5 pontos para te ajudar a entender onde estamos na discussão sobre mudança climática
Por: Isis Domingues
Doutoranda em Gestão de Operações e Sustentabilidade na Fundação Getúlio Vargas
Na última segunda-feira, 20 de março, foi divulgado um novo relatório do Painel Intergovernamental para Alterações Climáticas (IPCC). Para que você, leitor, entenda do que se trata, estas avaliações são realizadas desde 2018. A cada ano é montada uma equipe internacional de cientistas que investigam quais as marcas da mudança do clima até o momento e propõe algumas ações para amenizar isso.
De lá para cá os relatórios vem trazendo informações sobre Física das Alterações Climáticas, Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade e Mitigação das Alterações Climáticas. Mais importante do que saber quantos graus a superfície terrestre aumentou desde a revolução industrial (e foi cerca de 1.1º C), é importante entendermos onde está a discussão climática atual e os 5 pontos que eu trago aqui são para isso:
1 – A crise climática não ameaça apenas gerações futuras, ela já é uma realidade presente e já coloca em situação de vulnerabilidade metade da população global, principalmente em termos de segurança alimentar e acesso à água. O relatório do IPCC classifica que o aumento na temperatura mundial já causou “perdas consideráveis” e “impactos irreversíveis”.
2 – Apesar de sabermos que os danos e perdas das alterações climáticas acontecerem em diversas regiões do mundo, está claro que a população pobre é mais afetada e tem menos meios de se proteger contra desastres como as chuvas do litoral norte de São Paulo. O IPCC estima que pessoas que vivem em áreas vulneráveis tem 15 vezes mais chances de morrer por desastres climáticos (seca, alagamento, tempestades, etc). Vale a pena lembrar que riqueza e quantidade de emissões estão diretamente ligadas. De acordo com o Word Inequality Report 2022, os indivíduos (aqui a gente está falando de pessoas) que mais poluem estão entre os 10% mais ricos do mundo.
3 – De acordo com o Greenpeace, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) vem lutando e fazendo lobby para enfraquecer as recomendações destes relatórios em relação ao abando dos combustíveis fosseis. Se eles estão “tristes”, a gente fica feliz. Isso significa que estamos o caminho da mudança, mas o IPCC estime que ainda é preciso reduzir em 43% as emissões de gases do efeito estufa até 2030.
4 – 2023 será um ano chave no monitoramento de “onde e estamos e para onde vamos” em termos climáticos. Os países signatários do Acordo de Paris e comunidade científica estarão junto no fórum Global Stocktake, onde serão avaliados e compilados os resultados das medidas que foram tomadas até agora. Com estes resultados, saberemos o quanto ainda temos que andar e se estamos ou não no caminho.
5 – O dinheiro não é a solução de tudo, mas é necessário que se aumente o financiamento de ações contra a mudança climática. É preciso vontade política e, sim, isso depende dos nossos governantes, mas é a sociedade que tem de colocar isso na agenda. Quantos representantes elegemos ano passado cuja pauta prioritária era ambiental?
Resumindo, o relatório do IPCC é um “guia de sobrevivência para a humanidade”, como o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres. Os 93 cientistas que assinaram o documento ainda dão um tom de esperança, mas deixam claro que é preciso correr para evitar que o aquecimento global seja de 3.2ºC até 2010 (previsão do IPCC caso não sejam tomadas as ações corretas).
Como doutoranda e ativista, escrevo este breve texto, não para que mostrar que o relatório do IPCC deveria ser motivo de pânico, mas como um convite ao seu engajamento a uma jornada mais verde.
Fontes:
https://www.ipcc.ch/ar6-syr/
https://www.carbonbrief.org/
https://wir2022.wid.world/chapter-6/
https://unearthed.greenpeace.org/2021/10/21/leaked-climate-lobbying-ipcc-glasgow/
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2023/03/20/novo-relatorio-do-ipcc-mostra-que-existe-esperanca-na-luta-contra-as-mudancas-climaticas-mas-e-preciso-agir-rapido.htm