Famílias rurais sofrem ameaças e tentativa de despejo ilegal em Alagoas

Agricultores(as) que vivem há cerca de 20 anos no Acampamento Mandacaru, no município de Traipu, estão sob ameaça de despejo ilegal por policiais e fazendeiros do Grupo Pedreira Monteiro

As famílias do acampamento Mandacaru, no município de Traipu, no Agreste de Alagoas, mais uma vez estão sob ameaça do Grupo Pedreira Monteiro que quer expulsar os trabalhadores e trabalhadoras da terra em que vivem há cerca de 20 anos.

Desde a última segunda-feira (25) as famílias se depararam com a presença de homens que se dizem supostos arrendatários das terras, que além de tentarem retirar a bandeira do MST, hasteada no local, deram o recado de que “as famílias sairiam dali de um jeito ou de outro”.

Não satisfeitos, no dia de ontem (26) voltaram ao acampamento com mais homens em dois carros e com uma viatura da Polícia Militar. Na ocasião, esteve presente Pedro Monteiro, que se diz gerente da Pedreira e da fazenda do Grupo Monteiro e que estava ali para garantir a desocupação do imóvel. O mesmo portava um documento expedido em 2019, pela Justiça Estadual, dizendo ser uma ordem judicial e que as famílias tinham 15 dias para saírem dali.

O documento não tem mais validade jurídica e ainda foi utilizado de forma indevida pelo referido gerente que estava querendo fazer o papel do oficial de justiça, desconsiderando, inclusive, a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de que até final de junho de 2022 nenhuma família será despejada em áreas urbanas ou rurais.

Entre o grupo de homens que acompanhava Pedro Monteiro alguns nem desceram dos carros, numa demonstração de que estavam ali para mapear a área e pessoas, dentre eles o ex-vice prefeito da cidade de Girau do Ponciano, Severino Correia Cavalcante, conhecido como Severino do Chapéu na região, que já esteve outras vezes no acampamento, ameaçando passar com trator e com bala por cima das pessoas que continuassem na área.

Segundo as famílias acampadas do MST, além de quererem a desocupação em até quinze dias, o grupo deixou o recado de que vão chegar tratores e máquinas, além de tentarem saber quem eram pessoas no acampamento, procurando nomes, numa explícita tentativa de buscar identificar e marcar lideranças da área, forma clássica de ameaça e intimidação às famílias Sem Terras.

Esta conduta do Grupo Monteiro representa a forma como historicamente se atua no campo, com jagunços, intimidando e ameaçando os trabalhadores e trabalhadoras. Há poucos quilômetros do Acampamento Mandacaru, na mesma região, foi assassinado em 2003 Luciano Alves, conhecido como Grilo.

Mandacaru Resiste!

O acampamento, que existe desde o ano de 2003, reúne famílias de agricultoras e agricultores que vivem da roça, em especial da produção de feijão, milho, palma e criação de pequenos animais. A área ainda conta com uma escola de jovens e adultos que atende os acampados e acampadas.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) já tentou desapropriar a área para fins de Reforma Agrária, mas em decorrência de dívidas do Grupo não foi possível. Dentre os credores está o Banco do Nordeste, que inclusive era terceiro interessado no processo, tendo interesses em receber as terras como pagamento da dívida.

No início de 2020, mesmo após várias tentativas de negociação com o Poder Público, as famílias foram despejadas da área e, após o início da pandemia, retornaram para a terra no mês de abril na tentativa de manter a sobrevivência e o trabalho na terra.

O MST está acionando os órgãos competentes para acompanhar o caso e garantir a defesa da vida dos homens, mulheres, jovens e crianças que vivem no acampamento.

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