Dilma em Madrid: “A desigualdade no Brasil tem a face dos negros, das mulheres e das crianças e jovens”

Bruno Falci, de Madri, especial para o Jornalistas Livres,

A ex-Presidenta Dilma Rousseff, esteve no dia 25 de setembro em Madrid para participar do evento Diálogos Feministas, na representação do Parlamento Europeu. O Jornalistas Livres transmitiu, direto da capital espanhola a mesa de conversa que contou também com a participação de Maria Eugênia Rodriguez Palop, deputada do Podemos no Parlamento Europeu.

Diante de um grande e participativo público, Dilma iniciou com ênfase sua fala:
“Quero começar dizendo que eu devo falar sobre a situação dramática do país, dramática para as mulheres, até porque fizeram de nós um dos instrumentos mais duros do fascismo brasileiro que é nos transformar naquelas que destruíram a família. Pelo contrário, a experiência dos governos Lula e meu demonstram  que, no Brasil, qualquer política, seja ela social, cultural, de saúde e educação tem que manter um eixo, principalmente o que visa acabar com a miséria e a pobreza. Esse eixo significa que teríamos que cuidar dos negros – porque a desigualdade no  Brasil tem uma face negra e é uma face de mulher, sobretudo é uma face de crianças e jovens”
“Por isso, acrescenta Dilma, todas as principais políticas sociais que empreendemos foram centradas na mulher, naquela mulher que sustenta a sua família. 30% das famílias brasileiras têm como cabeça só uma mulher. A destruição das relações familiares têm a ver também com a miséria e a pobreza extrema. Então, todas as nossas políticas de distribuição de renda, por exemplo, Bolsa Família, era destinada às mulheres através de um cartão que ela utilizava no banco.Nós pudemos fazer uma política para 56 milhões de pessoas porque concentramos nossa política na capacidade das mulheres, com o mínimo de alimentação para seus filhos.”

Dilma Rousseff e a deputada Brasileira na Espanha , Maria Dantas . Foto: Bruno Falci / Jornalistas Livres

Neste sentido, Dilma ressaltou que mesmo no que refere à habitação – o projeto Minha Casa Minha Vida – garantia que a titularidade para a mulher e não para o homem.
“ O homem poderia ter uma titularidade acessória, mas a principal titularidade teria que ser para a mulher, justamente por causa de seu papel estratégico”

Segundo Dilma, há uma pauta específica dedicada às mulheres que deve ser enfatizada, porque há uma tragédia no Brasil que é a violência doméstica como produto do patriarcado. “Tomei algumas iniciativas de legislação – a Lei Maria da Penha ( o nome de uma mulher que se tornou paraplégica por seu companheiro), uma lei do feminicídio que torna crime hediondo r inafiançável o assassinato de mulheres.
Outro aspecto de políticas públicas voltadas para as mulheres foram as que obrigavam os hospitais a fazer tratamento para as vítimas de estupros e as cirurgias reparadoras. “Esse processo culminou com a Casa das Mulheres Brasileiras. Era onde as mulheres poderiam ter assistência, recorrer às delegacias, varas de justiça exclusivas. Fizemos uma aposta política nos direitos das mulheres”.           Dilma disse também que, no final de seu governo, 37% dos formandos nas universidades eram os primeiros de suas famílias a obterem um diploma, a ter acesso à educação superior e que metade era constituída por mulheres.
“As mulheres têm uma capacidade de mobilização que é diferente, porque elas percebem que é possível mudar a situação e elas têm uma visão mais comunitária; Não estou desfazendo de nossos companheiros homens, mas da forma pela qual a distribuição de trabalho opera em nossas sociedades”.
Outra questão abordada pela ex-presidente foi a Amazônia, que ela considera como algo à parte da sioberania.

“O Brasil só tem soberania se defender a Amazônia, onde vivem 20 milhões de brasileiros. A Amazônia faz parte do coração do Brasil. Só é patrimônio da humanidade porque é do Brasil. Nós defendemos a Amazônia com vários instrumentos. Não podemos colocar um indígena a cada quilômetro Só conseguimos por um sistema de satélites, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que tem quatro programas. Bolsonaro mente quando diz que são as populações indígenas que fazem desmatamento e queimadas. A questão da Amazônia tem a ver com o duplo caráter do governo brasileiro neofascista e neoliberal. o neoliberalismo é contra a Amazônia, assim como a política de austeridade que tira os direitos de educação, de saúde, de meio-ambiente, de ciência e tecnologia”.
Dilma abordou também a situação da recente reforma da Previdência, que retirou esses direitos e instituindo o trabalho precário como norma, lembrando que o trabalhador mais pobre que é objeto do trabalho precário não terá tempo para de aposentadoria.

Foto: Bruno Falci / Jornalistas Livres

 

Dilma acrescentou que o fascismo sempre usou a violência como forma de controle, citando dois casos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro: de um lado a morte da vereadora Marielle Franco, executada por milicianos em 2018, e, de outro, o assassinato de Agatha Félix, uma menina de oito anos, vítima recente de uma ação policial em comunidade popular
“Assim criaram o decreto do porte de armas, que libera o uso de armamentos para todos, e a lei anticrime, que cria uma figura excludente de ilicitude, que significa que um policial que matar em serviço não é  julgado nem punido. Eles dizem que o Brasil é um país violento, mas é tanto mais violento enquanto houver miséria e pobreza, jovens e crianças fora dos quadros da educação. Há também a questão do combate ao crime organizado. Bolsonaro quer combater o crime organizado organizando o crime”.
Dilma coincluiu afirmando que algumas populações são mais vulneráveis que outras, mas também há algumas que têm lideranças mais ativas. Neste quadro, estão presentes as mulheres.

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