Em Curitiba, manifestação pelo impeachment vira ato anti-Lula e contra o “comunismo”

 

Em Curitiba, a manifestação deste domingo, 16 de agosto, convocada para reivindicar o impeachment de Dilma Rousseff, acabou se tornando um ato em que o pedido de afastamento da presidenta ficou em segundo plano.

 

Palavras de ordem contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores (PT); algumas em defesa de intervenção militar e outras tantas contra um suposto comunismo sendo implantado no país tiveram mais destaque — tanto nos microfones do alto dos caminhões de som quanto das faixas e cartazes no chão – do que apelo pelo impeachment propriamente dito.

Foto: Isabella Lanave/R.U.A Foto Coletivo

Frases de apoio à Operação Lava Jato e imagens de idolatria a Sérgio Moro (alguns vestiam camiseta com a foto do juiz) também eram recorrentes. Foi avistado ainda um homem meia-idade com uma camiseta com Margaret Tatcher estampada.

Da mesma forma não faltaram os tradicionais “nãos” à corrupção e o “basta” ilustrado com desenho da mão de quatro dedos de Lula — o ex-presidente perdeu o mindinho num acidente trabalho, quando era torneiro mecânico, mais de 40 anos atrás. (O uso da imagem é, no mínimo, de um mau gosto incrível. Revela, porém, muito mais: um preconceito recalcado).

MENOS GENTE

Em comparação com à manifestação de 15 de março, a primeira pró-impeachment, o número de participantes na capital paranaense foi bem menor desta vez. Numa estimativa generosa, é possível que o ato deste domingo tenha reunido em torno de um terço de pessoas da manifestação anterior.

O período de duração do ato igualmente foi mais curto. O pico da concentração se deu entre mais ou menos às 15 horas — quando os manifestante saíram da Praça Santos Andrade para a Boca Maldita — e 16 horas. Antes e depois disso, a manifestação esteve dispersa.

E olha que “incentivo” para uma manifestação encorpada e duradoura não faltou.

A começar pelo tempo. Como tem ocorrido há pelo menos três semanas, Curitiba vive um inverno atípico: sol, céu azul e temperatura na casa dos 25 graus. Não foi diferente neste domingo. Condições climáticas ideais, portanto, para se ir às ruas.

A cobertura da televisão — Rede Globo à frente — desde o início da manhã se mostrava assaz estimulante. A cada vinte, quinze minutos, a programação era interrompida para que ao vivo fossem transmitidas imagens e informações dos atos no Rio de Janeiro, em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Belém…

A narrativa das inserções coincidiu com o que se viu em Curitiba: o foco não foi o pedido de impeachment; o coro não era uníssono pelo afastamento da presidenta.

Foto: Isabella Lanave/R.U.A Foto Coletivo

Como a própria mídia comercial e como os manifestantes que querem Dilma e o PT fora do governo parecem ter se dado conta de que não há razões legais, concretas e lógicas, nem mesmo conjuntura política para se tocar adiante um processo de impeachment, o horizonte foi ampliado.

O objetivo parece ser o de se forjar um ambiente favorável, à Operação Lava Jato, para que se cerque o ex-presidente Lula. E, dessa forma, tire o ex-mandatário do páreo em 2018. Assim, o “Fora Dilma e leve o PT junto” teria mais chances de se viabilizar.

AÇÃO DO EXÉRCITO

Curiosamente, a meia-dúzia de quadras da manifestação deste domingo, também no Centro de Curitiba — na Praça Eufrásio Correa –, ocorria uma atividade do Exército Brasileiro.

Foto: Isabella Lanave/R.U.A Foto Coletivo

Nenhuma relação, porém, com a intervenção militar pedida nas faixas e cartazes a algumas centenas de metros dali.

Tratava-se de uma ação comunitária, promovida em parceria com a Prefeitura de Curitiba e o Sesc, em celebração ao Dia do Soldado (25 de agosto). Máquinas e equipamentos da corporação e ainda parquinhos para crianças, entre outras atividades, eram atração do evento. Diversas famílias preferiram participar da ação à engrossar o ato em curso nas redondezas.

Foto: Isabella Lanave/R.U.A Foto Coletivo

COMENTÁRIOS

POSTS RELACIONADOS