Estão em jogo as conquistas sociais, mas o clima é democracia

O Uruguai vive uma das disputas mais dramáticas da sua história recente, desde o processo de redemocratização em 1984. Estão em jogo as políticas sociais públicas e direitos dos trabalhadores e minorias conquistados durante os governos da Frente Ampla, que está no poder desde 2005. A vantagem da FA no primeiro turno já é um fato: o grande desafio é a “segunda volta”, em 24 de novembro.

Eleitores uruguaios decidindo o futuro do país nesse domingo

Exceto na primeira vitória de Tabaré Vásquez, a Frente sempre ganhou no segundo turno, mas desta vez não há muita margem para crescer além dos cerca de 41% do candidato das esquerdas, Daniel Martínez, diante da ascensão da direita. Esse cenário gera mobilização, não desânimo, porque nenhum resultado pode ser ainda descartado ou consolidado antes da apuração de hoje, conforme Martínez, ao votar pela manhã, na Universidade OTR, em Pocitos.

Alem da redução drástica dos níveis de pobreza, de 38 para 8%, e da majoração do salário mínimo de R$ 700,OO para R$ 1.600,, outras conquistas no campo  comportamental marcaram os governos de  esquerda. liberdades de gênero, como a descriminalização do aborto, a liberação do uso da maconha e os direitos LGBTI podem sofrer um revés se o projeto neoliberal do candidato do Partido Nacional, Lacalle Pou, vencer num provável segundo turno com uma aliança à direita. O resultado preliminar das eleições, antes da recontagem dos votos de papel, é aguardado para cerca de 22h30min de hoje.

Apesar do pleito decisivo, o clima é de grande tranquilidade e de respeito às regras democráticas. Mesmo com o rufar ameaçador dos tambores do segundo turno, os preparativos da festa da esquerda nos arredores da 18 de julho são animadores.

As urnas de hoje dão uma mostra da diversidade e da inclusão social do país, com grande presença de pessoas muito idosas e com deficiência no processo eleitoral. No entanto, a população negra é uma pequena minoria e os índígenas foram quase totalmente exterminados no período pós-colonial, pelo primeiro presidente uruguaio, Frutuoso Rivera, do Partido Colorado, representado nas eleições pelo candidato Ernesto Talvi. Há inclusive uma iniciativa de esquerda para mudar o nome dos logradouros que homenageiam o sanguinário Rivera para nomes de heróis índígenas.

Pelas ruas de Montevidéu, capital uruguaia.

Mulheres estão presentes nas chapas dos partidos disputando o posto de vice-presidente. É o caso de Graciela Villard, grande líder feminista de esquerda, vice de Martínez, da Frente Ampla, favorito nas intenções de voto, e de Beatriz Argimoni, candidata à vice na chapa do segundo colocado, Luis Lacalle, do Partido Nacional, de tendência neoliberal, com cerca de 26% nas últimas pesquisas.

O popular Pepe Mujica concorre à vaga de senador aos 84 anos, assim como sua esposa, a vice-presidente do governo atual de Tabaré Vásquez, Lucia Topolansky, outra grande líder popular. Todos os candidatos a presidente, exceto Martínez, são também candidatos a senadores, peculiaridade prevista na legislação eleitoral.

*Raquel Wandelli, da equipe de enviadas especiais para as eleições da América Latina

 

 

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Uma leve correção. A FA está no poder desde 2005 e não só desde 2015.

  2. Parabéns para o nossos irmãos uruguaios, e no Brasil, mostrar para nosso povo trabalhador as perdas de direitos na reforma trabalhista e previdência. Vamos a luta, Lula Livre!Fora Bolsonaro e Mourão, eleições livres e democráticas, com Lula candidato.

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