Por Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia
Análise política demanda atenção e constante exercício de escuta. E, principalmente, evitar a tentação de jogar no lixo aquilo que não concordo, que não entendo. Talvez não entendo exatamente porque não concordo, e vice-versa.
Buscar sempre a coerência interna dos discursos e racionalidades políticas. Sempre há coerência, sempre há racionalidade. Não tem bobo nesse nível de disputa política.
Ontem, num primeiro momento, achei que tinha sido tão somente canelada do Ciro, talvez à revelia do seu marqueteiro. Depois de ler e ouvir opiniões diferentes, mudei de opinião. Vejam a aposta da equipe do Ciro. All in. Todas as fichas:
1) Bolsonaro não será candidato em 2022. Chegará na metade do ano com a certeza da derrota e sem condições de dar golpe. Negociaria sua saída com a garantia de manutenção das prerrogativas de ex-presidente e com a promessa de uma anistia extra-oficial para ele e sua família.
2) Nesse cenário, a eleição ficaria órfã de um testosteronizado agitador capaz de representar o ódio ao PT que ainda é politicamente relevante na opinião pública. Ciro vai trazer Dilma para o centro do debate, pois a ex-presidenta é o ponto fraco da memória petista dos “bons tempos” de consumo e prosperidade econômica.
3) Datena na chapa, como vice, seria o avalista da entrada de Ciro no coração desse eleitorado, que tende à direita. Aí, cada vez mais, Ciro endureceria o discurso contra o PT e silenciaria seu tão louvado projeto de desenvolvimento, que colide com os conceitos econômicos desse eleitorado.
Possível? É. Provável? Não. É jogador jogando jogo. Não demonizo a política. Torço pra dar certo. Prefiro ver Ciro no segundo turno com Lula do que Bolsonaro.
Uma resposta
Exatamente.