Hoje acordei com uma pergunta de Ailton Krenak, que não calou, não desiste, ficou zunindo em toda rua por onde andei na cidade:
vamos assistir aos caras destruindo florestas para criar pasto e traficar ouro? Quando as pessoas atuam contra as terras indígenas, estão dizendo “dane-se” para o meio ambiente.
Nas terras indígenas que voei vi só mato, mato grosso, aqueles que assustam de tanto vigor. Na Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Tocantins, Acre, Mato Grosso, vi terra desolada onde não era Terra Indígena. Só no Mato Grosso do Sul conheci indígenas vivendo em terra ruim, pois lá eles não têm a terra que deles são.
Deve ser o vigor da terra, seus rios, o vento da Terra Indígena que assusta os homens do agronegócio, pois tem que matar para plantar. Passarinho, borboleta, tamanduá, toco no meio do caminho, de nada isso importa para gente de negócios.
Onde há Terra Indígena, recordo, a floresta, o cerrado, a mata atlântica e a caatinga persistem. O que teme o agronegócio aos povos indígenas sua posse? É ele o monstro voraz que come a si mesmo e engorda, engorda, engorda, como um verme consome e se retroalimenta do meio ambiente, terra virgem, pagando as contas da nação, gerando commodities e superávits e apagando possibilidades de futuros negócios com aquilo que nas florestas vive. Ganham os donos das terras ou aqueles que tomam posse das terras devolutas, revirando tudo, engordando o gado e as contas bancárias de cada proprietário e desejando aos indígenas sete palmos de chão.
Querem marcar a ferro e brasa o marco temporal na saga indígena, bloquear qualquer caminho que entenda a preservação como solução e projeto de um país rico e poderoso. Indígenas, indigenistas, pensadores e poetas dizem não. Diz não o homem comum que planta feijão e nem arma ou latifúndio tem. Diz não aquele que sabe das abelhas e das formigas, da importância dos fungos, das folhas mortas no chão da mata.
Os ruralistas não querem saber de poesia ou ecologia, têm pavor de fotógrafos, jornalistas que denunciem a mão pesada que sustenta a motosserra, o correntão, a gasolina que incendeia o mato.
A rede, onde dorme o índio, é feita de tramas. Trama a rede, trama indígena sustenta o corpo, a floresta essencial.
Mata o mato, mata o índio.