Nas eleições presidenciais de 2018, os eleitores de Haddad decidiram comparecer às urnas carregando um livro. Três anos e alguns meses depois, o que se viu foi o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, pastor evangélico, carregando um revólver no aeroporto de Brasília, que disparou e feriu a funcionária de uma empresa aérea.
Por Dirce Waltrick do Amarante
Neste governo, parece realmente que as armas substituíram os livros. A propósito, o presidente foi eleito sem debater suas ideias com outros candidatos, tendo sido salvo por uma arma, uma arma branca.
Nunca foi tão difícil debater ideias como atualmente. Os simpatizantes do governo têm sempre pelo menos uma bala de prata que encerra qualquer discussão antes mesmo de ela começar: “e o PT?”.
Mas voltemos ao pastor evangélico, que carregava uma arma de fogo carregada. Esse é um governo de paradoxos, e um deles é falar em Deus e em nome de Deus, mas não seguir os ensinamentos cristãos.
Quanto à funcionária que foi ferida pelo pastor, ela poderia representar, nesta parábola diabólica, o povo, tal como o define Hannah Arendt: “enquanto o povo, em todas as grandes revoluções, luta por um sistema realmente representativo, a ralé brada sempre pelo ‘homem forte’, pelo ‘grande líder’. Porque a ralé odeia a sociedade da qual é excluída, e odeia o Parlamento onde não é representada. Os plebiscitos, portanto, com os quais os líderes modernos da ralé têm obtido resultados tão excelentes, correspondem à tática de políticos que se estribam na ralé”.
Bolsonaro não é nem “homem forte” nem “grande líder”, ele é o mito, no sentido pejorativo, já que não se consegue explicar racionalmente como ele chegou ao poder. Nesse governo “maravilhoso”, ele é a lei, e o que diz é referendado pela ralé, que, então, se acha no direito de agir segundo a cartilha bolsonarista. Por isso, talvez, o ex-ministro da Educação não tenha visto nenhuma ilegalidade em embarcar com arma e munição, ainda que a Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados tenha restringido o embarque de armas de fogo em aeronaves apenas para certos grupos de cidadãos, dos quais o ex-ministro está excluído.
Enquanto isso, o Ministério da Educação (MEC) está na mira da justiça depois do escândalo de repasses de recursos ilícitos do Fundo Nacional de Educação (FNDE) para pastores evangélicos.
Houve um tempo em que se acreditou que uma nação, parafraseando Monteiro Lobato, se fazia com homens (no amplo sentido) e livros. Hoje não causa espanto que não seja mais assim; afinal, desde a última campanha presidencial, Bolsonaro e seus asseclas escolheram como bodes expiatórios professores, escritores, artistas, entre outros envolvidos com a educação e a cultura neste país. O ódio a tudo que se relaciona com essas áreas, desde então, se espalhou como rastilho de pólvora entre a ralé.
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