Mesmo diante dos constantes ataques que o atual presidente da República faz ao sistema eleitoral brasileiro, o alto-comando do exército assegurou que o resultado das urnas será respeitado. Em reunião sobre as eleições, 16 oficiais-generais do grupo mais influente dos militares afirmaram que reconhecerão o vencedor anunciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A reportagem é exclusiva do jornalista Felipe Frazão pelo Estadão.
Por Beatriz Pecinato, Camilla Almeida e Emanuela Godoy
Os militares participaram de cinco encontros da da Reunião do Alto-Comando do Exército (RACE), realizados entre os dias 1 e 5 de Agosto. Segundo apuração do Estadão, os comandantes da Aeronáutica, do Exército e da Marinha passaram a evitar se expor politicamente, e a dar sinais de que poderiam não participar da nova auditoria das eleições.
A auditoria ficará responsável pela checagem de votos no domingo, além da realização de um teste de funcionamento das urnas eletrônicas. A novidade atende a um pedido de Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL.
Segundo a reportagem, a posição do Alto Comando pode reduzir o impacto da apuração das urnas. Fontes militares disseram ao Estadão que o documento com o resultado desta auditoria não entrará no mérito sobre a veracidade das eleições. O exército ficará responsável apenas por reportar o trabalho de fiscalização da integridade das urnas e da checagem da soma de votos.
A apuração será realizada em uma sala do Ministério da Defesa. Um documento será emitido na noite de domingo, após as eleições, que contém os achados técnicos da fiscalização dos militares.
Idealmente, os trabalhos serão concluídos em quatro horas, e serão enviados por volta das 21 horas à auditoria do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, o Ministro da Defesa, é quem assinará o relatório, e informará Bolsonaro sobre o conteúdo. O propósito do documento é relatar o que foi analisado e verificado.
A posição do exército perante as eleições pode ser considerada uma resposta à fala do ex-ministro da Defesa de Lula, Celso Amorim, de que “O momento é de normalização. Vivemos um momento da Comissão Nacional da Verdade (CVN), que foi necessário. Esse momento está superado. Não vamos mexer mais nisso”. Vale destacar que a CNV foi o principal ponto de atrito e distanciamento do governo Dilma (PT) e militares. Em sua fala, Amorim ressalta a necessidade da modernização e da despolitização das forças armadas.
Interlocutor de parte dos generais em época de eleições, o professor de Filosofia Denis Lerrer Rosenfield ressalta os interesses da classe: “A manutenção da Lei de Anistia, a não reabertura da Comissão da Verdade, a manutenção do sistema de promoções dos generais e do currículo das academias”. Em um possível governo da chapa Lula-Alckimin, as forças armadas irão desempenhar um papel significativo no desenvolvimento tecnológico. O plano de governo ainda estuda a elaboração de uma polícia de fronteira, de uma polícia florestal e de uma guarda costeira.
Ameaças de golpe militar
Em contraponto às propostas apresentadas pelo candidato petista, Bolsonaro coloca as forças armadas em uma posição completamente diferente em seu governo. Em suas repetidas ameaças golpistas, o presidente utiliza dos militares como um possível instrumento político, como foi possível ver em sua live . semanal realizada neste dia 27.
Ao uma divulgar uma falsa informação de que eleitores que utilizarem a camiseta da seleção brasileira seriam impedidos de votar, Bolsonaro sugeriu intervenções dos militares nas sessões eleitorais. A proibição atribuída a uma suposta decisão ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que é presidido pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes. “Como é que é, Alexandre de Moraes? Proibido usar camisa da seleção? É interferência demais. Está com medo de quê? De ter um mar de verde e amarelo? Você está preocupado com um mar de verde e amarelo votando e aparecer o nome do Lula ganhando”, disse o presidente, antes de ameaçar mais uma vez a democracia colocando uma possível intervenção militar.