Essa semana boas matérias sobre os índios Panará, os Kreen-Akarore de antes, comemoraram os 20 anos da volta dessa etnia para as terras tradicionais, após quase desaparecerem, entre tantos outros, da história do país. Brasil, país para desaparecimentos, triste sina.

Gigante sempre é o homem que sobrevive. Talvez por isso, em 1973, tantas manchetes tenham determinado que os Kreen- Akarore, os índios gigantes, tenham sido encontrados entre tantos outros que padeciam. Mato Grosso, um estado para se morrer, um estado de covas. Curioso perceber que sempre sobrepujamos o ser entre nossas surpresas no dia a dia. Carecemos de gigantes, mas logo nos cai a ficha que é tudo gente mesmo, que no mesmo saco sofre.

Hoje, em tempo tão desanimador àqueles que neste planeta agora se envolvem, onde ração é oferecida aos famintos da pátria celeiro do mundo ou onde em terras de refugiados vemos tantos migrando para salvar a vida, de Myanmar à Somália, da Síria à Venezuela; quem resiste agiganta-se.

Conheci os Panará em 2006, na grande aldeia Nãsepotiti. Retornei em 2007, sempre acompanhando profissionais de saúde da Escola Paulista de Medicina, que desde 1973 zelaram, entre tantas dificuldades, pelos cuidados ao grupo. Há dez anos eles haviam saído das terras do Xingu e reconquistavam as terras ancestrais. Todos grandes homens de média estatura, tantas crianças e mulheres fortes. Gigantes eram os medos que a todos cerceavam, vi bem, gigante era a vontade de vencer.

Em 1973, as ditaduras ardiam na América Latina e no Brasil também se contatava povos isolados, nunca vistos. Em 2017 o país nem tanto mudou seus métodos. As lavouras agigantaram-se, é verdade, e várias etnias ainda evitam o ocidente, se recolhem. Ah, triste saber que as terras vastas alimentam o planeta e inventam ração na metrópole mor para os famintos. Ah, o índio foge, o mato desce, a água seca. O agro será tudo.

Panará vive gigante hoje. Queriam tirar o índio, o índio voltou, insiste. Viva.

Links para se informar sobre o tema:

 

https://panara.socioambiental.org/

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77011998000100011&script=sci_arttext

http://vml029.epm.br/handle/11600/1114

http://vml029.epm.br/bitstream/handle/11600/22984/Tese-14201.pdf?sequence=1&isAllowed=n

 

 

 

https://www.youtube.com/watch?time_continue=66&v=4nQD0ey-6HQhttps://www.youtube.com/watch?v=Wwr_SA2ou3k

 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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