofrem influências de um espaço social mais amplo. É nessa inferência social que, como diriam meus avós, a porca torce o rabo. Não há dúvidas da importância interna ao “campo” da ECO, mas e de sua inferência social em um Rio de Janeiro sob intervenção militar, vitrine, laboratório e experimentação de sórdido golpe político?
A escolha dessas duas mulheres por seus professores e reitoria, marca o claro posicionamento político da UFRJ: a academia tem que subir o morro, ir para a baixada, combater desigualdades, integrar o comum, promover o bem social, colocar a cultura e a comunicação como alicerce e agente da sociedade.
As doutoras Ivana Bentes e Suzy dos Santos assumem a direção e vice-direção da ECO com o também claro desafio de levar a excelência acadêmica à ação social. Ivana diz: “Apostamos no comum e nas universidades públicas como territórios de resistência e invenção”. Ok, resistimos, e os ataques à disciplina sobre o Golpe de 2016 na Ciência Política da UnB evidenciam isso ao fragilizarem a autonomia universitária (campo). Mas como avançamos?
A escolha destas duas mulheres pode começar a ser resposta. A amazonense Ivana Bentes, autora, ensaísta, professora, ativista, já dirigiu a ECO de 2006 a 2013, quando “abriu as portas da universidade”, fez chegar quem jamais pensou em ali estar pelo Pontão de Cultura Digital. Aproximou comunidades, grupos, mobilizou, reconheceu e forneceu meios para potencializar ações midiáticas e políticas transformadoras. Assumiu a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, de 2015 a 2016. É influência e influenciadora do movimento Fora do Eixo e da Mídia Ninja, onde possui coluna sobre comunicação e cultura.
A paranaense-quase-gaúcha Suzy dos Santos atua em Políticas de Comunicação. Conhece como poucas pessoas neste país a questão da convergência de mídias e da necessidade da democratização dos meios de comunicação. Autora e ensaísta, é conhecida na ECO por sua atuação com projetos sociais junto a comunidades.
Estas mulheres são ativistas sociais, feministas, do norte e do sul, representam pelo que as compõem, por suas trajetórias, histórias de vida e valores a tão temida diversidade. Essas não beijaram mãos ou baixaram cabeças, não aceitaram os famosos pactos de mediocridades. Essas falam suave e forte, se posicionam, trazem os valores do feminino em seu mais amplo sentido, são livres pensadoras iconoclastas. São mulheres fortes com valores que nos representam, #merepresenta.
Conservadores, tremei. Bolsominions, tremei. A diversidade aí está, e irá avançar. Mulheres no poder é transformar. E que sejam possíveis projetos e metodologias como a Universidade das Quebradas de outra mulher fodástica, a Heloísa Buarque de Holanda, que abriu a UFRJ para os produtores culturais da periferia, potencializando saberes e fazeres. Que surjam muitas Universidades das Quebradas para a Comunicação, as Mídias e o Jornalismo. Que a universidade rompa o academicismo e seja povo, quebrada, periferia.
E em posse de ativista social, a entrada é livre. Elas convidam: dia 12 de março, às 17h na ECO-UFRJ. Av. Pasteur, 250 – Praia Vermelha, Rio de Janeiro, capital. #ColeLá
Caru Schwingel | Jornalistas Livres | Mestre e Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas