Hoje Dilma é maior; o Brasil está menor

Foto: Lina Marinelli/Jornalistas Livres

Naquele 17 de abril de 2016, um grupo de Jornalistas Livres foi a Brasília mostrar a real face dos parlamentares que afastariam a primeira Presidente mulher eleita  pelo povo brasileiro. O motivo declarado? Pedaladas Fiscais. Hoje se confirma a suspeita: nunca foi nada disso. Naquele domingo abriu-se a sinuosa e obscura estrada que levaria ao duro golpe contra os brasileiros, seus direitos e seus interesses enquanto nação.

Em nome de Deus e da família, deputados cujo passado seria condenado em primeira, segunda e terceira instâncias – vivêssemos nós num país civilizado – deram um show de cinismo, hipocrisia e falta de caráter. Durante a votação, passamos vergonha aos olhos mundo. Nosso Congresso Nacional nos constrangeu. A injustiça teve sabor amargo. Nossos corações e mentes foram usurpados.

A classe média, que já era massa de manobra, assim permanece. Naquele abril, ela tinha batido panelas e ido às nas ruas apoiar o impeachment. A mídia tradicional, por sua vez, já insuflara o ódio à  Presidenta e ao Partido dos Trabalhadores com  matérias descaradamente manipuladas. Essa mesma voz midiática agora apóia os retrocessos do governo golpista e mantém o povo na mais sombria ignorância. Povo que agora paga o pato que a elite endinheirada nunca quis bancar.

O fatídico impedimento já era considerado ilegal. As tais pedaladas, quando existiram, não eram proibidas e outros presidentes e mandatários do executivo haviam usado do mesmo recurso. Não por coincidência, logo após o  afastamento, houve aumento dos salários do judiciário. Mais vergonha!

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), essa última representante legal de 102 sindicatos patronais industriais fluminenses, e outros patrocinadores do golpe se comportavam como detentores da verdade: “Fora Dilma! Fora PT! Contra a corrupção!”

O investimento foi alto. Empresários, banqueiros e multinacionais, além da imprensa, queriam a queda da Presidenta porque o interesse sempre foi a aprovação do projeto de terceirização, a Reforma da Previdência, a abertura do Pré-Sal ao capital estrangeiro. Não se incomodavam – nem se incomodam hoje – com as perdas de direitos e o atraso nacional. O Brasil incomodava no cenário internacional com seus mais de 80 mil jovens bolsistas espalhados pelo mundo, aprendendo tecnologia de ponta, bancados pelo governo brasileiro. Quanta ousadia pra um país que sempre forneceu matéria prima e mão de obra barata!

A partir daquele dia 17 de abril de 2016, tudo então ficou muito mais claro: o  alvo do golpe eram os pobres, os trabalhadores, os servidores públicos e nossas riquezas.

Com o passar desses 365 dias fomos vendo o desmonte de grandes empresas brasileiras, como a Petrobras, geradoras de empregos e de bem-estar social.  De sétimo no ranking da economia mundial, o Brasil foi despencando e hoje é um país inseguro para investimentos externos e para os trabalhadores. Os investimentos em tecnologia, em saúde e educação foram congelados e o desemprego disparou.

A cada dia, milhões de pessoas voltam a encostar na linha da pobreza extrema. E não é só nos números que se pode ver isso. Basta um passeio pelas  ruas das grandes cidades para ver famílias inteiras se abrigando embaixo de pontes e marquises, com seus pertences recém-comprados e ainda não quitados, sem condições de pagar nem um aluguel sequer.

No fim das contas, tudo está evidente: a elite precisa reconquistar seus privilégios, as multinacionais precisam entrar aqui para explorar nossas riquezas. Temos que voltar a ser o país subdesenvolvido, cabisbaixo, pobre e triste. Só não vê, ou finge que não vê, quem não quer. Ou quem saiu batendo panela e foi enganado pela manipulação desse processo – e insiste na cegueira.

Dilma, até agora, honrou cada um dos votos que recebeu. Até agora, denúncias e delações apenas confirmam: a Presidenta é honesta, portanto não deveria ter sido afastada. Desde sua campanha eleitoral, e durante seu mandato, sofreu as piores ofensas e calúnias. Foi chamada em cadeia nacional de leviana por Aécio, o perdedor. Foi xingada e achincalhada nas ruas. Ouviu ofensas e baixarias proferidas por uma elite grosseira e mal educada  – a mesma que havia lotado campos de futebol na Copa e ido a passeatas ordenadas pela Rede Globo e suas comparsas mentirosas – todas elas, por sinal, concessionárias de canais de TV que perderiam suas autorizações de transmissão pelo mal que causaram ao país. Se o país fosse sério.

Mas Dilma não cedeu à chantagens de Eduardo Cunha nem de ninguém.  Não cedeu às birras de Marcelo Odebrecht. Não compactuou nem  escondeu os erros de ninguém. Ela não se juntou ao que há de pior na escória parlamentar e empresarial do Brasil.  Foi punida sem ter cometido qualquer crime.

Os 367 parlamentares que naquele domingo promoveram uma mistura de circo dos horrores com show de comédia da pior qualidade votaram no impeachment homenageando o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra – o “Pavor de Dilma” nas palavras do fascista Bolsonaro – alegando “misericórdia à nação” e serem “contra o partido das trevas”. Eles não chegam nem perto  da força, coragem e integridade da Presidenta.

Ao contrário, são fracos, entreguistas, inimigos do Brasil.

Bem, não dá para esquecer aqui – já que estamos lembrando o pior desse momento do Brasil – de Miguel Reali Jr, Helio Bicudo e Janaína Paschoal, o trio de juristas que escreveram a mal-ajambrada defesa do impeachment. Janaína pode ter encenado o papel de maior sucesso de sua carreira. Mas não como advogada ou professora de Direito Penal da maior universidade do país, a USP. A advogada gritou, chorou, se descabelou (literalmente) até conseguir emplacar o pedido. Helio Bicudo e Reali Jr, bem, a história os julgará.

Hoje o povo brasileiro está assustado e perdido. Mas somos um povo bom, guerreiro e vamos buscar o que é  nosso por direito.

P.S – Quem diria, o próprio presidente golpista Michel Temer confirmou que fomos golpeados. Em recente entrevista à TV Bandeirantes disse que em 2015 Eduardo Cunha admitiu que só aceitou o pedido de impeachment de Dilma Rousseff porque o PT teria se recusado a dar-lhe os três votos no Conselho de Ética, o que preservaria seu  mandato de deputado. Na época, Cunha foi pego na mentira negando ter contas na Suíça. A prova de que Dilma foi vítima de uma vingança, no fim das contas, hoje está reforçada pelo próprio golpista Michel Temer. Veja aqui:

 

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