Geraldo Elísio, jornalista, escritor e artista multimídia em Belo Horizonte
Tentar mais de 50 anos depois de passado o tufão provar que não existiu o Golpe Militar de 1964 só pode ser considerado o ápice da loucura. Exatamente a situação em que vive o Brasil. Em pleno auge da Guerra Fria o mundo era um. Hoje, o planeta é outro. Correlações de forças mudaram em todos os sentidos.
Vietcongs, Sierra Maestra e outros ícones de tais tempos agora são apenas lembranças. Bolsonaros, Heleninhos e outros decrépitos – sabem os exércitos vividos por eles -, hoje são história.
As multidões de tropas se convertem em unidades de drones e mísseis em substituição às armas passadas. Visores das armas modernas, satélites e mísseis desenham futuros com rapidez antes impensável em holocaustos a exibir a logo do apocalipse de João.
Isto a quem interessa? Aos gananciosos de plantão? Entre eles falsos milagreiros a acumular fortunas com presumíveis gastos no céu? Onde consta não há a mínima possibilidade de preocupação com as questões do tipo mais ou menos valia? Ou tudo se resume mesmo em torno dos menos informados em seu desespero sei lá por que apegados à ideia de subsidiar a malandragem de alguns corretores de vagas no céu.
Dizem os espanhóis: “Yo no creo en brujas, pero que las hay, hay”.
Bruxos da arte da guerra – perdão Sun Tzu – sabem bem de segredos que os tornam diferenciados de lideranças de hoje. Como, por exemplo, o Capitão Cloroquina, o Heleninho, gente que, ao final do Golpe de 64 foi posta para correr pelo general Ernesto Geisel, atormentado por diabruras antidemocráticas feitas por eles.
E entre tantos o ministro Paulo Guedes da vida, com teses econômicas ultrapassadas. Mensageiro de outros a pensar construir nova civilização em mundos para, de longe, assistirem o fim do planeta Terra pós a avassaladora hecatombe. Suponhamos ser isto possível. Tais “gênios” estarão aqui e vivos para participar do projeto?
Em tempos de pandemia, com sobra exagerada de tempo aconselho ver um filme chamado O doutor Fantástico, onde um general insano que acredita que os comunistas planejam dominar o mundo, dá ordens para bombardear a Rússia, iniciando o processo de guerra nuclear. Ao mesmo tempo, o presidente e seus assessores do Pentágono tentam desesperadamente parar o processo. O filme é de janeiro de 1964 (Reino Unido). Direção de Stanley Kubrick. Atuação magistral de Peter Sellers.
A realidade brasileira, no entanto, está mais para o Rato que ruge, outro filme imperdível. Pequeno país em grave crise financeira declara guerra aos Estados Unidos. Como perderão a guerra, seus governantes receberão ajuda para se reerguer. Assim, seus problemas econômicos terminarão.
Óbvio uma relação com o Plano Marshall, programa de ajuda econômica dos EUA aos países da Europa Ocidental com o objetivo de reconstruí-los após a II Guerra Mundial. O objetivo do plano era reconstruir economicamente os países europeus ocidentais que foram destruídos ou que sofreram perdas com a ocorrência da guerra. De novo estrelado por Peter Sellers e rodado na Inglaterra.
E assim 20 homens armados de arcos e flechas pegam uma barcaça, atravessam o oceano, chegam à América e tudo corre bem. Mas um problema acontece: eles ganham a guerra. E agora o que fazer? Principalmente em termos de Brasil, por não se tratar de uma película, mas da vida real? Ratos não faltam e nem mesmo juízes ladrões.
Tambores de guerra
Desde a inopinada renúncia de Jânio Quadros, tentativa falha de golpe de estado, os militares brasileiros – sempre prontos a participar de trapalhadas do gênero – queriam impedir a posse do vice João Goulart, então em viagem à China. Houve reação do governador Leonel Brizola, que ganhou o apoio do comandante do III Exército, general Machado Lopes.
Eles seriam bombardeados por aviões da Força Aérea Brasileira, só não ocorrendo o episódio graças a intervenção de um contingente de sargentos da FAB. Esvaziaram os pneus dos aviões, salvando o Palácio do Piratini, em Porto Alegre, enquanto Jango retardou mais um pouco a sua permanência em Pequim.
Para solucionar a crise, surgiu o ex-presidente Tancredo Neves como primeiro-ministro e, mais tarde, Osvaldo França Júnior como escritor, que acabou sendo expulso da Aeronáutica. Se OFJ se imortalizou como escritor, outra reação de Brizola pôs fim ao parlamentarismo voltando a funcionar no Brasil o regime presidencialista.
