Dez das inúmeras ideias que Paul Singer semeou

Paul Singer com o logotipo dos Jornalistas Livres na lapela

(1)
“… os economistas acadêmicos do mundo ocidental estão a nos azucrinar os ouvidos o tempo todo de que é devido ao rápido crescimento populacional nos países subdesenvolvidos que há neles um tremendo desemprego disfarçado.
Dizem eles que este desemprego é fruto das elevações de salários, ou seja, do fato de que nos países subdesenvolvidos os salários são muito altos, devido a pressões políticas e sindicais.
Na realidade, os salários em países não desenvolvidos não são elevados. Porém eles são considerados altos porque há desemprego.
Aí se vê para que serve a teoria marginalista [ortodoxa]: para demonstrar que a responsabilidade pelo desemprego é dos trabalhadores que lutam por maiores salários.”
Paul Singer (1979, Curso de Introdução à Economia Política, p. 41)

(2)
“A repartição do produto entre o ‘produto necessário’ [para que os trabalhadores vivam, se reproduzam, se qualifiquem, etc.] e o ‘excedente social’ [composto por lucros, juros e rendas fora do trabalho] se dá essencialmente pela luta de classes.
Não existe nada de intrinsecamente econômico, ou ‘técnico’ como supõe a teoria marginalista [ortodoxa], na determinação do nível de remuneração do trabalho e portanto dp ‘produto necessário’.”
Paul Singer (1979, Curso de Introdução à Economia Política, p. 34)

(3)
“A inflação passa a ser o pior inimigo das economias capitalistas, conforme pregava a crítica neoliberal ao intervencionismo governamental. Deixando de lado a fundamentação pretensamente científica de suas teses, a vantagem do neoliberalismo é que ele dá prioridade à estabilidade de preços em relação ao pleno emprego e favorece as classes de renda alta e média em detrimento dos mais pobres. Estas posições, fundamentadas numa atitude hostil perante o Estado (particularmente perante suas atividades de bem-estar social), tornaram-se majoritárias eleitoralmente em vários países… Acontece que 25 anos de prosperidade com pleno emprego tornaram as classes de renda alta e média majoritárias nos países capitalistas adiantados.”
Paul Singer (2014, O que é Economia, p. 41-42)

(4)
“Como resultado [da perda de direitos dos trabalhadores e da instabilidade no emprego], ressurgiu com força cada vez maior a economia solidária na maioria dos países. Na realidade, ela foi reinventada. Há indícios da criação em número cada vez maior de novas cooperativas e formas análogas de produção associada em muito países. O que distingue este ‘novo cooperativismo’ é a volta aos princípios, o grande valor atribuído à democracia e à igualdade dentro dos empreendimentos, a insistência na autogestão e o repúdio ao assalariamento.”
Paul Singer (2002, Introdução à Economia Solidária, p. 110-111)

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“O MST [Movimento dos Trabalhadores Sem Teto] conseguiu assentar centenas de milhares de famílias em terras desapropriadas de latifúndios improdutivos. O movimento decidiu que promoveria a agricultura sob a forma de cooperativas autogestionárias, dando lugar a outra modalidade de economia solidária no Brasil. Para realizar isso, ‘criou em 1989 e 1990 o Sistema Cooperativista dos Assentados (SCA). Passados dez anos de sua organização, o SCA conta com 86 cooperativas distribuídas em diversos estados brasileiros, divididos em três formas principais em primeiro nível: Cooperativas de Produção Agropecuária, Cooperativas de Prestação de Serviço e Cooperativas de Crédito’.”
Paul Singer (2002, Introdução à Economia Solidária, p. 123)

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“O salário não tem uma determinação econômica estrita, ele depende do equilíbrio das forças em presença no mercado de trabalho, sendo o mercado de trabalho o centro de toda economia social. Um dos aspectos rotineiros, diários, da luta de classe é precisamente a determinação e redeterminação do nível de remuneração do trabalho. É uma luta constante que se faz entre o conjunto dos assalariados e o conjunto dos empregadores e é desta luta que resulta o nível de remuneração que pode crescer ou não, dependendo precisamente das contingências desta luta.”
Paul Singer (1979, Curso de Introdução à Economia Política, p. 34)

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“Obviamente se tendências como estas se impuserem [conglomerados sob a forma de firmas-rede, que operam juntas sem se fundirem e democratizando o poder], estaremos diante de uma nova etapa do capitalismo ou, quem sabe, na primeira etapa de transição para além do capitalismo. Acresce a esta possibilidade o ressurgir do cooperativismo e do que genericamente se chama ‘economia solidária’ como resposta à crescente exclusão social produzida pelo neoliberalismo. A economia solidária é formada por uma constelação de formas democráticas e coletivas de produzir, distribuir, poupar e investir, segurar. […] Elas surgem como solução, algumas vezes de emergência, na luta contra o desemprego. Ocupações de fábricas por trabalhadores, para não fecharem, saõ semelhantes a ocupações de fazendas por trabalhadores rurais sem-terra.”
Paul Singer (1998, Uma utopia militante: repensando o socialismo, p. 181)

(8)
“Na prática, isso [os ‘conselhos’ que as missões do FMI davam às economias mais fracas] significava que o FMI só concedia auxílio, isto é, empréstimos, aos governos que se comprometiam a pôr em prática medidas capazes de acabar com a inflação e o desequilíbrio no balanço de pagamentos. Essas medidas de controle monetário da inflação acabavam lançando o país em crise ou recessão econômica mais ou menos generalizada, que muitas vezes era atribuída exclusivamente às imposições do FMI. É óbvio que este [o FMI] era responsável, na medida em que não admitia nem se mostrava capaz de imaginar qualquer outra política que não fosse o monetarismo mais orotodoxo.”
Paul Singer (2014, Aprender economia, 25. ed., p. 135)

(9)
“Portanto, as economias capitalistas atuais [em 1998], inclusive a brasileira, continuam sob regulação inflacionária. A preocupação em impedir que a inflação se descontrole continua comandando as políticas monetária e financeira e continua sendo o principal critério que justifica políticas fiscais restritivas. É muito provável que o desempenho da economia mundial esteja sendo tão decepcionante – as taxas de crescimento são cada vez menores, dos anos 1970 aos 1990 – porque os mercados financeiros autonomizados tẽm horror a políticas que consideram ‘inflacionárias’ e punem com a retirada de capitais os países cujos governos são suspeitos nesta matéria.”
Paul Singer (2014, O que é Economia, 7. ed., p. 62)

(10)
“Para além do neoliberalismo, pode-se vislumbrar transformações sistêmicas do capitalismo em gestação. Por enquanto, empresa capitalista e democracia são antípodas. Estamos diante de um dilema histórico: ou a liberdade do capital destrói a democracia ou esta penetra nas empresas e destrói a liberdade do capital.”
Paul Singer (1998, Uma utopia militante: repensando o socialismo, p. 182)

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