No último domingo (4), no pior momento da pandemia no país, um evento esportivo causou aglomeração e indignação nos moradores de Alter do Chão, balneário turístico localizado no município de Santarém-PA. As praias da região se encontram fechadas para o turismo e, desde o início do mês, estão proibidas aglomerações com mais de dez pessoas no município (decreto municipal 712/2021).
Intitulado 2º Desafio Zéfiro, a prova de triatlo levou cerca de 120 atletas a uma das praias de Alter do Chão, e utilizou as parte das dependências do Beloalter Hotel, um dos principais hotéis do balneário. Um dos organizadores da prova é o Juiz Alexandre Rizzi, que em 2019 determinou a prisão arbitrária e infundada de quatro brigadistas que combatiam os incêndios que atingiram a região naquele ano. Recentemente Ministério Público Federal determinou o arquivamento do caso, após investigação da Polícia Federal mostrar não ser possível apontar os responsáveis pelo crime ambiental.
As imagens do evento que circulam nas redes, mostram os atletas e dezenas de pessoas aglomeradas e sem máscaras. Rizzi e Ezequiel Aquino de Azevedo, secretário de turismo e lazer municipal , aparecem abraçados em uma das fotos.
Em nota enviada ao site UOL, Alexandre Rizzi, defendeu o evento:
“Os Zéfiros são um grupo de amigos que acreditam no esporte individual amador. Para nós esporte é sinônimo de Saúde. Incentivamos a prática esportiva regular e somos contra a todo tipo de sedentarismo. O primeiro salva o segundo mata!!! Quanto ao evento de domingo, ressaltamos que não se tratava de uma competição e sim de um desafio, tanto que não houve pódio ou premiação. Seguimos todas as recomendações das autoridades, inclusive com largada setorizada, medição de temperatura e oxímetria dos atletas, distribuição de máscaras, etc. Durante o percurso de 70km famílias saíram de suas casas para apoiar os atletas, mas isso nos espaços públicos. Ressaltamos que conforme os atletas acabavam o desafio recebiam suas medalhas de participação e eram dispersados. Destacamos, finamente, que todos os pontos de distribuição de água foram devidamente limpos ainda no domingo à tarde. Sendo assim, continuaremos a praticar esporte individual e a incentivar as pessoas a fazê-lo, pois até que se prove o contrário essa é a melhor maneira de se fortalecer o corpo e o espírito, visando prevenir e/ou combater inúmeras doenças, inclusive a covid”.
Apesar das imagens não deixarem dúvidas sobre a irresponsabilidade dos evolvidos, a prefeitura de Santarém emitiu uma nota à imprensa: “…o evento deveria seguir exigências de biossegurança e sanitárias às quais os organizadores se comprometeram a cumprir. Diante dos fatos ocorridos, a Vigilância Sanitária está analisando as imagens de alguns pontos da competição que podem ter ferido o cumprimento dos protocolos. Os organizadores do evento também serão chamados para prestar esclarecimentos sobre o ocorrido e podem ser penalizados caso tenham descumprido os protocolos de segurança.”
Em sessão ocorrida nesta segunda-feira (5), vários vereadores se posicionaram a respeito do fato. O vereador JK do POVO (PSDB), afirmou que ocorreu uma decisão direta, de ordem superior, autorizando o evento que em Alter do Chão. Como também afirmou que o Comitê de Crise não foi consultado. Os vereadores Júnior Tapajós (PL) e Gerlandre Castro (PSB), afirmaram também que o Comitê de Crise não autorizou o evento. Gerlande comentou que o prefeito Nélio Aguiar, nunca iria autorizar um evento desse porte em Alter do Chão. O Vereador Carlos Martins (PT), pediu o afastamento de toda a equipe da Vigilância Sanitária.
No regulamento do evento, não consta qualquer menção a normas de segurança sanitária nem à Covid-19. A reportagem dos JL entrou em contato com com a administração do Beloalter Hotel, mas até o momento não obteve resposta.
O Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Alter do Chão emitiu nota condenando o evento, e pediu esclarecimentos à prefeitura:
CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO DE ALTER DO CHÃO
O CONSELHODE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO DE ALTER DO CHÃO, vem, através deste documento, manifestar sua indignação com a forma pela qual esta comunidade está sendo tratada.
Nossa querida, amada e reconhecida vila, hoje Distrito de Alter do Chão, reconhecida e respeitada mundialmente, infelizmente, dentro da nossa própria casa isso não confirma-se, gostaria de expressar sua tristeza diante de fatos bem atuais, ou por que não dizer, de hoje.
A população desta comunidade não tem nenhuma pretensão de impor absolutamente nada, apenas, como moradores e conhecedores de nossa realidade, queremos ser, ao menos, ouvidos.
Independentemente de sigla partidária sempre, esta comunidade, procurou ficar alheia às disputas políticas. Nosso ideal de lutas é trazer o bem coletivo para que as pessoas que escolheram viver aqui ou os nativos tenham sempre aquilo que, por direito, são seus.
Sempre procuramos resolver as questões, por mais difíceis que sejam, através do diálogo.
No início desta pandemia fomos os primeiros a pedir lockdown, o qual foi elogiado pelo nosso prefeito Sr. Nélio Aguiar, e um tempinho depois pedimos restrições para tentar preservar, não só a vida de nossos residentes, mas também daqueles que nos visitam. Deu certo.
Esse diálogo entre poder público e Conselho Comunitario sempre existiu.
Infelizmente neste final de semana, semana Santa, não sabemos a razão, foi muito diferente.
Foi liberado, tentamos descobrir por quem, mas ninguém dos órgãos públicos a quem contatamos ou não responderam ou disseram que não sabiam de nada, sobre uma imensa aglomeração esportiva aqui na comunidade (maiorias sem mascaras confirmem nas fotos) isso nos deixou, como membros deste conselho muito tristes e, com certeza, tomaremos providencias.
Muitos de nossos nativos e pessoas que aqui vivem e tiram seus sustentos e de suas famílias estão, literalmente, passando fome, as nem por isso os leva a querer tais eventos e aglomerações. Nós, conselho e moradores, queremos uma resposta imediata das autoridades competentes.
Queremos, também dizer-lhes que eventos deste nível em época de pandemia sem um estudo e a conformidade da comunidade não permitiremos acontecer.
Nossa função, como Conselho, é preservar e dar condições de vida aos nossos comunitários. Não somos radicais, apenas defendemos aquilo que é de melhor para nossa gente.
Quanto antes exigimos uma resposta urgente do responsável e órgãos públicos.
No Aguardo,
Junior Sousa
Presidente do Conselho Comunitário