Por Flavia Rocha-Mello
@flaviarmello
Há 78 anos, no dia 27 de janeiro de 1945, o exército soviético libertou os prisioneiros da Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia. Naquele momento havia milhares de homens, mulheres e crianças sofrendo nas mãos dos nazistas. Acredita-se que mais de 3 milhões de pessoas morreram no maior campo de concentração, que funcionou a partir de 1940. Enquanto judeus, ciganos, negros e outros perseguidos pelo regime eram condenados ao trabalho forçado, morriam de fome, doenças ou nas câmaras de gás, o mundo fingia que não sabia o que acontecia por ali. O genocídio ocorria nas barbas de todos, mas tentam contemporizar falando que havia uma guerra mundial e que não tinham como saber o que ocorria além das trincheiras.
Em 2023, um novo genocídio é descoberto, o dos Yanomami, e agora nem há a desculpa de uma guerra. Durante 4 anos o Brasil foi governado pelo governo da morte, quase 700 mil pessoas morreram vítimas da Covid-19. Enquanto isso, o Povo Yanomami era vítima do descaso do poder público, garimpeiros ilegais poluíram rios, a malária se alastrou, a fome matou.
Segundo as primeiras informações, nos últimos 4 anos, 570 crianças morreram, um aumento de 30% quando comparado aos quatro anos anteriores. As cenas são dignas de Auschwitz, adultos e crianças transformados em esqueletos. O Ministério da Saúde, sob o governo de Luiz Inacio Lula da Silva, decretou emergência em saúde pública no território Yanomami.
O que ocorreu em Roraima não foi uma negligência, foi um genocídio calculado.
Exterminar os indígenas que vivem em uma terra cheia de minérios era um plano macabro. O ex-presidente Jair Bolsonaro sempre se colocou contra os povos originários. Em 1992, quando ainda era deputado federal, apresentou projeto contra demarcação de terra Yanomami. Ele chegou a questionar a nacionalidade dos que viviam ali. Em 2018, durante a campanha presidencial atacou ou quilombolas e prometeu que não iria demarcar nenhuma terra indígena, promessa cumprida durante os 4 anos de seu governo. Saúde e assistência foram negados deliberadamente, pedidos de ajuda, ignorados.
Porém, desde o dia 1º de janeiro há no Brasil um novo governo, com a intenção de cuidar do povo brasileiro. E é o que vem acontecendo desde a semana passada. No sábado, o Presidente foi até Roraima ver a situação relatada, e o que encontrou foi pior que o imaginado. De pronto, o governo agiu. Alimentos foram distribuídos, um hospital de campanha está sendo instalado, profissionais de saúde foram enviados para lá. Tudo para tentar reverter uma situação de total descaso. Somente nos primeiros dias já foram atendidos mais de mil indígenas com desnutrição severa, uma idosa morreu após a chegada do socorro, tão grave era a condição de saúde.
Além de cuidar, o governo quer mais: É preciso punir quem causou tanto mal. A Polícia Federal já abriu inquérito para investigar suspeitas de genocídio e omissão de socorro aos Yanomami. Como ocorreu depois de 1945, quando os mandantes do genocídio que sobreviveram à guerra foram caçados, punidos e presos. O Tribunal de Nuremberg foi um exemplo para o mundo. Não se pode banalizar o Mal. Agora também é preciso punir, não se pode deixar passar este crime. O julgamento dos comandantes do genocídio é urgente. E não é hora de contemporizar: genocídio não ocorre só por ação, mas também por omissão.