Maio de 2001, o fim do ‘Carlismo’ na Bahia

Por Everaldo de Jesus*
Há 17 anos, três grandes manifestações contra Antônio Carlos Magalhães, o ACM, ocorridas em maio entraram para a história da Bahia. Marcaram a primeira cisão no encouraçado poder do ex-governador e ex-senador baiano. Ele estava mergulhado em um escândalo, após ser flagrado por evidências de ter violado o painel de votação do Senado, em uma votação que deveria ser secreta. Um processo havia sido aberto na Comissão de Ética por quebra de decoro parlamentar e poderia resultar na sua cassação.
Convocada pelos movimentos estudantis, a primeira manifestação ocorreu em 10 de maio de 2001. Uma passeata com cerca de 3 mil participantes, iniciada no centro de Salvador, tinha como destino o bairro da Graça, onde os estudantes pretendiam fazer uma “lavagem” das escadarias do Edifício Stella Mares, residência de ACM. A Polícia Militar reprimiu violentamente a passeata e impediu que ela chegasse ao destino.
O segundo ato, ainda maior, estimado em 9 mil manifestantes, aconteceu em 16 de maio de 2001. Desta vez o local escolhido foi o Vale do Canela, e a concentração das manifestações acontecereu na Faculdade de Direito da UFBA, local que os organizadores consideravam inviolável pela polícia baiana, por ser um espaço federal. Não foi o que ocorreu: a PM invadiu a faculdade e dispersou a manifestação com mais violência. Utilizaram gás lacrimogênio e balas de borracha e deixaram um saldo de 25 estudantes feridos.
As imagens da selvageria da polícia ‘carlista’ invadiram o noticiário nacional e provocaram uma terceira passeata ainda maior, com pelo menos 17 mil pessoas, no dia seguinte. Os estudantes dessa vez contaram com a solidariedade de outras organizações e partidos políticos, além dos professores da UFBA e do próprio reitor, Heonir Rocha.
A manifestação ocorreu pacificamente. Iniciada em frente à reitoria da UFBA, a passeata percorreu as ruas do centro da capital baiana com faixas que denunciavam a violência do dia anterior, escrachavam o senador direitista e pediam sua cassação. Prenunciaram o início do fim do ‘Carlismo’.
Alguns dias depois, em 30 de maio de 2001, o senador Antônio Carlos Magalhães ocupou a tribuna do Senado. Em um discurso rápido, criticou os rumos de um governo que ajudou a sustentar e denunciou perseguição dos seus pares. E renunciou ao cargo de senador, para evitar ser cassado e perder seus direitos políticos.
(*) Jornalista e mestrando em História pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB

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