Mazza Edições, 37 anos de vida! Viva!

Uma editora negra comemora 37 anos de vida no coração das alterosas. Viva! Os tambores de Minas estão em festa. É notícia digna de manchete, pelo menos no jornal diário que escrevo.

Sabe lá o que é manter uma empresa ao longo de 37 anos de turbulência econômica, afora os oito do governo Lula e o primeiro governo Dilma? O que é sobreviver a Newton Cardoso como governador de Minas? À inflação do governo Sarney? Aos desmandos do Plano Collor? Ao neoliberalismo privatista de FHC e aos inomináveis oito anos de Aécio Neves em Ipanema, digo, no governo de Minas? O que é sobreviver ao golpe parlamentar, midiático e jurídico de 2016. Sabe o que é manter uma editora dedicada a questões raciais e de africanidades no cenário editorial anterior à Lei 10.639/2003? Ah… não, desculpe, você não sabe!

Você que me lê não imagina a força-motriz que é Maria Mazarello Rodrigues, mulher negra de Ponte Nova (terra também do glorioso Reinaldo) que construiu uma empresa sólida, a Mazza Edições, sem lastro de herança econômica familiar. Estruturou o projeto na tora, no braço, no trabalho incansável para materializar um sonho de liberdade num país racista e cínico que negava a existência do próprio tema gerador da empresa.

Maria Mazarello Rodrigues da Mazza edições.

Mazza é uma editora que inscreveu seu nome a ferro, fogo e boas conversas no cenário editorial brasileiro. 37 anos não são 37 dias.

Para falar sobre a memória do livro e do ofício de editá-los no Brasil contemporâneo é imperativo pronunciar seu nome e pesquisá-lo. Assim fez um grupo de estudantes de Tecnologias de Edição do CEFET MG, coordenado por Pablo Guimarães, que empreendeu num livro curto no tamanho e alargado na emoção, a trajetória vitoriosa de Maria Mazarello Rodrigues. A obra que leva seu nome integra a Coleção Edição e Ofício que conta ainda com outros três volumes dedicados a significativos editores mineiros.

De maneira muito sensível, a equipe de estudantes narra em primeira pessoa a confluência dos caminhos de Mazza, a mulher empreendedora, e da Mazza Edições, a editora. Tudo começa pelo sonho de estudar, alimentado por nossa heroína, a decisão da mãe, Dona Amarilis, de levar toda a família para Belo Horizonte para alcançar o objetivo. Os planos de vida modesta que a leitura agigantou. Os projetos editoriais, dos quais Mazza participou na capital mineira, a Editora do Professor, a Livraria do Estudante, antes de construir seu próprio território.

O livro nos revela ainda o mestrado em editoração cursado na Universidade de Paris –XIII, um respiro francês nos tempos sombrios da ditadura civil-militar iniciada em 1964. A volta ao Brasil. O sonho de edificar a Mazza Edições, um diálogo sobre liberdade com o povo por meio do livro. A primeira publicação: Assim se benze em Minas Gerais, de Edimilson de Almeida Pereira e Núbia P. Guimarães

É de tirar o fôlego. Mas se você acha que manter uma casa editorial como a Mazza Edições ao longo de 37 anos ininterruptos é para os fortes, está enganada. Fortes são os outros pequenos empresários como ela que sobreviveram. Mazza é mais. É maior. Mesmo sendo cruzeirense (quase uma “falha de caráter”), olho para Mazza e vejo a massa atleticana gritando gol diante da poética de Reinaldo. Mazza é uma rocha tectônica do Quilombo do Ambrósio.

 

Imagem de capa do site da Mazza edições www.mazzaedicoes.com.br

 

*Este texto é adaptação de outro que escrevi por ocasião dos 34 anos da Mazza Edições, a quem desejo saúde e vida longa.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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