Novamente em cena militares e civis aptos a desfechar sobre o Brasil outro regime golpista, ocorrido em 31 de março de 64. Um dos líderes golpistas, o comandante geral da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel José Geraldo de Oliveira, posteriormente deputado estadual por Minas – o berço do golpe – me disse no dia 28 de março de 64: “Todos os comunistas possíveis já estavam presos”.
Na época, eu era chefe do jornalismo da ZYU-4 – Rádio Cultura de Sete Lagoas. Vinte dias antes do golpe recebi um telefonema do então prefeito da cidade a me convidar a jantar com ele em sua residência.
– E não se esqueça de levar o gravador, avisou.
Assustei-me com o grande número de viaturas do EB, da FAB e da PMMG. Fui apresentado ao general Carlos Luís Guedes que, a pedido de Vasconcelos Costa, professor de Direito Internacional da UFMG, deu entrevista para a ZYU-4. Tema: O perigo da comunização do Brasil.
De madrugada, quando as autoridades de Belo Horizonte retornaram à capital, o médico sete-lagoano, Afonso Viana, resolveu indagar ao capitão Tomé (EB), sediado na cidade, a respeito do risco do cabo Anselmo. O militar riu e informou que Anselmo era agente duplo. A União Colegial de Sete Lagoas não acreditou em minha informação.
Dois dias depois, na praça principal da cidade um forte conflito envolvendo a TFP – Tradição, Família e Propriedade – e estudantes. No dia seguinte fui mobilizado para entrevistar o padre Lage e o engenheiro Otávio Elísio Alves de Brito – no futuro pretérito um militante tucano.
O telefone da redação tocou logo após a fala dos dois. Uma voz em staccato me pediu para guardar a fita. Disse que só poderia atender com a ordem do proprietário. O homem disse obrigado e, dez minutos depois, o telefone tocou de novo. O dono da emissora pediu para eu guardar a fita. Deixei-a trancada em uma gaveta de minha mesa.
Em 31 de março de 64 tropas havia golpistas cortando a avenida Policena Mascarenhas rumo a Brasília. Jango deposto e exilado. E seguiram-se 21 anos de feroz repressão. Prisões, torturas, cassações de mandatos, guerrilhas, censura e liberdades suprimidas. Uma das primeiras prisões foi a do padre Lage, em Brasília.
Dois dias depois, um militar do EB aparece em minha sala para buscar o documento. Disse que a rádio, não dispondo de recursos, havia usado a fita para gravar futebol amador. Irritado, afirmou que eu não seria preso por ser um imbecil. Confesso ter me sentido bem com a definição.
O tempo voa
Anos mais tarde, já havia me mudado de Sete Lagoas para Belo Horizonte. Repórter do jornal Estado de Minas. Há pouco o também jornalista Marcos de Sá Corrêa, da extinta edição impressa do Jornal do Brasil havia publicado uma série de reportagens denunciando a participação de tropas norte-americanas no golpe de 64, no Brasil. Matérias publicadas do dia 18 a 20 do mesmo mês.
Corria o ano da graça de 1977. Mas ainda vigiam o AI-5, a Lei de Segurança Nacional e outros mimos nazistas ofertados aos opositores.
Estava redigindo um texto qualquer na redação. O telefone tocou e fui chamado à sala do editor-geral Ciro Siqueira. Ele me apresentou a um senhor chamado Paulo Viana Clementino que, posteriormente, vim a saber ter laços de parentesco comigo. Ciro pediu que eu redigisse uma carta endereçada por ele ao jornal. Reclamações contra o texto de Marcos de Sá Corrêa.
Viana Clementino citou “meias verdades, noticiadas e disse que o general Guedes nunca pensou em princípios não constitucionais, reclamando do destaque dado ao embaixador Lincoln Gordon e achando estranho não ter sido citados Vernon Walters e Lawrence Laser”.
Ele confirmou que Vernon “disse a Guedes que os comunistas estavam retalhando o Brasil em pedacinhos”, sem haver reação. E disse uma frase emblemática que o presidente Bolsonaro e atuais companheiros tentam desmentir buscando reafirmar não ter existido golpe nos idos de 64. Até hoje, de entrevista posterior, tenho esta fita comigo:
– Foi um golpe bem dado e mal acabado, porque terminou nas mãos da UDN.
