Após receber mensagens com ameaças de morte em suas redes sociais, a deputada estadual Andréia de Jesus, do Psol, decidiu registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil de Minas e pedir proteção à Polícia Legislativa. A parlamentar é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e vem defendendo a abertura de uma investigação sobre a ação policial que resultou na morte de 26 homens em Varginha, no Sul de Minas, na madrugada do último domingo. “Vamo lhe matar. Seu fim vai ser igual ao da Mariele. Pra tu ficar de exemplo”,dizia uma das mensagens. Mariele, no caso, diz respeito a Marielle Franco, vereadora, também do Psol, assassinada no Rio de Janeiro em 2018.
“A Comissão de Direitos Humanos acolheu minha denúncia e eu tornei público o ocorrido. Em seguida, todas as minhas redes sociais foram invadidas por extremistas distorcendo a minha fala, com comentários de ódio e desrespeito. E, por fim, surgiram ameaças contra a minha vida”, afirmou Andréia de Jesus. Segundo ela, os ataques vieram de 35 perfis em suas redes sociais e de ligações feitas ao seu gabinete na Assembleia, que somam 3 horas de duração. “Primeiro com xingamentos, frases racistas, tentando amedrontar ou diminuir meu papel como parlamentar. Estamos vivendo um momento de antidemocracia, então essa ameaça é também um questionamento ao papel dessa comissão. É uma tentativa de impedir nosso trabalho”, afirmou a deputada.
“Sou presidenta da comissão e nesses 300 anos é a primeira vez que temos mulheres negras assumindo essa importante cadeira. A comissão tem uma história na Assembleia, é a comissão que mais tem diálogo e está mais próxima do cidadão. Chegaram muitos xingamentos, mas também ameaças à vida, ameaças à minha família e ataques à memória de Marielle Franco, vereadora de meu partido que até hoje não teve seu assassinato brutal esclarecido”, disse Andréia.
Desconfiança
O estranho caso de mortes de 26 supostos assaltantes de bancos ocorrida em dois sítios em Varginha vem provocando desconfiança e questionamentos, principalmente pelo fato de nenhum policial ter saído sequer ferido durante um intenso “tiroteio”. Por enquanto, o Departamento de Medicina Legal tem divulgado apenas dados relativos à identificação dos mortos, a maioria originários de Uberlândia e Uberaba, no Triângulo Mineiro. A expectativa é de que a perícia indique a distância em que foram efetuados os disparos de tiros, assim como a posição em que os corpos estavam quando foram atingidos. Isso poderá esclarecer se houve execução sumária.
Chama atenção ainda, o fato de que ninguém foi preso na ação. De acordo com autoridades de segurança, os 26 homens baleados chegaram a ser socorridos com vida, “mas morreram após receberem atendimento médico”. O Ministério Público formou uma comissão para investigar como se deu a ação policial, já que falta transparência sobre o caso.
“Por que não foi possível evitar as mortes? Qual é a avaliação feita no momento da operação de que a única forma de apreender as armas era matando as pessoas que estavam ali naquele lugar?”, questionou a deputada Andréia de Jesus. “O objetivo finalístico da polícia, na operação policial, é prender os suspeitos e apreender os possíveis instrumentos que estivessem lá, no caso, as armas. O principal para a gente é: por que não foram preservadas as vidas? A gente está buscando que a polícia responda isso”, disse. A Polícia Militar alega que nenhum policial ficou ferido devido à “técnica, tática e treinamento” da equipe policial.