por Franklim Peixinho, parceria JL – Ciranda – Instituto Hori
O artigo relaciona a personagem "neguinha atrevida" que questiona brancos no texto "racismo e sexismo na cultura brasileira" de Lélia Gonzalez com a trajetória de Gloria Maria.
Mais uma “negrinha atrevida” se vai para Orun, a azeviche Gloria Maria.
Na mesma semana, 01/02, Lélia Gonzalez faz aniversário. Não celebramos a morte, pois em nossa ancestralidade que vem de África, os nossos sorrisos não desaparecem, seguem empoderando o povo preto.
Glória Maria foi atrevimento nos espaços que irrompeu. Expulsa do círculo branco dos militares, por ousar corrigir o tal do Figueredo, pelo uso obsoleto do pretuguês, em uma entrevista coletiva.
Sim, pretuguês, pois irrompemos na decolonialidade para construir em uma metáfora do Abaporu. Esta língua que tem caçula, samba, moleque, quitanda… Uma nação que insiste em epistemicídio e genocídio letal, mas fracassado, contra o povo preto e indígena, pois existimos e resistimos.
O branco não sabe o seu lugar. Glória Maria sabe. Manoel Soares, Maju.. todos sabem qual o lugar do branco. E, não é no lugar de fala pelo provo preto. Chegamos e precisamos, por outros tantos, enfrentar as poetas brancas que invisibilizam pretas e pretos.
Sim, o “racismo está na alma” do branco que não se enxerga, que não vê seus pares retintos e transfere quase in totum a um homem branco a leitura de uma trajetória desta Yabá em terra.
Ou Bial tem a mesma vivência racial que Manoel Soares? Reverenciar Gloria Maria é exaltar a sua trajetória e enfrentamento.
Ainda não entenderam Gonzalez. Insistem em ler e falar pelo povo preto. Porém há “negrinhos e negrinhas atrevidas”, que interrompem a palestra da branquitude, resgatando a humanidade que a pósmodernidade colonial ainda tentar desconstruir em povos não brancos.
Glória Maria, a negrinha atrevida, foi cirúrgica em diversas leituras sobre a questão racial. Sobretudo, no que toca interseciocinalidade que atravessa com mais carga a mulher preta. Ela deixa um legado, que segue reluzente tal seu sorriso e pele azeviche.
A morte não existe para nós, caso contrário não incomodaríamos a branquitude.
Saudamos a Yabá Gloria Maria em seu caminho no Ayê e agora no Orun.
O autor Franklim Peixinho é negro, Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad do Museo Social Argentino (2019), Doutorando em Difusão do Conhecimento pela Universidade Federal do Estado da Bahia (2021), Mestre em Gestão de Políticas Públicas e Segurança Social pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano – UFRB (2014). Mestre em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas (UFRB – 2019), pós-graduado em História e Cultura no Brasil (2017). Possui especialização em Ciências Criminais pela JUSPODIVM (2011), e em Direito Constitucional pela Universidade Estácio de Sá (2016). É bacharel em Direito pela Faculdade Baiana de Ciências (2009) e possui Licenciatura em História (2013) pela Fundação de Tecnologia e Ciências. Integra o Grupo de Pesquisa História e Memória da Educação Brasileira da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e o grupo de Pesquisa ”Quilombismo de Abdias Nascimento e Memórias da Plantação de Grada Kilomba” da Universidade Federal da Bahia. Professor e Coordenador pedagógico do projeto ”Brocano no ENEM” do Instituto Hori. Professor da disciplina “Drogadição e Toxicologia” do curso de formação de servidores prisionais da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado da Bahia. É coordenador do Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade Brasileira do Recôncavo.