Por José Roberto Torero
Diário, uma coisa muito divertida que aconteceu esses dias foi a perseguição ao Lázaro, um jagunço lá de Goiás.
Mais de duzentos policiais perseguiram o cara e meteram mais de trinta balas no sujeito. Isso foi ótimo para os fazendeiros que contratavam o Lázaro, porque assim ninguém pode investigar mais nada.
Eu até elogiei a ação e tuitei “CPF cancelado”, que é um jeito miliciano de comemorar morte de inimigo. O meu público adora um assassinatozinho.
Pois bem, o Roberto Dias, diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, tem que ser transformado em Lázaro.
A culpa tem que ir toda pra ele. Nos casos da Covaxin, da CanSino e da Davati.
Assim não chegam no Ricardo Barros. E aí eu vou poder dizer: “Os irmãos Miranda vieram acusar o Barros, mas o culpado era o Roberto Dias. Eu fiz muito bem em não tocar a investigação pra frente, porque era uma calúnia contra o meu nobre líder do governo na Câmara.”
O melhor mesmo era que o Roberto escapasse, mas agora apareceu um empresário que contou todo o esquema pra Foice de S.Paulo. Aí não vai ter jeito. Ah, não se fazem mais empresários como antigamente…
Quando existe um subalterno envolvido, tem duas saídas: a saída Queiroz e a saída Adriano/Lázaro.
Às vezes o cara escapa. Às vezes, tem que ser sacrificado.
O Ricardo Barros já tratou de dizer que não indicou o Roberto Dias. Eu já falei que não consigo saber tudo o que acontece nos ministérios. E a notícia de que vamos exonerar o Roberto já saiu ontem.
Quem sabe a gente não empurra a culpa pro Mandetta? Foi na gestão dele que o Roberto ganhou o emprego, pô!
É, acho que a saída é botar o Roberto no meio do tiroteio, Diário.
Vão-se os dedos, ficam os anéis. E as pulseiras de ouro e os relógios Rolex também.
José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.
