Jornalistas Livres: e os jornalistas presos?

Neste domingo, 25 de junho, o pôr do sol foi o sinal para que mais de um bilhão de pessoas do mundo pudessem comer. Sentados em mesas redondas com amigos e familiares, os muçulmanos que celebram o Ramadã, mês sagrado, desfrutam do Iftar, o jantar de desejum. Para 234 jornalistas presos na Turquia, nada disso existiu.

Na Turquia de Recep Erdogan, a liberdade de expressão está cada vez mais próxima de ser extinta. Hoje o país é o que mais tem jornalistas presos, perdendo apenas para China, Egito, Etritreia e Etiópia. O disparate está nos números: a China tem 38 jornalistas privados da liberdade.

O atual governo turco não considera que a prisão é o lugar de repórteres e editores que questionam suas ações tanto que colunistas como o cantor Atilla Tas, que, além de ser considerado um pop star na Turquia, trabalhava como colunista no jornal Meydan. Detido desde o ano passado, ele é uma das 2 mil pessoas processadas por “insultar o presidente”. Até o momento, suas chances de sair da cadeia são nulas pois foi condenado à prisão perpétua.

A eternidade entre barras de ferro é uma perspectiva triste e real para Ayşenur Parıldak. Aos 26 anos, ela trabalhou por apenas dois anos no jornal Zaman e uma de suas mensagens recebidas por amigos foi buscar o suicídio “já que tenho medo de ser esquecida aqui”. Seu colega de redação, o colunista Hilmi Yavuz defendeu-se da seguinte forma ao juiz: ‘Tenho 80 anos e todos conhecem o que eu escrevo. Passei a minha vida ensinando e escrevendo meus pensamentos. Já escrevi vários artigos condenando o golpe e deixei muito claro que sou contra ele. Estou pronto com minha mala e meus remédios para a vida na cadeia.”

 

A prisão não é o destino apenas para quem se opõe a Erdogan. Şahin Alpay, 72 anos, do jornal Yarına Bakış apoiou o presidente turco até 2011. “Falhei em não enxergar o lado escuro deles”, escreveu aos seus leitores.

Para o relator especial da ONU sobre Tortura, Nils Melzer, está claro que há tortura na Turquia. Um relatório preliminar da investigação que realizou na Turquia entre 27 de novembro e 2 de dezembro de 2016 pontua ainda que aos jornalistas está vedado o direito à defesa.

Os números atuais e oficiais que o Centro Cultural Brasil Turquia informou aos Jornalistas Livres e que fazem parte da exposição sobre o tema na sede social em São Paulo não são definitivos. Estima-se que 100 jornalistas possam ser presos até julho: em maio, a justiça turca expediu 42 mandados de prisão para jornalistas.

Kamil Ergin, jornalista turco radicado em São Paulo, explica que a perseguição não se dá apenas na Turquia pois também aqui é impedido de entrar no consulado turco no país e participar de coletivas de entrevista. “Me acusam de terrorista”, afirma ele, que também é editor do site Voz da Turquia.

Kamil aponta que os mais perseguidos são jornalistas de jornais (40%), seguidos de rádio e TV (24%), agências de notícias (16%), jornais locais (7%), revistas (6%). 2% são mídias sociais e outros.

Correspondentes internacionais também podem ser presos. O correspondente alemão do Die Welt, Denis Yücel está preso desde fevereiro. “A Turquia ocupa o primeiro lugar no inglório pódio de jornalistas presos”, disse  John Dalhuisen, da Anistia Internacional. A campanha da entidade,“Jornalismo Não é Crime”, aponta que um terço dos jornalistas presos no mundo estão na Turquia.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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