FLEMMING E O ABSTRATO DA RAZÃO POÉTICA

O eu é a arte em retas. Sem convenientes curvas para o escape, o Museu de Arte Contemporânea nos confina à reflexão, suas amplas salas para ser e ir, mudas e surdas como devem ser os museus e templos. Visão verde da cidade mundana sufocada, se mostra em seu mirante a consciência da muralha de edifícios que fizemos no nosso cotidiano paulistano, em 360º.

De brasileiro que reside em Berlim, a retrospectiva do artista Alex Flemming e seus últimos quarenta anos de inventos no alfabeto, no MAC nos apavora docemente em nossas contradições do moralismo franciscano de nossa primeira missa aos Tupinambás ou ao rigor jesuíta que se seguiu.

Me sinto nu nesse momento no museu e no país, em bom programa numa manhã dominical fria e cinza, onde a cara de muitos me apavoram nas campanhas de eleição.

Me amorenei em dia nublado, calor e suspiro de razão em tempos difíceis. A sexualidade dos atos do poder permeia toda a obra do artista, que sugere a divindade humana e suas solitárias e definitivas heresias, os pecados nossos de cada dia, e o revelar de toda humanidade que persiste às discórdias. Apesar de tudo e todos é a arte que escreve, sem medo da ordem.

Como aquele constrangimento de vômito em elevador, Alex escancara com doçura e texturas inóspitas, nos assola a pensar, em pulso, naquilo que se esconde nas idiossincrasias.

Cabe aqui lembrar palavras do amigo José Angelo Gaiarsa, que dizia das artes todo sentimento – nunca se pôde dizer, como hoje: ou nos salvamos todos juntos ou, nos danamos, todos juntos.

Berlim é aqui.

A Exposição “Alex Flemming – RetroPerspectiva” fica até o dia 11/12, MAC USP Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, 1.301, Parque Ibirapuera, região sul, tel. 2648-0254. Ter. a dom.: 10h às 18h. Livre. GRÁTIS

 

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