Em dois anos, 400 ações foram ajuizadas na justiça trabalhista contra o McDonald’s do Brasil

Foto: Victor Santos

Manifestação dos funcionários do McDonald’s, nessa quarta-feira (15), denuncia exploração no trabalho e péssimas condições de serviço

Quem trafegava pelos arredores do MASP por volta das 10h da quarta-feira (15), já podia ouvir o carro de som emitindo uma série de palavras de ordem. Era o ato mundial em defesa dos funcionários da gigante do fast food, o McDonald’s. A mobilização foi uma iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Restaurantes e afins de São Paulo (Sinthoresp), da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) e Confederação Nacional de Trabalhadores de Hospitalidade e Turismo (Contratuh). Outras entidades também estiveram presentes em apoio à causa, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Em grande número, as camisas amarelas do Sinthoresp traziam os escritos #SemDireitoNãoÉLegal, nome adotado para a versão brasileira do movimento. Alguns Ronalds McDonald’s, presos em uma jaula, dava o tom performático da manifestação. Por volta das 11h30 da manhã, a manifestação saiu em marcha pela Avenida Paulista em direção a uma das unidades da lanchonete, que fica a algumas quadras do MASP, local caracterizado pelo grande número de artistas de rua.

Não houve atrito com a Polícia Militar, apesar do pequeno cordão de isolamento feito por policiais e seguranças na entrada da lanchonete, que permaneceu aberta a clientela. Cerca de uma hora depois, um ato simbólico cremou, sem muito sucesso, o caixão de Ronald McDonald’s, carregado pelos manifestantes. Dentro da lanchonete, alguns transeuntes paravam para olhar a movimentação, curiosos. A maioria, no entanto, fazia sua refeição tranquilamente.

Foto: Victor Santos

Resultado do encontro entre representantes sindicais de todo o mundo — ocorrido em maio do ano passado em Nova York — o evento foi marcado em 40 países e reuniu, em São Paulo, cerca de 1.000 pessoas segundo os organizadores. Já nos cálculos da PM, foram 300 participantes. A mobilização buscou chamar a atenção para as agressões trabalhistas sofridas pelos funcionários da lanchonete. Em especial, a questão dos baixos salários, que ganhou força em 2012, nos Estados Unidos, e passou a ecoar em muitos outros países.

No Brasil, contudo, a exploração dos funcionários do McDonald’s também não é nova. De acordo com as entidades, entre 2012 e 2014, quase 400 ações foram ajuizadas na justiça trabalhista contra a rede em todo o país. As principais ocorreram em 23 de fevereiro e 18 de março deste ano. Na ocasião, a empresa foi acusada de pagar salários inferiores ao mínimo, promover acúmulo de funções, não remunerar horas extras, desrespeitar intervalos de descanso e não pagar o adicional de insalubridade.

Leia também: A mobilizaçao das redes de Fast Food em Nova Iorque

Umas das questões mais polêmicas se refere à jornada móvel variável, método proibido em 2013, pelo qual o trabalhador “fica lá a disposição pra trabalhar só na hora do pico, e receber aquilo de acordo com as horas trabalhadas”, como explica Francisco Calasans Lacerda, presidente do Sinthoresp. Segundo ele, o McDonald’s ainda estimulou a criação de um sindicato específico para os trabalhadores de redes de fast food (Sindifast), na tentativa de driblar o piso salarial de R$ 1.050 estipulado pela Sinthoresp.

Apesar dessas condições, uma parcela ínfima da manifestação era composta de atuais funcionários da empresa. Os únicos dois que conseguimos entrevistar não quiseram revelar seus nomes com medo de represálias. Perguntado sobre os motivos de estar na manifestação, um dos jovem, de 23 anos, ressalta os baixos salários, o não pagamento de horas extras e o esquema de banco de horas. “Você fica até mais tarde hoje!Amanhã você pode sair mais cedo”, dizem os chefes aos funcionários. No entanto, nem sempre é respeitado, segundo o jovem. Ambos estão na empresa a 7 anos e dizem que recebem aumento anual de apenas alguns centavos.

Já a ex-funcionária Ana, 26, foi além dos salários e apontou para o assédio moral. “Não tratam a gente com dignidade! Só usam palavras de baixo calão!”, denuncia a trabalhadora.

Em nota pouco esclarecedora, o McDonald’s diz ter “convicção do cumprimento da legislação, seguida pela companhia desde a abertura do seu primeiro restaurante brasileiro, há 36 anos”.

 

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