A investigação sobre a tentativa de assassinato da vice-presidenta Cristina Kirchner em um ato de apoiadores próximo à sua casa, na semana passada, aponta para o planejamento e acordo prévio do crime. Através de imagens de câmeras de segurança, os passos que levaram à execução do atentado são reconstruídos e indicam a possibilidade de que o casal detido não atuou sozinho.
Por Fernanda Paixão, via Brasil de Fato
Os acusados são Fernando Sabag Montiel (35), que disparou a arma a poucos centímetros da cabeça de Kirchner (o disparo não foi concluído dado que a bala não estava engatilhada), e sua namorada, Brenda Uliarte (23). Segundo a perícia, a arma estava apta para o disparo – ou seja, que não houve falha mecânica – e carregada com cinco balas.
Brenda Uliarte e Fernando Sabag Montiel, expondo a arma utilizada no atentado. / Reprodução/AFP
Nesta quinta-feira (8), o site de notícias Infobae divulgou imagens de uma câmera de segurança que mostram o casal em um Mc Donald’s em Quilmes, município na Grande Buenos Aires, cerca de quatro horas antes da tentativa de assassinato. Naquela noite, as imagens mostram o casal em uma interação discreta com uma mulher que, sentada em uma das mesas do local de fast food, joga um papel no chão.
Segundo o Infobae, Brenda Uliarte recolhe o papel do chão, lê e o entrega a Fernando Sabag Montiel. Ele também lê o papel e o joga no lixo. Ainda não há maiores informações sobre a identidade da mulher revelada pelas câmeras de segurança.
Imagens de câmera de segurança obtidas pela investigação e divulgadas pela Infobae [Foto: Infobae/Reprodução]
Além disso, as primeiras evidências sobre um trabalho de inteligência do crime incluem imagens dos acusados no local dias prévios ao atentado. Eles estiveram em diferentes momentos na vigília em apoio à vice-presidenta após pedido de 12 anos de prisão e de sua proscrição política por parte do procurador Diego Luciani, no dia 22 de agosto. Na mesma noite, tiveram início as mobilizações em frente à casa de Cristina Kirchner, que se estenderam até o dia do atentado, na quinta-feira passada, 1º de setembro.
A investigação aponta para a primeira aparição do casal no local em 23 de agosto, com a aparição do carrinho de algodão-doce que utilizavam para trabalhar. Os registros foram identificados em diversas fotografias e vídeos de cobertura jornalística e de manifestantes no segundo dia do protesto.
O mesmo carrinho de algodão-doce é visto no sábado da mesma semana, 27 de agosto. Neste dia, o governo portenho havia cercado o local com tapumes e mobilizou a polícia da cidade ao local, o que resultou em um episódio de repressão contra os manifestantes. A investigação aponta que o carrinho, atribuído ao casal, esteve no local pelo menos entre 15:27 e 17:51 neste dia.
O conteúdo do celular de Sabag Montiel ainda não pôde ser analisado pela investigação devido a um bloqueio de fábrica que pode ter sido efetuado após várias tentativas da perícia de desbloquear o aparelho. Após uma tentativa falha, a Polícia Federal Argentina (PFA) teria enviado o celular à Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA), por contar com um sistema mais avançado para realizar o desbloqueio. A PSA informou que, ao introduzir o aparelho do sistema, o celular emitiu a mensagem “telefone reformatado de fábrica”.
Há uma investigação em curso para identificar o que houve no processo de desbloqueio do telefone, que pode ter sido realizado remotamente. A perícia informou que dados extraídos do cartão de memória do celular estão em análise.
Já o celular de Brenda Uliarte foi apreendido e, segundo a PFA, possui evidências de que a namorada de Sabag Montiel “teve um papel-chave no ocorrido”.
Declaração dos acusados
O casal foi convocado a prestar declarações à juíza responsável pelo caso, María Eugenia Capuchetti, e o procurador Carlos Rívolo. Sabag Montiel negou-se a prestar depoimento pela segunda vez, nesta terça-feira (6). Apenas afirmou que sua namorada “não teve nada a ver” com o ataque.
Brenda Uliarte apresentou para depor pela primeira vez na quarta-feira (7), mas respondeu apenas às perguntas da defesa, em que voltou a afirmar não saber que o ataque aconteceria e classificou o ocorrido como “aberrante”. “Apesar das diferenças que tenho com o partido que representa esta senhora”, afirmou Uliarte. O casal é atendido pelo defensor público Gustavo Kollmann.
Brenda Uliarte foi incluída na investigação quando foi identificada em filmagens da noite do ataque, contrariando suas declarações em entrevista a um canal de televisão, em que afirmava, no dia seguinte ao ataque, não ter visto Sabag Montiel por três dias e não esperar que “ele pudesse fazer algo assim”. Também disse desconhecer que seu companheiro possuía uma arma de fogo em casa.
Uliarte foi detida na segunda-feira (5), um dia após transmitir uma live em seu Instagram para seus seguidores que lhe mandavam perguntas sobre o atentado e seu companheiro, detido em flagrante. “Quem sabe se não era uma arma de brinquedo?”, disse ao concordar com uma das perguntas enviadas.
Também demonstrou ser simpatizante do ultra-direitista Javier Milei, deputado do partido La Libertad Avanza que minimizou o ataque à vice-presidenta na sessão especial da Câmara dos Deputados para aprovar uma resolução em repúdio à violência política. “Não há reconciliação com corruptos. Basta de corrupção, seja com quem for, de qualquer lado político”, disse Uliarte na transmissão ao vivo.
Edição: Arturo Hartmann