Fora, Bolsonaro! Queremos vacina e mudança do modelo econômico, já!

É preciso urgentemente consciência, coragem, ousadia e assumir o lado certo na história: lutar por condições de vida com dignidade para todos e todas, sobretudo para os/as empobrecidos/as, explorados/as, injustiçados/as

Um sopro de esperança irradiou-se para todo o Brasil a partir de São Paulo, dia 17 de janeiro de 2021, dia histórico para o povo brasileiro, com a vacinação da primeira pessoa do país contra a covid-19: Mônica Calazans, mulher, negra e enfermeira. A segunda a receber a vacina foi Vanuza Kaimbé, indígena, técnica em enfermagem e assistente social, de uma aldeia, em Guarulhos, SP.

Por Gilvander Moreira[1]

Após muita pressão do povo e das forças vivas da sociedade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) teve que liberar emergencialmente as duas primeiras vacinas: a CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca, que será produzida no Brasil pela Fiocruz.

Continuemos a luta pressionando todas as autoridades para que todo o povo brasileiro seja vacinado o mais rápido possível. Vacina para todos/as, já! Vacina é uma dádiva da vida e de Deus elaborada pela dedicação de pesquisadores/as e cientistas. Malditas as pessoas que se colocam contra vacinar o povo! Só uma pessoa medíocre ou criminosa, que se deleita em ampliar a pandemia, pode se colocar contra o ato de vacinar a população. A vacina, embora imprescindível, não é suficiente! É preciso acolher e levar a sério os alertas repetidos à exaustão pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por infectologistas e epidemiologistas de que é preciso higienizar as mãos com frequência, manter o distanciamento corporal e social e usar máscaras. Essas ações são necessárias para superar a pandemia do novo coronavírus até que todo o povo tenha sido vacinado e a pandemia superada. Em tempos de pandemia, além de imoral, é atitude criminosa promover e/ou participar de aglomerações. Da mesma forma, é crime quando quem tem o dever de fiscalizar as aglomerações não fiscaliza.

Tornou-se intolerável a continuidade do (des)governo federal fascista, genocida e ecocida. Fora, Bolsonaro, já, e todo o seu (des)governo! O presidente da Câmara dos deputados continuar segurando mais de 60 pedidos de impeachment do presidente Bolsonaro é uma injustiça e uma afronta à Constituição Federal. Outra atitude asquerosa é a maioria do Congresso Nacional continuar sendo cúmplice do descalabro do (des)governo federal. O Supremo Tribunal Federal (STF) também está sendo conivente à medida que garante a continuidade do chefe do Executivo mesmo diante de muitos indícios de crimes de responsabilidade, entre outros que ainda não foram julgados. Quem continua apoiando o governo federal está pecando, pois está sustentando uma política de morte avassaladora. É necessário mudança do modelo econômico neoliberal (colonialista) que impera no Brasil desde 1992. O grau de superexploração da classe trabalhadora, da mãe terra, das fontes de água e dos biomas está levando à exaustão as condições de vida no Planeta Terra, nossa única Casa Comum. O mito do progresso e do desenvolvimento econômico só para a classe dominante precisa ser freado, pois a devastação socioambiental já ultrapassou os limites suportáveis pelo nosso planeta posto no altar do sacrifício do ídolo mercado.

Solidariedade com povo de Manaus e todas as pessoas que estão sofrendo é uma necessidade, mas não basta. Não basta a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fazer apelo conclamando a solidariedade de todos/as para que chegue oxigênio em Manaus para estancar o “campo de concentração” que se tornou os hospitais abarrotados de pacientes, em colapso, com centenas de pessoas morrendo por asfixia na capital amazonense. A CNBB também precisa exigir formalmente o impeachment ou a interdição de Jair Bolsonaro e de todo o seu (des)governo. Em 1992, junto com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional), a CNBB foi signatária do pedido de impeachment do corrupto e entreguista ex-presidente Collor de Melo.

O (des)governo federal não está sendo apenas omisso e demonstrando descaso com relação à pandemia e a todas as outras áreas desgovernadas. Sua atitude é bem mais grave e criminosa: está agindo de forma planejada, com requintes de crueldade, para incrementar uma necropolítica que está matando o povo brasileiro de ‘mil formas’. O Congresso Nacional, o STF e todo o Legislativo e o Judiciário, em todos os níveis, via de regra, não estão sendo apenas omissos, mas também cúmplices, já que são coniventes com a política de morte do Executivo federal, que está destruindo o Brasil.

