Inês Ferreira: Ensinando os gringos que conhecem o Brasil por estereótipos

Jornada em Nova York e Consultoria Internacional

Seguindo a série destacando mulheres notáveis, trazemos agora Inês Ferreira, empresária e criadora de conteúdo que deixou sua marca desde sua mudança para Nova York em 2018. Em uma entrevista exclusiva ao Núcleo Negro dos Jornalistas Livres, Inês compartilha sua jornada única.

“Estou escrevendo esta entrevista no trem (risos). É o transporte público daqui me lembra que anos atrás estava no trem vendendo com minha família nas periferias de SP. E agora estou indo dar consultoria para uma nova marca de acessórios que contratou minha startup New York BPM para desenvolver o plano de Marketing internacional.

Como consultora de marketing internacional para sua startup, a sua agência vem desempenhando um papel crucial na conscientização sobre as nuances culturais do Brasil para marcas, especialmente aquelas nos Estados Unidos. Ela destaca a importância de compreender a complexidade racial brasileira, muitas vezes incompreendida por agências de marketing estrangeiras.

“É um trabalho extremamente necessário, para que as marcas, principalmente as estadunidenses entendam que o Brasil têm nuances diferentes. A questão racial no Brasil por exemplo é desconhecida para alguns clientes que são possuem produtos e serviços que chamamos de “black owners” e quando exportam para o Brasil algo que é uma característica fundamental perde-se. Ao chegar no mercado brasileiro algumas agências de marketing que têm acesso à comunidade daqui não tem consciência racial para desenhar estratégias de Marketing contratando influencers que possuem as características que estes produto foi designado. Justamente porque aqui a questão racial é por o que eles chama “one drop rule” que significa a sua racialidade seria medida pela sua ancestralidade mais do que sua aparência. Se isso dar confusão em pessoas brancas no Brasil que não sabem que aqui são lidas como Latinas, imagine para empresários que muitas vezes nunca nem saíram daqui dos Estados Unidos?”

foto com Spike Lee – arquivo pessoal

Reconhecimento e Compromisso Social em Nova York

Reconhecida com o Prêmio Mulheres com Garra 2022, Inês destaca sua parceria com o consulado brasileiro em Nova York, contribuindo para levar informações acessíveis à comunidade local, onde a desigualdade social persiste mesmo na “cidade que nunca dorme”. Sua iniciativa incluiu um leilão beneficente que resultou em uma condecoração do Senado de Nova York. “Porque mesmo aqui em New York, ainda temos desigualdade social e pessoas que estão em situação de vulnerabilidade e nem sequer tem consciência disso por acreditarmos que NY só tem gente rica” afirma Inês.

Inês compartilha sua trajetória desde os dias de vender amendoim nos trens de São Paulo até seu papel fundamental no marketing internacional. Seu envolvimento com o ProUni, programa de bolsas universitárias, foi crucial em sua jornada, destacando a importância das políticas públicas para ampliar oportunidades.

Esta minha trajetória só reforça a importância de políticas públicas, como o ProUni, que me proporcionou a bolsa para a universidade e me ajudou a chegar até aqui. Em uma matéria publicada na Harper’s Bazaar tive a oportunidade de contar um pouco que enquanto vendia amendoim, chocolates e água nos trens dos subúrbios de São Paulo durante minha infância, foi o momento de eu perceber que tinha apenas o tempo entre uma estação e outra para convencer as pessoas a comprarem.”

“Hoje vejo que não precisaria ter passado por tudo isso para desenvolver habilidades de comunicação e criatividade. Vejo que poderia ter seguido uma jornada mais tranquila se tivesse acesso a oportunidades que não colocassem minha vida em risco para sobreviver. Ao me pós graduar em instituições como o Mackenzie eu revi muitas coisas que já tinha aprendido na prática. E foi um lugar importante para fazer networking mas ao mesmo tempo ser a única negra até minha formação me fez sentir saudades das minhas amizades que fiz no trem onde eu era só mais uma e não “a uma”.

Imagem Carol Biazotto

Perspectivas Futuras

Ao perguntar para a Inês sobre a perspectiva do mercado internacional principalmente para mulheres negra periféricas brasileiras, ela responde:

“Esta lacuna entre o Marketing dos produtos lançados aqui nos Estados Unidos e Brasil, sobretudo remotamente é um dos modelos de contratação na minha startup com certeza daria para contribuir muito com a economia do meu país. Entretanto precisaríamos de um ajuste de comunicação e que empresários Brasileiros queiram apoiar este projeto!” Aos 36 anos, ela se tornou uma especialista em marketing digital, reconhecida internacionalmente e destaca a importância de inspirar outras mulheres a perceberem seu potencial.

A trajetória de Inês Ferreira já a levou para matérias da Globo Internacional, artigos na Harper’s Bazaar, presenças em eventos da ONU e até a já citada condecoração do Estado de Nova York pelo impacto que seu trabalho tem causado na comunidade americana.

Ao final de nossa entrevista, Inês declara: “É uma honra estar nesta plataforma que acompanho e me informo constantemente! Agradeço a oportunidade de contar um pouco do que faço aqui em New York.

Espero muito inspirar outras mulheres negras a enxergarem suas potências e que elas são a solução de muitos desafios que nós mesmos encaramos. Porém somente com ajuda de uma à outra conseguiremos ser uma comunidade agradecida por aquelas que vieram antes deixando um legado para quem vier depois!”

Leia mais: Inês Ferreira: Ensinando os gringos que conhecem o Brasil por estereótipos

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS