“Eu tô registrando um momento histórico”

Fotojornalista Guilherme Gandolfi relata sua experiência ao cobrir a pandemia de Covid19

Fotojornalista Guilherme Gandolfi relata sua experiência ao cobrir a pandemia de Covid19

Faz um ano, agora em março, que tirei essas fotos [abaixo], saindo de uma reunião, desci uma estação depois no metrô e fui fotografando as pessoas na rua enquanto voltava pra casa,em São Paulo. Black Alien pesadão nos fones e curtindo fazer fotojornalismo.

A ideia era encontrar alguém de máscara na avenida paulista. Essa era a foto que eu estava procurando. O problema é que quase ninguém usava máscara, a própria OMS recomendava que se deixasse elas para os profissionais de saúde, em alguns países elas estavam em falta. Fiquei um bom tempo na esquina da brigadeiro com a paulista, meio escondido atrás da banca de jornal com a minha lente teleobjetiva apontada para entrada do metro.

Por fim desisti e estava indo pra casa, quando vi aquele senhor com traços orientais usando uma máscara, soube na hora que seria A FOTO.

Movimentação na avenida Paulista, março de 2020 Guilherme Gandolfi/ Futurapress. Senhor usando máscara, a saída do metrô e a típica aglomeração de pessoas sem máscara na Paulista.
Movimentação na avenida Paulista, março de 2020 Guilherme Gandolfi/ Futurapress

Tentando não chamar a atenção do senhor eu corri pra pegar distância e sentei o dedo, tentando enquadrar ele, a saída do metrô e a típica aglomeração de pessoas sem máscara na Avenida Paulista. Feliz com a foto que consegui, troquei a lente e resolvi andar um pouco mais pela avenida, antes de ir pra casa.

Quando vi a distância uma mulher muito arrumada, maquiagem, roupa, brincos e máscara. 

Movimentação na avenida Paulista, março de 2020 Guilherme Gandolfi/ Futurapress.  Uma mulher muito arrumada, maquiagem, roupa, brincos e máscara, o prédio da FIESP, símbolo da economia paulista, atrás dela. Ao seu lado um homem falava no telefone e ao fundo um entregador passou apressado na ciclovia.
Movimentação na avenida Paulista, março de 2020 Guilherme Gandolfi/ Futurapress

Não ia ter tempo de me posicionar, bati a foto do jeito que deu, tomando cuidado para enquadrar o prédio da FIESP, símbolo da economia paulista, atrás dela. Ao seu lado um homem falava no telefone e ao fundo um entregador passou apressado na ciclovia. Fotão!

Liguei o Wi-fi da câmera, baixei as fotos no celular e tratei elas ali na rua mesmo. Olhando as imagens prontas, naquele momento eu me liguei: “Eu tô registrando um momento histórico”.

Não era o tipo de foto que eu estava acostumado a fazer (um ano depois eu já tô craque), mas sabia que tinha um valor jornalístico.

Resolvi que a primeira foto eu tentaria vender para uma agência de notícias, mas que a segunda mandaria para o Fotos Públicas, para que qualquer um pudesse usar. Pensei que seria a melhor forma de equilibrar o lado financeiro e meus ideias. Eu não sabia, mas se tornam as minhas fotos de maior circulação, a que vendi para o futurapress. Eles venderam pra agência da Folha, que por sua vez venderam para alguns veículos, ganhei 18 reais e uns trocados. Uma foi capa do portal R7 da Record, e também foi usada no UOL e a outra esteve no G1 e em diversos outros sites da mídia independente.

Nenhuma delas teve muitos likes nos meus perfis nas redes sociais, mas  eu me senti um profissional, um verdadeiro fotojornalista, seja lá o que isso signifique.

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