Parte da esquerda brasileira também não está sendo apenas omissa: ao continuar olhando prioritariamente para o próprio umbigo, está sendo cúmplice das injustiças e violências que se abatem sobre o povo. Ficar querendo simplesmente resgatar o estilo de governo do Partido dos Trabalhadores do passado não trará solução capaz de ir às raízes da tremenda desigualdade social e violência socioambiental que campeiam em todo o território nacional.

A religião se tornou no Brasil uma questão política gravíssima, uma vez que grande parte dos líderes religiosos, sejam pastores, padres ou leigos são omissos diante da escalada de violência que assola o povo, a mãe terra, a irmã água e todos os biomas. E, pior, mais do que omissos, são cúmplices, coniventes e sustentadores da política de morte reinante no nosso país, pois estão abusando do nome de Deus e de Jesus, torturando textos bíblicos para justificar posturas criminosas, preconceituosas, fundamentalistas, moralistas, idolátricas. O milagre que Jesus Cristo mais gostava de fazer era curar cegueira, não de forma mágica, mas a partir de um processo de solidariedade que gerava um engajamento pessoal e coletivo profundos na luta por justiça. Entretanto, o que mais os falsos líderes religiosos fazem hoje no Brasil é furar os olhos das pessoas, cegá-las, com uma religião aburguesada, marcada pela ideologia da prosperidade, de forte apelo espiritualista e intimista que reduz a dimensão religiosa a um processo de autoajuda. Agem assim para lucrar e manter seu poder e riqueza à custa da exploração e empobrecimento cada vez maior do povo. Urge resgatar a dimensão social da fé cristã. A gravidade do momento exige de todas as pessoas de boa vontade que retomem a opção pelos pobres e ao fazê-lo assumam uma clara opção em defesa da classe trabalhadora, pois é impossível ser ao mesmo tempo discípulo/a de Jesus Cristo e participar da lógica capitalista que reproduz e exponencia cotidianamente a desigualdade social.

Portanto, é preciso urgentemente consciência, coragem e ousadia e assumir o lado certo na história: lutar por condições de vida com dignidade para todos e todas, sobretudo para os/as empobrecidos/as, explorados/as, injustiçados/as. E isso passa, necessariamente, por lutar pela queda desse (des)governo federal que aí está, pela mudança desse modelo econômico que só faz crescer cada vez mais a desigualdade social e a destruição ambiental.[1]

Em tempo: Prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, VETE o PL 142/2017, porque é: autoritário, colonialista, racista institucional e estrutural, etnocêntrico, higienista, injusto, inconstitucional, viola a Convenção 169 da OIT, da ONU; atende ao lobby das grandes empresas de caçamba, e não resultará em bons-tratos dos cavalos, imporá miséria a mais de 10.000 famílias carroceiras em BH e RMBH. Proibir o trabalho dos/as carroceiros/as violenta ainda a história de Belo Horizonte, pois o carroceiro é um ofício e um modo de vida tradicional, protegido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da ONU, tratado do qual o Brasil é signatário desde 2004! Substituir cavalos por motos é absurdo capitalista e contra as normas ambientais internacionais que indicam a urgente necessidade de reduzir a emissão de gás carbônico nas cidades! No meio dos/as carroceiros/as existem muitos ciganos que também é Povo e Comunidade Tradicional, também protegido pela Convenção 169 da OIT da ONU.

19/01/2021

 Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 – Palavra Ética na TVC-BH: Salvar vidas na Pandemia e defesa dos Geraizeiros do norte de MG-27/6/2020

2 – Palavra Ética na TVC-BH: Quarentena para salvar vidas, mineração em Ibirité/MG, não; Quilombo Braço

3 – Frei Gilvander: “Salvar vidas agora, antes que seja tarde!” – Na luta por direitos – 16/4/2020

4 – Quarentena para salvar vidas/2a Parte/Frei Gilvander/Rádio Independente FM 104,9/Ichu/BA- 07/4/2020

5 – Quarentena para salvar vidas – Frei Gilvander/ Rádio Viva Brasil FM – Três Corações, MG – 31/3/2020

6 – Coronavírus: como vencer o capitalismo de desastre?

7 – CORONAVÍRUS, CLIMA E CAPITAL: a irracionalidade destrutiva do capitalismo

8 – PANDEMIA: ESTE SERÁ O FIM DO CAPITALISMO?!!!


[1] Gratidão à Carmem Imaculada de Brito, doutora em Sociologia Política pela UENF, que fez a revisão deste texto.


[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: [email protected] – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br      –       www.twitter.com/gilvanderluis        –    Facebook: Gilvander Moreira III

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. IMBECILIDADE SEM LIMITES, sr. Gilvander. Meus pêsames

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