Duas crianças Yanomami morrem sugadas por máquinas do garimpo em Roraima

Uma criança segue desaparecida após ter sido "cuspida" e levada pela correnteza de rio
Rios que cercam comunidades indígenas em Roraima estão contaminados pelo mercúrio do garimpo ilegal. (Foto: Reprodução / divulgação)

Duas crianças indígenas Yanomami morreram após serem sugadas e “cuspidas” na correnteza de um rio tomado por maquinário e balsas de um garimpo ilegal na última terça-feira, 12, no município de Alto Alegre, em Roraima.

Segundo nota da Hutukara Associação Yanomami (HAY), dois meninos, de 5 e 7 anos, brincavam no rio que banha a comunidade Makuxi Yano, região do Parima, Terra Indígena Yanomami, quando foram arrastados. A associação entrou em contato com o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-Y), que acionou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e solicitou apoio ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y), mas ambos não tinham se manifestaram. O Corpo de Bombeiros também foi acionado. 

O primeiro corpo, de um menino de 5 anos, foi localizado na manhã do dia 14 pela comunidade. O segundo segue desaparecido. “A morte de duas crianças Yanomami é mais um triste resultado da presença do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que segue invadida por mais de 20 mil garimpeiros. Até setembro de 2021, a área de floresta destruída pelo garimpo ilegal na TIY superou a marca de 3 mil hectares – um aumento de 44% em relação a dezembro de 2020”, explica a nota assinada por Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara. 

Somente na região do Parima, onde está localizada a comunidade Makuxi Yano e uma das mais afetadas pela atividade ilegal, foram atingidos 118,96 hectares de floresta degradada, um aumento de 53% sobre dezembro de 2020, informa a liderança Yanomami. 

Além das regiões já altamente impactadas, como Waikás, Aracaçá e Kayanau, o garimpo avança sobre novas regiões, como Xitei e Homoxi, onde a atividade teve um aumento de 1000% entre dezembro e setembro de 2021. 

“O Fórum de Lieranças da Terra Indígena Yanomami se reuniu em setembro para trazer a voz da floresta e já dissemos: o aumento da atividade garimpeira ilegal na TIY está refletindo em insegurança, violência, doenças e mortes para os Yanomami e os Ye’kwana”, lembra Kopenawa. 

“As autoridades brasileiras precisam continuar atuando para proteger a Terra-Floresta e impedir que o garimpo ilegal continue ameaçando nossas vidas”, finaliza o vice-presidente da HAY. 

Procurados pela reportagem, Funai, Dsei-Y, Ministério da Defesa e Ministério do Meio Ambiente não responderam os questionamentos. 

Já são 4 crianças Yanomami mortas pelo garimpo em seis meses

Outras duas crianças, de 1 e 5 anos, morreram afogadas após caírem no rio enquanto fugiam dos disparos de garimpeiros armados que invadiram a comunidade Yakepraopë em maio, na região do Palimiu, também em Roraima. Pelo menos quatro das 15 comunidades indígenas que compõem a região, na Terra Indígena Yanomami, foram atacadas por garimpeiros ilegais nos últimos meses: Yakepraopë, Maikohipi, Korekorema e Tipolei.

O clima de ameaças persegue os Yanomami desde o dia 27 de abril, quando os indígenas interceptaram uma carga de quase mil litros de combustível para aeronaves do garimpo que descia o Rio Uriracoera, principal via de acesso aos garimpos ilegais da região. Desde o episódio, os invasores perseguem, agridem, ameaçam e atacam com balas e bombas de gás lacrimogêneo os povos originários do Palimiu. 

COMENTÁRIOS

5 respostas

  1. Um crime anunciado, mais mortes caem no colo de Bolsonaro pois este governo faz vista grossa para o garimpo ilegal. O IBAMA, a FUNAI e outras instituições que deveriam i.pedur isto com rigor, estão sendo comandadas por cúmices de Bolsonaro, gente sem competência colocadas lá exatamente para não tomar nenhuma providência.

  2. As autoridades, precisam proibir o garimpo ilegal…a floresta pede socorro e os povos originários tbem.
    #NãoAoMarcoTempo
    ral
    #PL490Não

  3. Estes crimes bárbaros continuarão impunes?
    #foragarimpoilegal
    #VidasIndígenasImportam
    #ForaBolsonaro

  4. Vergonha de ser brasileira e assistir ao genocídio dos povos originários dessa terra. Ninguém vai fazer nada? Governo sem vergonha, que defende e protege garimpeiros invasores das terras indígenas.

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