Golpe é Golpe e renúncia não é covardia

Fernando Lugo na semana em que foi deposto no Paraguai, em 2012 - - foto: www.mediaquatro.com

Ontem tivemos o texto de um importante historiador e intelectual de esquerda chamando de covardes Evo Morales e outros líderes históricos da esquerda e centro-esquerda que renunciaram a seus legítimos mandatos populares diante de pressões golpistas. É fato que depois ele escreveu um novo texto se reposicionando, mas ainda assim questionando “a quem foi útil?” a renúncia de Evo. Discordamos totalmente dessa linha de pensamento! E temos de levar em conta, ainda, que se trata de um novo tipo de golpe na América Latina ao contar, também, com forças milicianas e fanáticos fundamentalistas neopentecostais que acreditam num perversão total da mensagem cristã para justificar a tortura e morte de inimigos políticos, como se Cristo não tivesse sido torturado e morto por motivos políticos. A análise desse novo tipo de golpe, contudo, merece outro texto.

Nas ruas de Assunção, havia a possibilidade de resistência – foto: www.mediaquatro.com

Sobre a escolha de Evo, estivemos no Paraguai em 2012 e havia uma possibilidade real de resistência de Fernando Lugo perante o golpe disfarçado de impeachment relâmpago. No entanto, os telhados em volta da principal praça da cidade estavam repletos de militares armados. Naquele mesmo local houve um massacre num golpe anterior. Qualquer palavra errada dele levaria a um banho de sangue imediato. Em 1964 tínhamos uma frota de navios de guerra estadunidenses estacionada bem próximo do litoral. No Chile em 1972 o palácio do governo, La Moneda, foi efetivamente bombardeado e o presidente Salvador Allende se matou pra não ser torturado e humilhado em praça pública. Na Bolívia, além da prefeita quase linchada, temos notícia das casas de dois governadores, da irmã do Evo e do reitor da universidade incendiadas.

Quanto sangue de civis desarmados vale a resistência de um governante? – foto: www.mediaquatro.com – Paraguai 2012

Qual o preço, em sangue, merece ser pago pela resistência armada? Podemos até não concordar com a renúncia ao cargo, como aconteceu com Evo, ou à luta como aconteceu com Jango, mas NUNCA podemos chamá-los de covardes. Tem de ter coragem, e muita, para aceitar quando a batalha está perdida e não botar inutilmente pilhas de cadáveres em sua biografia.

Veja Aqui nossa matéria sobre o golpe no Paraguai em 2012

Veja Aqui o novo texto intelectual citado no primeiro parágrafo se reposicionando e Aqui o texto original, ambos em sua coluna no site Brasil247

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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