Diário do Bolso: os versos do aniversário de um ano de desgoverno

um ano de desgoverno

Por José Roberto Torero*

Estou tão emocionado

com meu primeiro aniversário,

queresumi tudo em versos

parati, ó meu Diário.

 

Um ano de presidência!

Meu Deus, que ano feliz!

Tudo que os outros fizeram

este ano eu desfiz.

 

Batatinha quando nasce,

esparrama pelo chão,

oBolso quando governa,

épura demolição!

 

Não me importa a Amazônia,

quero mais que tudo queime,

vou matar índio e criar gado,

quero ser um John Wayne.

 

Se tem número ruim,

é intriga da oposição,

seja IBGE ou FioCruz,

ou o Inpe do Galvão.

 

Se meus segredos perguntam,

fico meio agressivo.

Nunca direi quanto gasto

no cartão corporativo.

 

Caprichei no Twitter,

fiz um trabalho sem igual.

O ano todo, fakenews,

Golden Shower no carnaval.

 

Ciranda, cirandinha,

vamos todos cirandar,

aquinão existe fome,

criança tem que trabalhar.

 

O peixe desvia do óleo

porque é bicho inteligente.

Cocô só em dia par

salva o meio-ambiente.

 

Fala Ernesto Araújo

que aquecimentoé marxismo.

E o Olavo de Carvalho

diz: “Viva o terraplanismo!”

 

O Weintraubescreve errado,

troca “acepipes” por “asseclas”,

masquem nunca se confundiu

com todas estasteclas?

 

Menina só usa rosa,

e assim beleza esbanja,

meninoprefere azul

eo Queirozveste laranja.

 

Meus filhos são meu orgulho.

Dudu é quase bilíngue,

etirou dez no estágio

na chapa do Burger King.

 

Falam muita maldade

da minha criação:

queFlávio adora rachadinha,

eCarluxo não gosta, não.

 

A Greta é pirralha,

amulher do Macron, um jaburu.

Paulo Freire é comunista!

Trump, I sólove you!

 

Sou um liberal,

isso canto aos quatro ventos,

só de agrotóxico

libereiuns quatrocentos.

 

Gasolina, dólar e carne

são a causa dos meus ais,

pois não param de disputar

para ver quem sobe mais.

 

Atirei o pau no gato,

mas o gato não morreu.

Na reforma da Previdência

só general não se fodeu.

 

Agora chega,

já cansei,

e se fizer muito verso,

vão dizer que eu sou gay.

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

@diariodobolso

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. 1 ano de “desgoverno” traduzindo: 1 ano sem o rei de sodoma e seus seguidores devasos governado o Brasil

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