Em Belém, Ciro Gomes acena para mineração em terras indígenas

“Se as comunidades indígenas (...) quiserem, a gente pode fazer de forma sustentável"; Ciro Gomes voltou a falar em minerar terras indígenas
Ciro Gomes em Belém, quando defendeu mineração em terras indígenas (Foto: Divulgação)
Ciro Gomes em Belém, quando defendeu mineração em terras indígenas (Foto: Divulgação)

Belém (PA) – O candidato Ciro Gomes (PDT) esteve em Belém nesta sexta-feira (16) em sua primeira visita à região Norte durante a campanha a presidente da República. Em conversa com jornalistas, ele voltou a falar de mineração em terra indígena, proposta já feita em outros debates e entrevistas. Em Belém, porém, ele foi mais enfático e citou como exemplo o caso dos indígenas Cinta Larga, de Rondônia, que desenvolvem um projeto de mineração de diamantes, não aprovado pela legislação. A atividade é controversa, não é unanimidade, mas lideranças indígenas defendem a autonomia. 

Por Erika Morhy do Amazônia Real

“Há uma discussão que não está pacificada no meu projeto sobre a viabilidade de terras indígenas explorarem, pelas próprias comunidades indígenas, ocorrências minerais”, disse, citando os Cinta-Larga, cuja realidade não pode ser parâmetro para outros casos de exploração de mineração em terra indígena, como, por exemplo, a situação da Terra Indígena Yanomami.

“Seria uma estatal, em que as comunidades indígenas teriam prevalência. Dariam a última palavra, para dizer como pode se fazer sustentadamente, em benefício da renda dessas comunidades e apenas se elas quiserem que assim seja”.

Ciro Gomes já defendeu a mineração em território indígena, desde que uma estatal pague royalties. “Se as comunidades indígenas, e isso eu conheço por dentro, quiserem, a gente pode fazer de forma sustentável, com uma estatal controlada pela comunidade indígena”, disse ele, em seu canal no Youtube, nesta quinta-feira (15), segundo divulgou a CNN.

O candidato do PDT chegou à capital paraense acompanhado de apoiadores, mas sob um clima de pressão e de tensão dentro de seu próprio partido. Nesta semana começou a circular a informação que um grupo de dissidentes do PDT optou por apoiar o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, em campanha pelo “voto útil”. Esse grupo deve lançar um manifesto. 

“Vamos ouvir agora uma pessoa muito especial”, anunciou Allan Pombo, vereador de Belém e secretário geral do PDT no Pará. Ele já estava em cima do palco da casa de eventos Insano Marina Clube, na capital paraense, com todos os demais candidatos e anfitriões do presidenciável. Ali aconteceu uma plenária com apoiadores. Antes mesmo de Pombo concluir a frase, a reportagem presenciou uma jovem presente, portando instrumento musical, comentando com a amiga ao lado: “O Lula”, insinuando ser o candidato petista a “pessoa especial”.

A jovem fazia parte do grupo de pessoas que foi ao local participar da plenária que reuniu candidatos pedetistas do Pará e foi um ato de campanha de Ciro Gomes.

Não foi a única vez que o nome de Lula foi citado durante a visita. Ciro precisou falar sobre o adversário durante a entrevista à imprensa paraense, quando foi questionado sobre o manifesto que dissidentes do PDT estariam preparando para apoiar Lula, em uma estratégia de voto útil para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno das eleições. 

“Isso é mais uma mentira do Lula. Não existiu. Se você me mostrar uma assinatura de um pedetista, a gente volta a conversar”, rebateu Ciro Gomes.

O tema voltou a ser mencionado no início do pronunciamento do pedetista. “Você vota em quem você acredita. Se o seu candidato não passar, você vota no menos ruim depois. Por isso temos dois turnos nas eleições do Brasil”, afirmou. “Estão forçando a barra. Tem gente com vergonha e medo de se manifestar e sofrer violência e ameaças. Há uma disputa de ódio e paixão”.

Ciro Gomes recebe apoio de ruralistas

Ciro Gomes em Belém, quando defendeu mineração em terras indígenas (Foto: Divulgação)

O presidente do PDT no Pará é um tradicional agropecuarista, membro da diretoria executiva da Federação de Agricultura do Estado do Pará (Feapa) e ex-secretário extraordinário de Produção do Estado. Trata-se de Giovanni Queiroz, um mineiro de 76 anos, notório opositor dos direitos indígenas. Um homem a quem o presidenciável não só apoia para a Câmara dos Deputados, como diz que quer como ministro em caso de vitória eleitoral. 