Segundo ele, na UDN estava o maior núcleo de golpistas. Para que os leitores tenham uma noção exata de quem foi o major Paulo Viana Clementino, ele era simplesmente o chefe do Estado Maior Revolucionário, como eles se definiam. O ex-prefeito de Sete Lagoas, Vasconcelos Costa, na época de tais revelações me disse ter sido ele – um professor de Direito Internacional da UFMG – quem acompanhou o general Guedes para o primeiro encontro com Laser. Por sinal apontado como um agente da CIA.
Porém, voltando às afirmações de Viana Clementino, foi o próprio Guedes quem incentivou o famoso Grupo do Acaiaca a sair às ruas para protestar contra as ações de Jango Goulart e pedir a intervenção das Forças Armadas.
No curso das reportagens investigativas feitas por mim, o coronel José Geraldo de Oliveira revelou que a bandeira, norte-americana queimada na ocasião, nas escadarias da Igreja de São José, no Centro de Belo Horizonte, “saiu do escritório do United States Information Service – USIS -, então localizado próximo”.
Clementino não negou a existência de uma força-tarefa de outro país, alterando em sua carta a disposição da mesma, acrescentando estar ela em águas internacionais, próxima dos limites das águas brasileiras, confirmando ainda que se houvesse necessidade de desembarque de armas isto seria feito no porto de Vitória, no Espírito Santo.
Percebi reticências nas respostas quanto à possibilidade de intervenção internacional se houvesse reação de tropas brasileiras e recorri ao coronel Jose Geraldo de Oliveira. Ele enfatizou que “nada diria”, mas “indicaria o caminho das pedras”. E assim fui falar com outro coronel PM Olympio, proprietário então de uma pequena loja de venda de pedras preciosas e semipreciosas junto ao extinto Hotel Del Rey.
Ele não quis falar, mas outros colegas dele deixaram claro ter sido o mesmo o intérprete a falar em inglês com os comandantes norte-americanos nas costas do Espírito Santo.
Similar ao Texas
O próximo entrevistado foi o coronel EB José Lopes Bragança, um anticomunista visceral que nem esperou que eu o perguntasse para dizer que pertencia ao Exército da Gorilândia, cujo símbolo era um boton utilizado nas lapelas dos ternos e fardas dos participantes, ostentando a imagem de um gorila, como eram chamados pelas esquerdas.
Violento, sem nunca esquecer a morte de um irmão dele nos confrontos do Exército Brasileiro e a Polícia Militar de Minas Gerais – juntos quando o entrevistei – por ocasião de um aniversário da Revolução de 1930. Isto ele não perdoava. Segundo ele, os conspiradores no início da trama só admitiam dois civis: Plínio Salgado e Abel Rafael Pinto.
Mas o tempo foi mudando posições até evoluir para um plano de assassinar João Goulart se de fato ele viesse a Belo Horizonte como esteve programado para vir, mudando de rumo nas últimas horas.
Este plano consistia num atentado à vida do presidente, observadas três possíveis etapas de ação.
– Primeiro: um avião teco-teco em voo rasante despejaria cargas de dinamite sobre o palanque onde estaria João Goulart e seus assessores. Segundo: alguns deles dispunham de metralhadoras. O plano era soltar bombinhas, dessas usadas em festas juninas, para distrair o povo. Outro grupo de três homens armados com metralhadoras, contando com a colaboração de voluntários que abririam um corredor, se aproximaria correndo do palanque e metralharia seus ocupantes. Como terceira opção, caso falhassem as duas anteriores, atiradores de escol munidos de armas dotadas de lunetas, deitados sobre caminhões ou ônibus alvejariam Jango e os principais líderes esquerdistas.
E estaria perfeito o cenário de outra Dallas.
Eu escrevi um livro chamado Baú de Repórter – Memórias do Jornalismo Analógico –, onde este episódio bem como os outros citados são narrados. O livro foi editado pela Neutra, em Belo Horizonte, em 2018. Além disso, Bragança fala de apoios internacionais, insinua oferta de dinheiro e não perde a oportunidade de instilar ódio ao comunismo. Ele admite a presença da Força-Tarefa, porém, sustentando que não haveria intervenção, mas com uma ressalva de que se houvesse necessidade, haveria um campo aberto para isso ocorrer.
Outro depoimento importante é do coronel PM Heimar Mattos, em 64, ocupando a chefia do Comando Geral da PMMG. Ele, com sinceridade, afirmou que os comandados militares, desde a renúncia de Jânio, não queriam a posse de Jango. Inclusive foi criado um batalhão dotado de mil homens prontos para entrar em combate, somente desfeito após a posse de Tancredo Neves como governador de Minas Gerais, em 1982.
