Por Esther Solano, socióloga, professora da Unifesp e uma das organizadoras do ato, especial para os Jornalistas Livres
Domingo (11/6) celebrou-se o ato “Mulheres pelas Diretas e por Direitos”, no Largo do Arouche, centro de São Paulo, convocado por organizações, movimentos, entidades feministas e feministas autônomas.
Nós, mulheres, queríamos o grito e ontem tivemos grito.
Grito contra Temer, pelas Diretas e por nossos direitos. Contra a reforma trabalhista, a reforma da previdência, contra a PEC 55/2016, contra a PEC 29/2015 que veta o aborto legal. Contra todas as formas de violência sofridas por nós, mulheres. Contra a LGBTfobia. Contra o genocídio da juventude negra e periférica.
O ato foi lindo. Foi um ato de luta e foi de amor. De luta porque teve muita mulher guerreira por trás do palco, organizando o evento durante uma semana intensa. Teve muita mulher guerreira no palco: cantoras, poetisas, políticas, representantes de movimentos. Teve muita mulher guerreira na frente dele com uma plateia que vibrou em cada #ForaTemer e em cada palavra-pancada que saia do microfone. Foi um ato de amor, de abraço, de acolhida porque houve muita mulher negra, muita mulher periférica, houve mulheres trans com o microfone na mão. Muitas delas nunca teriam um lugar num ato da esquerda masculina. Muitas delas não só não têm voz na política reacionária e patriarcal dos donos do poder, como também sua voz é frequentemente anulada no campo progressista que supostamente está do nosso lado.
O lugar da mulher na História sempre foi o esquecimento, o silêncio, a margem. O lugar do invisível. Lugar de quem foi forçada a se manter na sombra. Lugar de quem teve a palavra negada.
Mas as mulheres não queremos mais a invisibilidade. Queremos sair da escuridão, do lar e queremos ganhar as ruas, as cidades, as escolas, os Congressos. Queremos conquistar os espaços que sempre foram masculinos. As mulheres queremos voz. As mulheres exigimos voz.
O momento é de luta e nós somos da luta.
Não queremos mais nem o esquecimento nem o silêncio.
“Nem recatada e nem do lar. A mulherada está nas ruas para lutar”
Ontem tivemos a palavra. Ontem nos sentimos representadas. Ontem a mulher de periferia esteve presente. Ontem a mulher negra esteve presente. Ontem a mulher trans esteve presente.
Homens de esquerda, isso é representatividade. Lembrem no próximo ato, no próximo comício, no próximo debate, na próxima mesa redonda. Sem representatividade, a esquerda não é esquerda.