Os resultados do primeiro turno trouxeram muitas certezas e algumas surpresas. Certezas: pesquisas eleitorais não passam disso. Números. Eleitores potenciais falam o que querem para um funcionário aleatório. Os entrevistados não têm nenhum compromisso com o que realmente pretendem fazer. Mas seus depoimentos ao acaso viram verdade para alimentar manchetes.
Por Ricardo Melo
Os institutos se aproveitam disso para manter a grande mídia funcionando e juntar uns cobres. Dirão que previram a vitória de Lula dentro da “margem de erro”. Oficialmente ela oscila de dois a três pontos. Mas os números oficiais estiveram muito longe disso. A vantagem de Lula, o vitorioso incontestável nos números globais, foi bem menor do que os oráculos estatísticos estimavam.
As surpresas para quem acreditou piamente nos datas alguma coisa: as urnas mostraram que Bolsonaro teve muito mais votos do que o previsto. O neo-fascista deu uma lavada no pleito de senadores.
Em alguns estados, como São Paulo, o “recruta” transformado em presidente emplacou no segundo turno um forasteiro como Tarcísio de Freitas à frente de Fernando Haddad, tido como favorito disparado nas planilhas. Um astronauta lunático como Marcos Pontes, que convive com terraplanistas sem dar um pio e é garoto propaganda de travesseiros, conquista o Senado. No Rio Grande do Sul, o voto livre ressuscitou mortos-vivos politicamente como Onyz Lorezoni. Exemplos parecidos esparramam-se pelo Brasil.
A verdade dos fatos: o bolsonarismo militarista, o conservadorismo encruado há séculos e a divisão do Brasil entre multimilionários e a maioria pobre e desvalida vem se aprofundando. A isto se dá o nome de polarização –que não é política nem nova. É polarização mesmo. Só que resulta de um sistema baseado numa minoria de exploradores, que se recusa a abandonar os privilégios, e numa maioria de explorados. Apartheid que se estende pelo planeta.
Escrever a história depois que ela acontece é sempre fácil. Mas inevitável para aprender com os erros para não repeti-los. A campanha de Lula “paz e amor” deixou muitos de seus seguidores desnorteados. A começar da aliança com Alckmin, cúmplice de dezenas de anos de perseguição dos tucanos aos mais pobres, aos professores e funcionários públicos, aos sem-teto, aos mais humildes. Haddad carregou isto nas costas.
A criação de uma frente sem limites juntando a elite milionária golpista como “aliada” deixou milhões de apoiadores sem chão. Que diabo seria isso? Uma espécie de capitalismo “desarmado”?
Bolsonaro venceu no coração da exploração colonial
Os de cima não são otários, como mostra a diferença de contribuições financeiras para a candidatura de Lula e de seu adversário. Dividem jantares abastados, mas o que ouvem por um ouvido sai rapidinho pelo outro. Basta olhar muitas das regiões em que Bolsonaro venceu ou teve votação acima do previsto: coração do agronegócio predador, do garimpo ilegal e assassino, do desmatamento sem controle nem fiscalização, do “sul maravilha” que concentra boa parte do PIB nacional.
Lula venceu, mas o segundo turno pela frente não garante nada. Quem comemora neste momento é a quadrilha bolsonarista e do grande capital. Nunca é bom esquecer. Essa gangue tem a caneta na mão, o dinheiro público à disposição, redes de fake News, o poder das armas, complacência das ditas “instituições” e, provavelmente, a suavidade crescente da grande mídia. Cabe ao povo, à juventude, aos desvalidos, esfomeados, humilhados e democratas de verdade refletir sobre a gravidade do combate neste mês que resta. Mudar o que precisa ser mudado para apagar e consertar este período que o Brasil precisa liquidar. Há menos de um mês para isso.