Haddad “se fosse pelo Bolsonaro este país estaria arrebentado”

Haddad em ato na Av. Paulista em 2019 Foto Lucas Martins / Jornalistas Livres

Os repórteres Kátia Passos e Sato do Brasil, dos Jornalistas Livres, entrevistaram com exclusividade o ex-ministro de educação, que já foi prefeito de São Paulo e rival do segundo turno presidencial em 2018, contra Bolsonaro (em partido), Fernando Haddad, na última quinta feira, sobre a situação do Brasil nesta pandemia do coronavírus (COVID-19).

Haddad ressaltou a importância das mídias alternativas e elogiou o trabalho dos Jornalistas Livres, como uma forma de colocar outras vozes no debate público “a população não vai formar juízo sobre as coisas, com liberdade, se ela não tiver submetida a pluralidade de vozes que o Brasil tem”. Sobre um cenário pós coronavírus respondeu que existe um “pacote de iniciativas parlamentares para o pós pandemia, mas também estamos lutando muito para  o governo Bolsonaro cumprir com as obrigações mínimas do Estado Brasileiro, em relação à três segmentos específicos da sociedade Brasileira. O primeiro deles: a população que ganha até dois salários mínimos. Precisamos dar condição dessas pessoas protegerem sua saúde”, ele lembrou que o presidente ofereceu, inicialmente, duzentos reais de auxílio emergencial para as famílias de baixa renda, mas graças aos movimento  da oposição foi possível alcançar entre seiscentos e mil e duzentos reais de auxílio. O segundo segmento, segundo Haddad, é o das “pessoas que empregam  “o microempresário, o pequeno empresário, não vão ter recursos para para a folha de pagamento se não tiver uma linha de crédito muito barata e com prazo de resgate muito longo” e o terceiro segmento são os prefeitos  governadores que “tiveram uma queda de arrecadação drástica” no contexto das dívidas dos entes com a união.

O ex-prefeito apontou que “se fosse pelo Bolsonaro este país estaria arrebentado. Porque ele não tomou uma medida coerente com a situação de crise que nós estamos vivendo. Ele só faz ‘twittar’, só sai para ato contra democracia na frente de quartel do exército, expondo as pessoas, tossindo na cara das pessoas. É um irresponsável, não tem a menor compostura para exercer o cargo que exerce. Estamos em uma situação muito delicada e quem está trabalhando forte é a oposição”.

Haddad ponderou que, sobre a posição da oposição, movimentos sociais, periféricos e de esquerda, este momento pode abrir “a subjetividade das pessoas para o novo. Isso depende muito da nossa postura”. Para ele existem duas posturas diante de cenários como o que é causado pela pandemia  existem alternativas “você se recolhe e fica com medo, se agarra aos velhos dogmas em busca de segurança”, mas também pode “botar a imaginação para funcionar e repensar a formas de vida” e com isso apontou para o antigo projeto de Eduardo Suplicy, “a renda básica de emergência pode dar lugar à renda básica de cidadania. Isso pode valer, inclusive, para além das fronteiras nacionais. O Brasil tinha moral, até outro dia, para propor formas inovadoras. O Brasil tinha acabado com a fome dentro de sua fronteiras e era uma voz para acabar com a fome no mundo”.

Sobre as polêmicas entre o governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), e Bolsonaro na forma de controlar a disseminação do coronavírus Haddad falou que “o governo do estado de São Paulo, até por contraste com o governo federal, demonstrou que está afim de falar sério com a população. Ele não deveria perder este capital político, com a população de São Paulo. Para não perder ele precisa ser muito sério nas medidas que vai tomar, precisa demonstrar que qualquer tipo de relaxamento e qualquer cronograma têm que estar embasado em dados técnicos”. Haddad apontou o do papel da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que tem sido reconhecida como uma liderança exemplar na luta contra o vírus.

Haddad lembrou sobre a situação do ex-presidente Lula e a relação da mídia “justiça é uma coisa que tem que estar distanciada, com venda nos olhos, sem saber quem vai julgar e com base no autos. É isso que a gente espera do poder judiciário. Tomara, queira Deus, pela Democracia, pela justiça e pela liberdade que o Supremo [Tribunal Federal] possa, com sobriedade e com base nos argumentos decidir sobre isso”. A possibilidade de cobrança de grades rendas foi colocada como alternativa com chances reais neste momento e Haddad afirmou “eu sempre fui favorável”. Ele concluiu falando sobre recomendações de livros para ler durante a pandemia. 

Veja a entrevista na íntegra

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