Na terça (09), a Frente Inter-religiosa Don Paulo Evaristo Arns publicou uma nota de repúdio sobre as recentes declarações da primeira dama. Em um culto religioso, no último domingo (07), Michelle Bolsonaro, ao lado do presidente, declarou que antes do casal ocupar o Palácio do Planalto, o espaço era “ocupado por demônios”. Agora, segundo ela, felizmente, o palácio é “consagrado ao senhor”. Após a fala intolerante, Michelle, em suas redes sociais, ainda compartilhou um video em que o ex-presidente Lula (PT) participa de uma cerimônia da umbanda. Na legenda, a primeira-dama diz que Lula vendia sua alma para vencer as eleições.
Para a organização religiosa, suas falas ferem o Estado Democrático de Direito e a legislação. De acordo com o Art. 208 do código penal é crime: “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa…”. A pena é a reclusão, de um a três anos de multa. Além disso, a frente de Dom Paulo Evaristo Arns sublinha o risco que suas falas apresentam para a convivência pacífica entre as diferentes religiões. Segundo a nota, através da demonização de religiões de matriz africanas, Michelle Bolsonaro estaria promovendo uma cultura do ódio.
“Ao atribuir às administrações anteriores uma “consagração ao demônio”, a primeira dama repete uma antiga prática excludente, beligerante e preconceituosa que, conforme demonstrado pela história, usa a divindade para tornar o semelhante um inimigo desumanizado, ligado a forças nefastas e que podem inclusive ser alvo de violência de forma legitimada.”
Os religiosos defendem que a estratégia de uma narrativa maniqueísta foi utilizada no passado para viabilizar perseguições violentas. Dessa forma, as declarações de Michelle Bolsonaro colocam em risco a luta internacional de mais de um século pela cooperação ecumênica. Entretanto, o racismo religioso não foi a única infração da primeira-dama. Na constituição nacional de 1988, é proibido qualquer relação de dependência ou aliança de autoridades políticas com religiões específicas. Embora seja prática comum do atual presidente da república, a entidade acentua: é crime.
Na internet, a fala de Michelle ocupou lugar de destaque. No palco de debates doTwitter, o assunto se tornou um dos mais comentados. Assim, a tag “não vote em racista” foi levantada e frases como “intolerância religiosa é crime” se espalharam rapidamente. Muitos políticos e figuras públicas se posicionaram. Douglas Belchior, fundador da Uneafro Brasil e candidato a deputado federal (PT), pediu:
Em seu perfil, o candidato a governador, Fernando Haddad, afirmou que mesmo sendo cristão, jamais desrespeitaria outras religiões. Para ele, todo mundo deve ser respeitado. Sofia Manzano, candidata a presidência pelo PCB, publicou em suas redes que o partido se solidariza com as religiões de matriz africana: “seguimos na defesa da liberdade de culto religioso e no combate ao preconceito“. Orlando Silva, candidato a deputado federal pelo Pc do B, também protestou contra a fala de Michelle Bolsonaro.
O tópico ainda é um dos mais comentados na internet, mas não conta apenas com declarações de partidos de esquerda. Eduardo Bolsonaro (PL), filho do presidente, se solidarizou com a primeira-dama. Em seu perfil no twitter publicou:
“Se tinha um lugar endemoniado era a presidência. Primeira Dama Michelle Bolsonaro está certa. E hoje o local é ocupado por adoradores de Deus e o diabo se revolta com isso!”