Diário do Bolso: a falcatrua nos números do Paulo Guedes

José Roberto Torero*

Pô, Diário, logo agora, na véspera de votar essa porcaria da Previdência, uns professores da Unicamp descobriram a falcatrua nos números do Paulo Guedes.

Mas tudo bem, porque isso só vai sair na Carta Capital e nuns sites de esquerda, e aí ninguém vai ver.

As seis centrais sindicais até estão fazendo barulho, pedindo a suspensão da votação de hoje. Mas central sindical é que nem carro velho: faz barulho mas não sai do lugar.

Olha, Diário, o trabalho foi bem feito. Coisa de profissional. O Paulo Guedes tinha uma tese e aí o pessoal dele fez os números darem o resultado que ele queria. Número é assim mesmo, volúvel. Você pega um 9, vira de cabeça para baixo e tem um 6. Põe um 3 na frente de outro e tem um 8.

Em abril, o governo decretou sigilo sobre os dados que embasaram a Nova Previdência. Mas aí o Paulo Guedes quis dar uma de bonzinho e liberou parte das informações. Mesmo sem as planilhas com a memória de cálculo, os unicampistas comunistas perceberam as maracutaias.

Por exemplo, para calcular o custo de uma aposentadoria por tempo de contribuição, o governo usou os números de uma aposentadoria por idade mínima. Só aí já ferrou tudo.

Pra piorar, a turma do Posto Ipiranga também calculou o déficit da aposentadoria por idade mínima usando o pico e não a média dos salários. Aí enlameou de vez.

Botaram água na gasolina, kkk!

Tem também um monte de outros “errinhos” que eu não vou explicar aqui porque esse negócio de economia me dá gastrite. O que importa é que o Guedes fez parecer que a coisa estava pior do que estava e que ia ficar melhor do que vai ficar.
Foi uma mentirinha inocente, tipo o kit gay.

Esses números foram usados nas apresentações que o Rogério Marinho, secretário especial da Previdência, fez para a imprensa e na Câmara dos Deputados.

Se político tivesse vergonha na cara, ia pedir que recalculassem o treco inteiro. Mas é tudo cara de pau. A gente usa óleo de peroba em vez de creme de barbear, kkk!

A lei vai passar. As emendas parlamentares já foram pagas e não tem ninguém gritando na rua.

 

Diário, ainda bem que eu me aposentei aos 33 anos.

Minha pensão acima de tudo. Eu acima de todos!

 

@diariodobolso

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. Você está corretíssimo, José Roberto. Toda a aprovação da “reforma da Previdência” foi embasada em falsas informações e números também falsos. A propaganda institucional, a mídia comprometida e o “toma lá dá cá” fizeram o resto do serviço. Conto isso em meu livro “Reforma da Imprevidência: O Mantra da Persuasão”, que teve a “estrondosa venda” de 8 exemplares (3 deles para mim mesmo, rs, rs, rs). O livro é seríssimo e fartamente documentado, mas sem dinheiro para divulgação, só poderia dar no que deu (já era esperado, porque também o ofereci gratuitamente). Já na versão gratuita, tivemos mais de 450 acessos, mas isso não representa nada. Se for do seu interesse, veja o book trailer do livro aqui https://www.youtube.com/watch?v=Uc3TIublJ_E&feature=youtu.be e se quiser baixar gratuitamente, este é o link: https://ivosgreis.prosaeverso.net/ebooks.php
    Parabéns pela matéria!

POSTS RELACIONADOS