Dia das mulheres: uma luta coletiva pela construção da história

Por Laís Vitória

 

No dia 8 de março milhares de mulheres saíram às ruas para se manifestar pelo direito de existir. Em Brasília foram cerca de 6 mil mulheres, no Rio ao redor de 10 mil. O ato ocorreu em pelo menos 33 cidades diferentes.

A principal bandeira do ato foi a morte de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 14 de março de 2018. No entanto essa não foi a única pauta abordada no evento, que foi dividido em muitas alas, entre elas: Lula Livre, Contra a Reforma da Previdência, Ala das Margaridas, Estado Laico.
A Internacional Feminista também programou uma paralisação no mesmo dia, tendo por base o Manifesto Internacional Feminista. Para assinar clique aqui: https://www.internacionalfeminista.org/

Depois do Golpe contra Dilma Rouseff, em 2016, a organização do ato, que antes era esparsa, com cada organização chamando para seus próprios protestos, se tornou unida e criou o 8M, para o ato de 2017. Segundo a secretária das mulheres do PT-DF, Andreza Silva Xavier, a organização para o ato em Brasília começou em dezembro do ano passado, e no total foram sete plenárias para organizar o evento, com participação de diversos partidos (como PSOL, PT, PCdoB) e entidades feministas (como a Marcha das Margaridas, Batuqueiras) .

Esse é o terceiro ano com ato realizado de forma mais coletiva, e o segundo ano em que não foi possível descer até a Praça dos Três Poderes, local significativo por agregar os três poderes principais em um estado democrático. A PM proibiu as manifestantes de descerem para a Praça, um espaço público que supostamente deveria pertencer ao povo, às mulheres e crianças presentes em uma manifestação pacífica. A proibição demonstra bem que o povo não alcançará os poderes (e assim direitos) pelos próximos anos do mandato de Bolsonaro.

Mesmo não alcançando os poderes, a manifestação ainda refletiu ‘a importância da construção coletiva em prol da unidade. Vivemos em um momento em que trabalhar pela unidade da esquerda é imprescindível, e as mulheres têm dado uma nítida demonstração de que nós conseguimos trabalhar em unidade. A resistência é feminista. O protagonismo das lutas fundamentais tem sido das mulheres’, enfatizou Andreza Silva Xavier, secretária das mulheres do PT-DF e professora.

Andreza Silva Xavier, secretária das mulheres do PT-DF e professora.

Já Claudia Farinha, que foi candidata a vice-governadora pelo PT-DF nessas últimas eleições, e compôs a Ala das Margaridas, concluiu que ‘estamos atravessando um momento difícil no Brasil, na qual a luta pela vida, que vem sendo retirada das mulheres tanto pela violência física como por medidas desastrosas do governo Jair Bolsonaro, requer de nós ousadia para lutar! O Cortejo do dia Internacional das Mulheres (8M) foi um marco histórico, ocupamos as ruas com muita ousadia e irreverência, mulheres plurais, petistas ou não, do campo e da cidade unidas, pautando questões centrais para as nossas vidas, de nossos direitos e pela democracia’.

Claudia Farinha

No entanto, também houve críticas com relação à construção do ato, Thelma Maria Melo é militante do PCO e do coletivo Rosa Luxemburgo: ‘A construção do ato foi marcada, como nas edições a partir de 2016, pela tentativa do PSTU e de setores do PSOL de retirar a luta das mulheres do contexto político de aprofundamento do golpe e da fraude eleitoral que colocou na presidência um fascista, maior inimigo das mulheres, por meio da prisão ilegal de Lula, que apresentava cerca de 60% de intenções de votos. Desde 2016 esses setores procuram transformar a luta das mulheres em algo à parte da luta política apresentando a ideia de que se mudarmos a forma que a sociedade vê a mulher, ou se pusermos um código de conduta para a mulher e aumentarmos a repressão, a realidade mudaria. Excluem da equação a luta de classes, o que acaba levando o movimento a ficar a reboque da burguesia defendendo o programa do partido democrata norte-americano. Elevam a última potência a questão do feminicídio e da violência contra a mulher, tal qual a Globo Golpista, a favor do aumento da repressão, opondo à repressão a luta por direitos. Para nós do Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo do PCO a solução definitiva para o problema da mulher é econômica, ou seja, a luta pela transformação da sociedade e a revolução socialista.’

Graças à diversidade de opiniões, como foi apresentado pelas falas acima, o ato foi não somente válido, como foi uma demonstração de que juntas, por mais diferentes que sejamos, com nossos diferentes feminismos, podemos construir uma nova história.

 

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