Domingo de eleições aumenta isolamento de Bolsonaro na América do Sul

Com eleições presidenciais em Argentina e Uruguai e eleições regionais na Colombia, o último domingo (27) foi decisivo para o futuro político da América do Sul. Em disputa, estiveram representantes da recente “onda azul”, que reconduziu a direita ao poder em diversos países na região, representantes dos governos progressistas que prevaleceram nos primeiros anos 2000 e alguns movimentos de renovação política.

Na Argentina, principal parceiro econômico do Brasil no continente, o presidente Maurício Macri, da conservadora Juntos pela Mudança, assistiu a uma ampla rejeição de suas políticas neoliberais e de sua guinada à direita ao estilo bolsonarista durante a campanha, quando defendeu jargões como a “família tradicional” e abusou da denúncia de um “perigo vermelho” para enfraquecer seus adversários. Com mais de 95% das urnas apuradas, já era certo que ele tinha perdido a eleição em primeiro turno por uma diferença de 8 pontos para Alberto Fernandez, o ex-chefe de gabinete da ex-presidenta Cristina Kirchner, que também voltará ao poder na condição de vice-presidenta pelo partido peronista. Das 23 províncias do país, Macri só não perdeu em 5. Sendo que uma de suas derrotas foi na província de Buenos Aires, a mais populosa do país, onde a governadora Eugenia Vidal foi amplamente preterida pelo ex-ministro da fazenda de Cristina, Axel Kicilof.

Em seu discurso da vitória, Alberto Fernandez defendeu a adoção de políticas econômicas que priorizem a geração de empregos e, ainda, pediu pela libertação de Lula.

No Uruguai, outro membro do Mercosul que votou para presidente, Daniel Martínez, da Frente Ampla, o partido do ex-presidente Pepe Mujica, também teve cerca de 40% dos votos, largando bem a frente do direitista Luis Lacalle Pou, que teve 28%. Os dois agora disputarão um segundo turno onde serão decisivos os votos dos demais candidatos. Um dos destaques foi a boa performance da frente esquerdista na capital Montevideo, que concentra boa parte da população uruguaia, em contraste com boas votações dos opositores nas áreas mais rurais do país.

Na Colômbia, depois de cerca de 1 ano e meio das eleições presidenciais que terminaram com a vitória de Ivan Duque, aliado do ex-presidente Alvaro Uribe, representantes da direita de linha dura, a oposição ganhou espaço e venceu nas três principais cidades, Bogotá, Medelín e Cali. Na capital, cuja adminsitração é considerada a segunda mais importante no país, seguida do cargo de presidente, a centro-esquerdista Claudia López, da Aliança Verde, fez história ao se tornar a primeira mulher eleita para o cargo e a primeira pessoa assumidamente LGBT. Sua sigla agora é considerada a principal opositora do presidente, que no geral amargou derrotas em quase todos os departamentos do país. Outro destaque foi a eleição do primeiro ex-guerrilheiro das FARC, Guillermo Torres, conhecido como Julián Conrado, na cidade de Turbaco (Bolívar).

Os resultados evidenciam o isolamento do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que chegou a dar declarações hostis contra o peronismo, na Argentina, e que agora assiste líderes que adotam políticas econômicas como as suas sofrerem duras derrotas. Até em países onde a direita continua no poder, como é o caso do Chile e da Colômbia, os mandatários têm procurado manter distância de Bolsonaro, que é reconhecido pelos eleitores locais como um extremista que gerou resultados pífios na economia e rápida deterioração de indicadores sociais. As recentes declarações que deu com simpatia pelas ditaduras de Alfredo Strossner e Augusto Pinhochet, em Paraguai e Chile, também contribuíram para péssima imagem na região, causando enorme constrangimento nesses países onde não há espaço para defesa dos regimes militares.

Se confirmado o favoritismo de Martínez, no Uruguai, Bolsonaro passará a estar obrigado a conviver com um Mercosul majoritariamente de esquerda e que reconhece Lula como um preso político e, no geral, com uma América do Sul em que nem mesmo a direita deseja fazer fotografias e ter seus partidos associados a seu nome.

Rodrigo Veloso – Bacharel em Relações Internacionais e militante da esquerda fluminense

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

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