Querem invadir a Ucrânia, não sei se voo, não sei se fujo, mas aqui novo verbo hoje estabeleci na cidade, LISPECTAR.
Sempre me surpreendo na metrópole entre milhões, quando de repente passarinho aparece. É como se um estranhamento se impusesse ao trânsito.

Os passarinhos insistem entre buzinas e o emaranhado de fios, edifícios, asfalto. Resiliência e afinco são marcas da cidade, tal canarinho do reino entre rolas.
Terei carência de voar, cantar assim ao léu, por isso me encanto com coisas tão banais?
Tal coisa é coisa de bobo, bem sei, já disse certa feita Clarice Lispector do bobo, é bobo mas pensa. Lispectar, atitude das palavras, é diferente do verbo emburrecer, gerúndio emburrecendo.

Clarice e canarinhos sabem todos, o bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”