Com o passar do tempo, o contingente foi elevado para dois mil homens, ficando a unidade sob o comando direto do general Dióscoro do Vale, tanto fosse para combates em condições de guerra convencional ou enfrentamento de guerrilhas, no último caso a hipótese derivando do receio dos Grupos dos 11, apregoados por Leonel Brizola.
Porém, houve uma tentativa do CET – Comando Estadual dos Trabalhadores, sob o comando, segundo ele, do então deputado Clodsmith Riani, pedindo o afastamento do coronel José Geraldo de Oliveira e isto impulsionou o agravamento da questão. Houve protestos e Heimar viajou para Juiz de Fora, entabulando com o então major do EB, Cúrcio Neto, as ações a serem tomadas. Logo depois de um pronunciamento do então governador de Minas, Magalhães Pinto, contrário às ações de Goulart no histórico Comício da Central do Brasil.
Ele também garante que as operações “Popeye” e “Gaiola” ocorreram dois dias antes de 31 de março, quando “os comunistas já estavam presos” e a única dúvida era em relação ao comandante do II Exército, general Amaury Kruel, que acabou se vendendo por malotes de dólares, de acordo com depoimentos prestados após a abertura política, inclusive por militares do próprio Exército.
No Rio de Janeiro, eu entrevistei o marechal Odylio Denys, o homem que conseguiu evitar o confronto entre as tropas brasileiras na ponte do Rio Paraibuna. Para ele, Jango era “de fato um perigo”. Mas todos, apesar de tais afirmações, reconheciam nele um “estancieiro muito rico, com pretensões de ser outro Getúlio Vargas, mas sem forças para deter os comunistas”.
Todos os depoentes – militares mais sinceros do que os civis quanto ao nível das revelações – temiam, sem admitir isto, que o Brasil fosse dividido em dois países. Indo mais longe Heimar Mattos afirma, diante de uma reação de Jango Goulart, “o Brasil se transformaria em um novo Vietnã”.
Mineiros em tempos de queixas criticam a precipitação de Olympio Mourão Filho e, pior, no livro que escreveu sobre a questão do golpe de 64, chamado Tinha que ser Minas, o general Guedes revelou que em conversa mantida com o profissional médico que atendia o seu parceiro, ouviu dele, que “o mesmo sofria doenças mentais, não tendo revelado isto na ocasião para não causar distúrbios em relação à dupla golpista”.
Concentro-me em detalhar ações militares. Os depoimentos civis demonstram que sendo mesmo golpistas, que eles foram prejudicados em interesses pessoais. Inclusive Magalhães Pinto, tido como “o chefe civil da Revolução”. Foi ameaçado por Costa e Silva alegando que o Exército Brasileiro não permitiria o Brasil dividido, provocando protestos posteriores de Guedes, negando tal propósito.
Considero significativo o depoimento do ex-prefeito de Curvelo, Evaristo Soares de Paula, para quem a revolução, como ele dizia, “mudou de rumos” e, se confirmados todos os dados relativos a Jango, “se ele preferiu não resistir para não haver mortes de brasileiros, a sua figura histórica tem de ser revista”.
E o do então prefeito de Belo Horizonte, Jorge Carone Filho que, mesmo não sendo esquerdista, se recusou a assinar um manifesto contra Jango, “pois o mesmo havia liberado verbas a beneficiar o povo de Belo Horizonte”. E acabou tendo seu mandato cassado, segundo ele, por interveniência de Magalhães. Conseguiu eleger a esposa, dona Nísia Carone a deputada federal, mas também ela, “segundo nova intervenção de Magalhães, perdeu o mandato através do AI-5”.
Civis e militares foram unânimes em convergir para a renúncia de Jango como o ponto inicial de partida para atender os interesses de Washington quanto à derrubada do Poder Central de então. É de se observar após Henry Kissinger dizer: “Os Estados Unidos da América do Norte não podem permitir o surgimento de uma nova China ao sul dos trópicos”. Quando da criação do Projeto Brasil Grande, sustentando pelo general Ernesto Geisel, é que começaram a ruir os ditames da ditadura então imposta, vindo a desembocar na Campanha das Diretas-Já. Com a derrota da Emenda Dante de Oliveira, vieram as eleições, a primeira delas ainda indireta, onde Tancredo Neves derrotou seu opositor, o paulista Paulo Salim Maluf.
Para isto ocorrer, ele teve de enfrentar a revolta do povo brasileiro, cansado da ditadura, e também a reação dos grupos militares tendentes a outro golpe de Estado. Liderado pelo general Sílvio Frota, autor de um livro biográfico, chamados “Ideais Traídos”, onde ele acusa: “O Alemão” – apelido de Geisel – de ser “comunista”.
