Fuvest tem notas de corte maiores para escola pública e para pretos, pardos e indígenas

Por Davi Felipe da Silva**

Pela primeira vez na história há cotas na prova da Fuvest. O exame que é realizado por alunos que pretendem ingressar na Universidade de São Paulo (USP) adotou essa medida para o vestibular deste ano, reservando 37% das vagas para alunos de escolas públicas, porém, apesar das notas de corte terem caído para maioria dos cursos, alguns cursos tiveram patamares de corte maiores para os cotistas.

Dentre as modalidades de cotas houve uma destinada para pessoas oriundas de Escolas Públicas (EP) e outra para Pretos, Pardos e Índigenas (PPI) que estão concorrendo separados da Ampla Concorrência (AC). No entanto, dos 108 cursos oferecidos pela USP, 30 cursos tiveram notas de corte superior para EP e 14 tiveram notas de corte maiores para PPI em comparação com as notas necessárias para a Ampla Concorrência.

O destaque foi para Filosofia, em que para a modalidade EP foi necessário 38 pontos enquanto para a ampla concorrência foi preciso apenas a nota mínima da Fuvest, que é 27. Outro caso foi o curso de Engenharia Ambiental em Lorena em que a modalidade PPI teve nota de corte 44 e na ampla concorrência 28, 16 pontos a mais.

A injustiça foi percebida principalmente em cursos mais populares entre os alunos de baixa renda. Este foi o caso em todos os cursos da FFLCH, exceto na Geografia que não ofertou cotas pela Fuvest para alunos de Escola Pública, mas o disparate também ocorreu em outros cursos não tão populares como Odontologia.

Este foi o caso de Luana Azevedo, 17, que prestou vestibular para o curso de Letras e atingiu 30 pontos, o suficiente para passar na Ampla Concorrência em que necessitava de 27 pontos, mas insuficiente para a modalidade Escola Pública em que eram necessários 31 pontos. “Pra mim, isso só mostra a elitização das universidades. Quer dizer, só reforça essa ideia. Não é segredo de que as universidades, em especial a USP, são compostas e arquitetadas para a elite, e vem cada vez mais, excluindo os ‘benefícios’ que estudantes de escolas públicas e estudantes pretos, pardos e indígenas tinham” relata a estudante que a principio ficou surpresa com a incoerência das notas de corte.

Para estudantes da universidade, ao invés de estabelecer um mínimo de 37% de alunos advindos de escolas públicas em cada curso, a FUVEST colocou um máximo de 37%, reservando 63% das vagas para alunos de escolas particulares, já que estes precisam acertar menos questões para passar para a próxima fase.

Os cursos em que isso ocorreu, foram:

ESCOLA PÚBLICA – Ciências Sociais, Editoração, Filosofia, Gestão de Políticas Públicas, História, Letras, Licenciatura em Educomunicação, Pedagogia, Pedagogia – RP, Têxtil e Moda, Ciências Biológicas, Ciências Biológicas – Piracicaba, Educação Física e Esporte, Enfermagem, Enfermagem – RP, Fonoaudiologia – RP, Odontologia, Ciências Físicas e Biomoleculares – SC, Computação, Engenharia Ambiental – Lorena, Engenharia Bioquímica, Engenharia de Materiais – Lorena, Física Médica – RP, Geologia, Informática Biomédica – RP, Licenciatura em Ciências Exatas – SC, Química, Química – RP, Química (Bacharelado e Bacharelado com Atribuições Tecnológicas), Sistemas de Informação – SC.

PRETOS, PARDOS E ÍNDIGENAS – Gestão Ambiental na USP Leste, Gestão de Políticas Públicas, Letras, Licenciatura em Educomunicação, Ciência dos Alimentos, Engenharia Florestal, Fonoaudiologia – RP, Engenharia Ambiental – Lorena, Engenharia de Materiais – Lorena, Física Médica – RP, Licenciatura em Ciências Exatas – SC, Matemática Aplicada – RP, Química – RP, Química  (Bacharelado e Bacharelado com Atribuições Tecnológicas). RP – Ribeirão Preto, SC – São Carlos

 

*Consulte aqui as notas de corte para todos os cursos: https://www.fuvest.br/wp-content/uploads/fuvest_2019_notas_de_corte-1.pdf

** Davi Felipe da Silva. Estudante de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). É Coordenador Geral da União Estudantil de Embu das Artes e também coordena o Cursinho Popular João Batista de Freitas.

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