Diário do Bolso: censura à propaganda do Banco do Brasil e o novo comercial

Por José Roberto Torero*

Diário, mandei suspender um reclame do Banco do Brasil em que aparecia um traveco. Ou será que era uma machona? Sei lá, tanto faz. O negócio é que não era uma mulher de verdade. 

E daqui pra frente vou ver todos os comerciais para não deixar passar nada gayzístico. O Brasil é terra de homem, pô!

É que nem eu disse no café da manhã com os jornalistas: O país não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay. Mas quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. 

Pensando nisso, até escrevi um reclame. Ele começa assim: 

1. Selva. Exterior. Dia.

Pablo Vitar (vestido de rosa, com muitas plumas) e uma mulher pelada (bem bonitona, com uma bundona daquelas e close na chavasca) correm pela mata. Eles atravessam um riacho, pulam sobre troncos caídos, se esgueiram entre galhos. Os dois estão meio desesperados. As plumas do Pablo Vitar de vez em quando engancham nos ramos e vão deixando rastros pelo caminho. 

2. Cabana na mata. Exterior. Dia. 

Há uma fila onde estão, usando aqueles uniformes camuflados do exército, o Olavo, o Ernesto de Araújo, o 01, o 02, o 03 e a Damares. Todos seguram rifles. No fim da fila está o Trump. Ele usa bermuda azul com estrelas brancas, uma camisa florida e, em vez de rifle, segura uma daquelas redes gigantes de caçar borboleta. Eles estão em fila e eu, com roupa de general, ando em frente a eles e digo: 
– Cada um sabe o que tem que fazer. Vamos à caça! Já!
E aí eles saem correndo em direção à mata.

3. Mata. Exterior. Dia

Cenas alternadas dos caçadores e dos fugitivos correndo pela mata. O Olavo acha uma pluma do Pablo. Lambe a pluma e aponta a direção para os outros. Todos saem correndo no sentido indicado. 

4. Clareira na mata. Exterior. Dia.

A peladona e Pablo Vitar (agora já com as plumas todas rasgadas, com o bilau aparecendo, que nem no vídeo do golden shower) chegam ao meio de uma clareira. Estão bem cansados e param para respirar. Então, de todos os lados da clareira surgem os caçadores, que apontam suas armas para a dupla. Pablo e peladona percebem que foram cercados. Eles estão com muito medo. De repente, a rede de caçador cai sobre a peladona e Trump sorri. Na sequência, Damares grita “Menino usa azul!” e os caçadores disparam suas armas. Bam-bam-bam-bam!

5. Salão de caça. Interior. Dia.

Num salão de caça bem grande, daqueles com lareira, temos a cabeça de Pablo Vitar na parede. Ao lado dele há outros pervertidos famosos, tipo Roberta Close, Elton John, George Takei (pô, eu até gostava dele no Jornada das Estrelas), Ney Matogrosso, Laerte, Lea T, etc…
Abaixo das cabeças estão nossos caçadores. Todos sorrindo, com cara de dever cumprido. E à frente deles estamos eu, a peladona e o Trump, que ainda prende a mulher com a rede de caçar borboleta. Aí a câmera dá um close em mim. Eu faço um revolvinho e digo: 
– No Brasil está aberta a temporada de caça aos viados. Mas se quiser comer mulher, seja bem-vindo.
Então o Trump dá uma piscadinha e FIM.

Tá vendo, Diário? Dá para fazer reclames decentes. É só pensar um pouco.

@Diário do Bolso

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

 

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