Diário de um motoboy de aplicativo em tempos de coronavírus

Paulo Roberto é motoboy de aplicativo. Trabalha para Uber Eats, iFood e Rappi e sustenta a família com as entregas de comida. Paulo Roberto não tem direitos trabalhistas. Não tem folga. Não tem férias. Se não trabalha, não ganha. Se a moto quebra, azar dele. A partir de hoje, Paulo Roberto gravará uma série de vídeos, contando como é a vida de um motoboy de aplicativo em tempos de coronavírus.

“Andamos por aí, todos sem acesso a álcool em gel em nosso trabalho. E não nos foi dado nenhum auxílio pelos aplicativos, nem mesmo informação. A única coisa que nos enviaram foi uma mensagem, dizendo que o cliente pode escolher não ter contato com o motoboy e que não devemos tocar na comida ao fazer a entrega.”
“Estamos sendo tratados como lixo pelos aplicativos. Como diz letra do ‘Diário de um Detento’, dos Racionais MCs, somos descartáveos no Brasil. Como modess usado ou Bombril. Se um de nós morre, ok, tem mais 10 favelados precisando.”

Paulo Roberto está indignado. Ontem (21/3), a moto dele quebrou quando ia fazer uma entrega pelo Uber Eats. Ele avisou o aplicativo, mas o Uber não quis nem saber: “Me puniu, me bloqueando. E eles sabem que muitos de nós não têm outra renda para garantir nossas famílias nessa quarentena.”

“O país precisa da gente mais do que nunca nesse momento, assim como precisa dos lixeiros e do pessoal da saúde. Mas nos sentimos como os músicos do Titanic: o barco tá afundando, mas a música não pode parar”, diz Paulo Roberto. “Somos invisíveis. Ninguém fala da gente.”

É verdade. Você, que nos lê agora, por exemplo, já perguntou pra um entregador de aplicativo como ele está? Já se dispôs a saber como ele vive? Você é capaz de dar um sorriso? De agradecer? Você dá uma gorjeta? Já se interessou por esse irmão que arrisca a vida diariamente para que vc não precise cozinhar ou ir a um restaurante?
Precisamos falar sobre essa nova modalidade de escravidão, inventada pelo capitalismo do século 21.
Por isso, é com muita honra que os Jornalistas Livres publicam a partir de hoje os vídeos de Paulo Roberto. Ele transmitirá para todos os relatos desses trabalhadores destituídos de todos os direitos trabalhistas, que lutam heroicamente pela sobrevivência de suas famílias, seja sob o frio inclemente, debaixo de tempestades, enfrentando o trânsito caótico e a violência da cidade.

Fala, Paulo Motoboy!

 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornalistas Livres

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Nas empresas não está diferente também acham que somos imunes ao vírus não se preocupam se vamos contrair e levar pra dentro de casa

  2. Só sei de uma coisa: que o ser humano não está valendo nada e o dinheiro valendo tudo. Infelizmente, como diz a palavra de Deus, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará. Ame menos o dinheiro e mais a vida do próximo.

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