Médico se entrega à polícia como criminoso por não receitar ivermectina para covid-19 em Natal

O médico do Hospital Municipal de Natal, Alderley Torres, tentou se entregar à polícia por não receitar ivermectina. Ele não foi aceito como preso pela polícia, mas registrou o boletim de ocorrência. Fernando Suassuna, presidente do Comitê Científico de Natal disse que não receitar medicação era crime.

Por Mirella Lopes, da agência Saiba Mais

Depois que o presidente do Comitê Científico de Natal, Fernando Suassuna, declarar ser crime não receitar ivermectina no tratamento de covid-19, o médico do Hospital Municipal de Natal, Alderley Torres, decidiu se entregar à polícia na delegacia.

No boletim de ocorrência, Alderley Torres explica que a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade de Medicina Intensiva e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia afirmam que não há benefício comprovado no uso da medicação e que, por isso, ele não receitava a medicação que tem sido utilizada como política pública de prevenção à covid-19 em Natal (RN), apesar da falta de comprovação científica.

Reprodução de trecho do BO aberto pelo médico Alderley Torres

Em 20 de novembro, a Sociedade Norteriograndense de Terapia Intensiva (Sonorti) emitiu nota manifestando espanto e preocupação com a declaração do médico e presidente do Comitê Científico do Município de Natal, Fernando Suassuna. No documento, a direção da Sonorti explica que apesar da orientação de algumas instituições, como o Conselho Regional de medicina do RN (CRM), não há obrigatoriedade na orientação e cabe ao profissional de saúde receitar ou não o antiparasitário ivermectina.

A Prefeitura de Natal tem feito uso político da pandemia ao afirmar que receitar ivermectina é uma política de prevenção eficiente para diminuir os efeitos da covid-19 na população. Nenhum país no mundo reconhece a ivermectina como medicação preventiva ao novo coronavírus.

Uma matéria da Agência Saiba Mais publicada no dia 22 de outubro mostra Natal como uma das cidades com o mais alto índice de morte por covid-19. Se fosse um país, a capital potiguar seria o segundo com maior número de mortes no mundo.

Apesar da tentativa de se entregar por cometer o “crime” de não receitar ivermectina a seus pacientes, o médico Alderley Torres não foi preso, nem aceito como criminoso pela polícia civil.

Em entrevistas anteriores à Agência Saiba Mais e ao Programa  Contrafluxo, Alderley Torres já havia denunciado a política pública adotada pela saúde municipal que prefere gastar dinheiro na aquisição de medicação sem comprovação científica, enquanto aparelhos básicos necessários para o diagnóstico de pacientes estão quebrados.

Os gestores deixaram de investir em equipamentos que poderiam trazer um resultado mais eficiente. Distribuir medicação barata, sem eficácia comprovada, passando à população uma ideia de cura ou de prevenção são condutas fora do contexto científico e isso atrapalhou muito. Por exemplo, o Hospital dos Pescadores, não tem nenhum exame complementar, o único é o da glicemia. Não tem raio-x, nem qualquer exame de laboratório, eles precisam colher e levar para o Hospital Municipal que, por sua vez, não tinha tomografia e passou quatro meses com o raio-x quebrado durante a pandemia e continua assim até hoje”, contou o médico em entrevista no dia 28 de outubro.

A Prefeitura de Natal, comandada por Álvaro Dias que foi reeleito para continuar à frente da administração da capital por mais quatro anos, abriu três centros de Porfilaxia e Tratamento do Coronavírus para distribuição de medicamentos. Um no Ginásio Nélio Dias(Av. Guararapes, s/n – Lagoa Azul), outro no Cemure (Av. Coronel Estevam, 3897 – Nossa Sra. de Nazaré) e um último no Palácio dos Esportes (Rua Trairi, 516 – Petrópolis).

Nota da Sociedade Norteriograndense de Terapia Intensiva em resposta à declaração do presidente do Comitê Científico de Natal
O infectologista Fernando Suassuna, preside o Comitê Científico de Natal

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