Uma campanha política se faz com diferentes ações: atos públicos, caminhadas, conversas porta a porta, com a produção de materiais gráficos, vídeos e impulsionamento de conteúdos na internet. Mesmo com todas essas opções, Gilson Machado (PL), candidato ao Senado em Pernambuco, aplicou 87,92% de todo o seu orçamento apenas na produção de adesivos e impressos. O valor empenhado por Machado, ex-ministro do Turismo de Bolsonaro, ultrapassa a casa dos R$ 1,7 milhão de reais, pagos a um único fornecedor, a Unipauta Formulários Ltda, segundo consulta realizada no portal DivulgaCandContas 2022, no dia 21 de setembro. Realizada nos primeiros doze dias de campanha, a despesa aparece em doze lançamentos identificados na plataforma – sendo dez com nota fiscal registrada e dois com notas sem a identificação devida. Em função da movimentação financeira atípica, Dani Portela (PSOL), vereadora do Recife e candidata a deputada estadual, protocolou uma representação junto ao Ministério Público Eleitoral pedindo a apuração de irregularidade que teria sido cometida por Gilson Machado, quanto à aplicação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha.
A empresa Unipauta é uma velha conhecida do noticiário local. Em 2020, ela foi alvo de Auditoria do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, que culminou na abertura de inquérito por suspeita de fraudes em licitações em alguns municípios de Pernambuco. A Unipauta Formulários é integrante do grupo empresarial pertencente a Sebastião Figueiroa de Siqueira. A Polícia Civil de Pernambuco, durante a Operação Ripstop, deflagrada em junho de 2020, identificou que o grupo faria parte de um esquema de lavagem de dinheiro, tendo fraudado processos licitatórios desde 2017.
“Quando fizemos a verificação das despesas, percebemos que a campanha de Gilson Machado é responsável por 43% dos lucros da Unipauta Formulários nestas eleições”, denuncia Dani Portela. “Pedimos que as despesas sejam investigadas com o rigor necessário, para evitar o mau uso do dinheiro público neste pleito.” O mesmo pool de Siqueira também é investigado na Operação Casa de Papel, que apontou fraudes em compras durante a pandemia de Covid-19.
Em Pernambuco, nenhuma outra candidatura ao Senado efetuou despesas com impressos e adesivos em valores próximos. O candidato com maior aporte financeiro, André de Paula (PSD), destinou pouco mais de R$ 700 mil; o que equivale a 27,11% do total dos recursos recebidos. Os outros candidatos seguiram na mesma média proporcional: entre 20,65% e 36,86% para a confecção de materiais impressos de campanha, o que chega a uma diferença de 400% em relação às despesas declaradas por Machado.
Quando vamos verificar as despesas de candidatos do Partido Liberal em outros estados, a discrepância fica ainda mais evidente. Em São Paulo, Marcos Pontes, candidato bolsonarista ao Senado, teve uma receita total, declarada no DivulgaCand, de mais de R$ 4 milhões e destinou para impressos e adesivos R$ 437.735,48, o que equivale a 17,07% do total. No Rio de Janeiro, o candidato a reeleição Romário recebeu cerca de R$ 5 milhões, destinando R$ 61.430 para a mesma despesa. O gasto de Gilson Machado é três vezes maior que o dos seus dois colegas de partido. Vale salientar que o eleitorado de São Paulo e do Rio de Janeiro reúnem 47,4 milhões de pessoas. Já Pernambuco, tem 7 milhões de eleitores aptos para o pleito de 2022.
Na representação protocolada por Dani Portela, há evidências de que a campanha de Gilson Machado não é responsável pela totalidade da confecção de seus adesivos e panfletos, sendo parte destas despesas custeadas pela campanha do candidato a governador Anderson Ferreira, também do PL. “É de se estranhar que uma campanha que alardeia o combate à corrupção tenha escolhido justamente uma empresa com um histórico de investigações tão robusto. O povo pernambucano merece explicações”, finalizou a vereadora do PSOL.
Uma resposta
Falem de Lula e seus comparsas.