Como pacificar a agenda ruralista, que tem pressionado os direitos indígenas? Para Ciro Gomes, parece ser tão fácil quanto para Simone Tebet. “Isso, tecnicamente, não tem mistério. O problema do Brasil é que nós precisamos transformar conversa fiada de esquerdismo de goela em controle do território. Qual é a proposta que o programa nacional de desenvolvimento faz? Zoneamento Econômico Ecológico. Pegar toda a consciência técnica extraordinária de um instituto (Emílio Goeldi), das universidades, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Descer no território, ordenando o território, dizer: ‘Aqui pode, aqui não pode’, quais são as alternativas econômicas que nós podemos oferecer, de maneira a ficar muito claro que, aqueles que invadem, que depredam, que assassinam, são marginais”, afirmou, sobre as ideias de seu governo, caso seja eleito.

Repetindo um discurso ambíguo em defesa da pauta ambiental, Ciro Gomes disse que é preciso fazer uma “reconversão produtiva”. Afirmou que não faz sentido, com as alternativas de reflorestamento que existem, desmatar para criar gado. E lembrou que desmatar, inclusive, compromete o mercado dos produtos brasileiros no exterior, na medida em que as práticas insustentáveis hoje são usadas, na opinião dele, como uma espécie de “neoprotecionismo”.

Cercado por jornalistas, o presidenciável Ciro Gomes seguiu respondendo questões relativas à proteção ambiental, insistindo na tese de que o Brasil perdeu o controle de seu território. “Nas grandes cidades, quem dá as cartas, de forma terrorista, são as facções criminosas. E no fundão do território brasileiro, nos grandes interiores, especialmente na Amazônia, mas também no Pantanal, na Caatinga, desmontamos as estruturas de comando e controle. E é preciso, obviamente, remontá-las”. 

A título de exemplo, emendou: “No Amazonas, que é maior do que quatro países da Europa ocidental juntos, tem duas delegacias da Polícia Federal. E essas mesmas estão sem poder operar, porque não tem recursos, não tem estrutura, não tem nada. Nesses grandes vazios demográficos do Brasil o que impera é o narcotráfico e a lavagem de dinheiro, com caça, pesca ilegal”.

Prioridades de Ciro Gomes

Ciro Gomes em Belém, quando defendeu mineração em terras indígenas (Foto: Divulgação)

O pronunciamento de cerca de 20 minutos a um pequeno público presente girou em torno de questões como a fome e a pobreza. Ciro citou as 34 milhões de crianças que passam fome no Brasil e as 125 milhões de pessoas que não conseguem fazer as três refeições básicas por dia, em um dos países que mais produzem e vendem alimentos no mundo. 

Lembrou que 70 de cada 100 trabalhadores estão desempregados ou na informalidade, sendo que os segundos dedicam de 60 a 70 horas por semana ao trabalho, quando deveriam cumprir jornada de 44 horas, segundo a legislação trabalhista. “O mais grave que está em jogo: com a informalidade, estamos mandando para a velhice pessoas com necessidade de medicamentos mais caros e sem garantia de aposentadoria. Serão 60 milhões de brasileiros em 15 anos”, destacou.

O presidenciável Ciro Gomes enfatizou que existem, no país, 66 milhões de pessoas humilhadas. “São 80 de cada 100 pessoas que têm seu nome no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito). Será que todo o povo brasileiro é desonesto? Isso é a nova escravidão”, definiu. Usando o mesmo paralelo, ele mencionou as seis milhões de empresas endividadas.

No intuito de mostrar que a situação atual da população é consequência de uma decisão política do atual governo, Ciro Gomes comparou os R$ 500 bilhões que foram repassados aos banqueiros, nos últimos 12 meses, com R$ 300 bilhões destinados a todos os outros setores, como saúde, educação, segurança e infraestrutura.

O presidente do MDB no Pará, Jader Filho, dividiu o palco do ato eleitoral com os pedetistas. Apesar de ter a senadora Simone Tebet como candidata à Presidência, o partido do senador Jader Barbalho foi contemplado com o apoio do PDT no Pará para a reeleição do atual governador, Helder Barbalho, que acompanhou, quase simultaneamente, as agendas dos presidenciáveis Lula e Tebet no início do mês, em Belém. Ciro reforçou o pedido de votos a Helder, que estava em campanha no interior do Estado.

Após a rápida passagem por Belém, o pedetista seguiu para Macapá (AP), onde também participou de um ato da campanha eleitoral. 

“O sextou de hoje foi do jeito que a gente gosta – com muita andança pelo país e muita conversa com o nosso povo”, disse nas redes sociais.

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