Por sinal, vários oficiais que hoje dão sustentação ao desvairado governo Bolsonaro, principalmente o general Heleno, constituíam-se no grupo de choque dos golpistas desestimulados por Geisel com maior percepção das revoltas populares, expressando cansaço com a falta de democracia, entreguismo, torturas, alta exagerada do custo de vida e saudosa da normalidade democrática.
Diferença fundamental? Os Diários e Emissoras Associados de Assis Chateaubriand estimularam 1964. A Rede Globo dos irmãos Marinho e o resto da “cambada”, como diria o jornalista Euro Arantes e José Maria Rabelo, o último a esmurrar o general Punaro Bley.
E os gringos, o que disseram? Nada. Tudo estava perfeito. O Brasil teria dois governos. Magalhães já havia escolhido Afonso Arinos de Melo Franco para ser o embaixador dos golpistas no exterior e mais pessoas a compor um governo paralelo ao de Jango.
Outro Civil, Nelson Galvão Sarmento, em depoimento se confessou um nazista e não gostava da ideia do Brasil ser entregue de bandeja aos EUA. E, segundo ele, isto foi informado a Carlos Prestes, mas não levado em consideração. Sarmento, na época, era um agente, terror dos estudantes.
Palavras de gringos
Os russos tão temidos não chegariam mesmo ao Brasil e nem os cubanos. O ex-embaixador Andrei Fomim tratava Prestes a pão-de-ló, mas sem nunca deixá-lo de informar sobre a falta de dinheiro. Para Moscou, seria um peso enorme, além de cuidar de seu próprio desenvolvimento, arcar com as despesas de Cuba e do Brasil. Matéria sobre tais assuntos podem ser encontradas em O Globo, a primeira edição de 7 de abril de 1996, muito rica em detalhes, porém inadequadas para uma publicação total em páginas da internet.
Outra publicação referente ao golpe civil-militar de 1964 é do ex-agente da CIA, publicada na revista Veja, de 10 de setembro de 1977, assinada pela repórter Cláudia Furiati, ouvindo Philip Agee que, paradoxalmente, veio a falecer em Havana, capital de Cuba, depois de ser perseguido pelo Serviço Secreto norte-americano em vários lugares do mundo.
Segundo Agee, a derrubada de Goulart com a participação da CIA começou em 62, com os agentes instigando manifestações de rua sabendo que os militares brasileiros interviriam para restabelecer a ordem. Para isto, conta ele, houve financiamento para o IBADE – Instituto Brasileiro de Ação Democrática – e para o IPES – Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais. O IPES reunia a nata do empresariado brasileiro. Já o IBADE equivale hoje ao que se conhece como think tank.
Agee deixa clara a participação de militares brasileiros desde a renúncia de Jânio, acrescentando que o papel principal em todo o processo estaria a cargo do embaixador Lincoln Gordon. Ele sempre tentou negar este papel, porém, finalmente, em entrevista para o repórter Eurípedes Alcântara, acabou por admitir.
Entre outras coisas, Gordon disse que Lyndon Johnson considerava o Brasil tão perigoso quanto o Vietnã no bojo da Guerra Fria e ficou sabendo primeiro do que ele que algo acontecia no Brasil.
– Alguma coisa se deslocava de Juiz de Fora para Brasília e não era Itamar Franco.
Além do mais, admitiu que foi ele quem solicitou a presença da Força-Tarefa de seu país em águas do Estado do Espirito Santo, acrescentando não esperar que o domínio militar durasse os longos anos de ditadura sofridos pelos brasileiros e encerrando as suas declarações com a afirmativa de que “o resultado final foi muito bom”.
Assim não entendo como os militares que hoje ocupam o poder no Planalto Central possam negar que em 1964 o Brasil tenha sofrido um violento golpe de Estado repetido em 2016 e até agora perdurando, acrescido ainda de novas agravantes.
Um exemplo: o presidente Jair Bolsonaro prestar continências de estilo à bandeira dos Estados Unidos da América do Norte, gesto praticado por ele, um tenente elevado à categoria de capitão em efeito da expulsão dos quadros da Força por atos de indisciplina que levaram Geisel a afirmar ser ele um mau militar, reincluído nos quadros do EB até hoje de forma inexplicável.
Além do mais, segundo as manchetes mais recentes, ele agora incentiva rebeliões policialescas.
Uma resposta
Meus parabéns pelo excelente artigo! ? É por essas e outras que acompanho o Jornalistas Livres.