Em meio a guerra às drogas, Pedreira pede paz

No último domingo de julho (30), a comunidade Pedreira Prado Lopes (PPL) – região noroeste de Belo Horizonte – foi às ruas para pedir o fim da violência na comunidade que tem enfrentado dias difíceis e um clima de muita tensão. Foi preciso enfrentar o medo e intervir de alguma forma. O clima de guerra foi substituído por um clamor de paz que tinha a voz de moradoras e moradores: “Há anos, a Pedreira Prado Lopes não via uma guerra assim. Um dia, a gente fez uma assembleia e decidimos que isso ia acabar. Agora, depois de muito tempo, a coisa voltou. É por isso que nós vamos fazer essa caminhada, pra pedir um pouco de paz”, disse Valéria Borges, moradora da comunidade há mais de 40 anos.

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Foto: Isis Medeiros

A guerra voltou e a polícia agiu com total despreparo, de forma truculenta e sem se importar com os demais moradores. Nessa guerra só morreu gente da comunidade, parte do povo foi expulso de suas próprias casas e não se fala sobre isso em nenhum outro lugar. “Mas por que os grandes veículos de imprensa não contam isso para o restante da cidade?”, alguns moradores questionam o fato.

No meio da semana, o povo fez uma reunião para preparar essa caminhada. Valéria conta os detalhes: “Vamos todo mundo de branco. Pode vir criança, idoso, gente de todas as idades. Vamos juntar os movimentos, as associações, as igrejas e todo mundo que quiser ajudar. As crianças vão na frente, bem devagarinho, para não deixar acelerar o passo.”

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Foto: Isis Medeiros

E tudo correu como previsto. Logo cedo moradores da Pedreira, membros de comunidades religiosas e integrantes de movimentos sociais populares como o Levante Popular da Juventude, o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) e a Associação Pedreira Unida, caminharam juntos pelas ruas e vielas com faixas e cartazes – que foram confeccionados pelos próprios moradores – enquanto entoavam cânticos e palavras de ordem reivindicando o direito à uma vida mais tranquila e o fim do uso excessivo da força policial. Em certos momentos foram realizadas preces em memória daqueles que foram mortos desde o início do conflito.

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Foto: Gabriel Bicho

 

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Foto: Gabriel Bicho

Durante o percurso muitas crianças iam se somando à caminhada, carregando faixas enquanto gritavam juntas: “Queremos paz! Queremos paz! A PPL quer somente paz!”. Alguns moradores acenavam das janelas de suas casas, os carros passavam buzinando em apoio à ação e o grupo seguiu com o trajeto. Por onde passavam era possível ouvir um canto que marcou toda a caminhada: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci e poder me orgulhar e ter a consciência que a Pedreira é meu lugar”.

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Foto: Gabriel Bicho

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