No domingo (15) a família de Yuri recebeu um vídeo de um acidente e reconheceu a placa da moto do rapaz que havia saído de manhã para realizar entregas pelo aplicativo do iFood. Infelizmente, quando a família chegou ao local do acidente, na Barra da Tijuca – Rio de Janeiro, encontrou o Yuri sem vida. Há três meses os familiares aguardam para receber o auxilio funeral e o seguro de vida prometidos pelo iFood.
Desde janeiro de 2022, a Lei 14.297/22 determina que aplicativos que oferecem serviços de entrega devem ofertar seguro contra acidentes pessoais aos trabalhadores. Em nota divulgada em março de 2022, um mês antes do acidente, o gerente de riscos e seguros do iFood, Thiago Amorin, afirma que “Nosso objetivo é dar mais segurança aos entregadores parceiros e oferecer um bom atendimento em uma hora crítica, independentemente de se esse seguro é obrigatório por lei”. Ainda de acordo com a nota, qualquer membro da família pode solicitar o auxilio “É importante que os entregadores avisem a família sobre o seguro, pois em caso de um acidente grave, em que a pessoa fique inconsciente, qualquer familiar pode abrir o pedido de cobertura”, ressalta Thiago.
Em entrevista ao Intercept, o iFood alegou que entrou em contato com a família assim que foi notificada sobre o acidente, entretanto Yuri estaria usando dados cadastrais de outra pessoa o que inviabiliza a cobertura do seguro. “A situação irregular infringe os termos de uso da plataforma e inviabiliza a cobertura do seguro. Conforme o protocolo, o iFood informou a inconsistência dos dados à família durante o acolhimento e disponibilizou apoio psicológico”, afirmou a empresa. A família afirma que o iFood entrou em contato 26 dias após o acidente e nenhum apoio foi prestado.
No momento do acidente, Yuri estava utilizando uma conta cadastrada no número de CPF da sua namorada, porém a foto, nome e CNH eram do motoboy. A criação de perfis reservas é uma prática comum entre os entregadores de aplicativo como forma de driblar os bloqueios arbitrários de contas, o que impede a pessoa de trabalhar na plataforma. A plataforma inclusive tinha conhecimento de que era Yuri por trás do CPF feminino, já que contactou o entregador perguntando se estava tudo bem. O iFood já chegou a ser punido judicialmente por expulsar um usuário do aplicativo sem justificativas.
No dia 17 de maio o iFood desativou a conta principal de Yuri e a da namorada por “má conduta”. Luciana, irmã de Yuri, informa que o aplicativo pediu comprovações de que o entregador estava logado no aplicativo no momento do acidente. A orientação dada a família foi para procurar diretamente a seguradora MetLife, a qual negou o seguro por falta de provas que vincule o acidente a rota de entrega do iFood.
A foto do acidente mostra o corpo de Yuri coberto no chão, ao lado da mochila com logo do iFood e o pedido que o rapaz iria realizar a entrega. De acordo com a nota do iFood, em caso de morte acidental a familia pode ser compensada em até 100 mil reais. O auxílio funeral é de 5 mil reais e ainda é possivel solicitar indenização caso o falecido tenha filhos menores de 18 anos. “Enquanto era conveniente, o Yuri podia rodar burlando o sistema na cara deles. Mas na hora do seguro, aí não pode” disse Luciana.
*com informação do The Intercept Brasil.
